#Kirby25th: John Kirby: Um advogado com formato de amigo

John J. Kirby Jr. esteve junto à Nintendo quando ela mais precisou.

em 16/04/2017


Não é todo dia que damos enfoque para pessoas que apenas margeiam a indústria dos jogos. Não nego que esta coluna esteja quase sempre dedicada a diretores, desenvolvedores e artistas, mas a excepcionalidade do caso de John J. Kirby Jr. o faz merecer um espaço especial entre os nomes da nossa história.

Formado e mestrado na Universidade de Oxford, John fora o pilar legal que deu forças para a Nintendo em sua inicial jornada durante a década de 1980 através dos turbulentos mares da indústria de eletrônicos, protegendo a hoje gigante empresa em seus dias mais frágeis e participando como um dos principais agentes para sua guinada ao sucesso atual.

Com os arcades chegando em seus dias de ouro, os anos 1980 foram uma época em que toda forma de colosso procurava abocanhar para si uma fatia do crescente mercado de jogos. Eram empresas como a Universal Studios — Universal City na época — que, ainda sem entender o que fazer para tal, apenas vigiava por oportunidades. Essa apresentou-se quando eles viram uma pequena empresa do outro lado do Pacífico fazendo sucesso notável com uma imagem que eles conheciam bem a piscar nas telas dos fliperamas: a de um gorila no topo de um prédio mantendo uma donzela em cárcere. Com base nisso, começou-se uma longa batalha jurídica na qual a Universal ameaçava a efetivamente falir a Nintendo sob o pretexto de que Donkey Kong seria uma infração da marca registrada daquela sobre King Kong. Vendo isso como o sinal de que acertara de forma definitiva em uma mina de ouro, a presidência da Nintendo tomou essa oportunidade para lutar por seu espaço em vez de abaixar a cabeça, sem que se afogasse com pagamentos de royalties, como outras empresas de pequeno porte fariam.


Entra então Kirby, contratado pelo futuro membro da mesa diretora Howard Lincoln, para tomar frente da empresa perante a corte. Afiliado à firma de advocacia Latham & Walkins e já veterano em casos de peso para nomes como a Pepsi, Kirby fora firme e rápido em apontar que o discurso da Universal era incongruente com argumentos que ela usara anteriormente em outros casos jurídicos: em 1975, ela defendeu-se de acusações similares alegando que a narrativa e nome de King Kong seriam de domínio público, o que a fez incapaz de deter registros sobre estes e, em tese, conscientemente agindo agora de má-fé. Essa seria a primeira de uma série de vitórias de John para a Nintendo ao longo de três anos contra repetidas tentativas do estúdio de cinema em recorrer ao caso, garantindo assim para a Big N direito definitivo sobre o gorila que a carregaria sobre os ombros até Mario tomar seu lugar. O caso rendeu à Nintendo a pequena fortuna de cerca de 55.700 dólares em danos, valor que hoje quase se triplicaria com a inflação, potente ajuda para seu crescimento imediato.

Assim começou um forte relacionamento de confiança e gratidão entre os desenvolvedores do Leste e o jurista do Oeste, Kirby então interferindo pela empresa em inúmeras outras ocasiões, como em 1999, contra acusações da General Electric quanto ao funcionamento dos consoles da Nintendo quando conectados a uma televisão. Ele recebera vários presentes por seus feitos, sendo os dois mais famosos um veleiro nomeado Donkey Kong — com o direito exclusivo universal para que apenas ele tivesse um barco com tal nome — e uma homenagem a seu nome. Segundo Miyamoto, Kirby, no caso a pequena bolota cor de rosa dos estúdios HAL que tanto amamos, teve seu nome escolhido com base no do advogado, rumores apontando que este também recebera uma cópia de Kirby’s Dream Land (GB) para saber da homenagem.

O contato de Kirby com a Nintendo pode ter sido relativamente breve, mas fora marcante para ele tanto quanto o dele fora para a indústria dos jogos como a conhecemos, seus futuros trabalhos envolvendo então um profundo vínculo com o mercado nipo-americano. Hoje aposentado, seu posto até 2007 como líder do grupo de Propriedade Intelectual e Práticas de Tecnologia dos escritórios novaiorquinos da poderosíssima Latham & Watkins demonstra o impacto de suas ações e presença na história.

Revisão: Vitor Tibério

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