1. Parece o cantinho da vovó
Participante assíduo da série desde Yoshi’s
Island (SNES), o mestre Takashi
Tezuka supervisionou o projeto, desenvolvido em conjunto com a Good-feel. Aqui a empresa dá sequência
ao estilo de Kirby Epic Yarn (Wii) de
2010. O resultado é um game de encher os olhos. Um mundo muito particular, com
muita presença e originalidade.
E para acompanhar o visual de costura, ainda vemos as strass — aquelas pedrinhas brilhantes
vendidas nas lojas de aviamentos — enfeitando o jogo. E aqui elas ainda
precisam dividir o espaço com placas e flores, pregadas com alfinetes nos
belos cenários de patchwork cobertos por malhas de tricô que se estendem como grandes tapetes à perder de vista. Cada detalhe, cada pedaço de tecido,
passa a sensação de aconchego de se usar um agasalho quentinho num dia
frio.
Diferente do Kirby bidimensional de Epic Yarn, que era apenas um
contorno feito de lã, aqui Yoshi é tridimensional. Comilão como sempre, ele
deve desfiar a lã do cenário para revelar segredos colecionáveis e acumular
novelos. Eles substituem os ovos na aventura. Com eles, é possível arremessar o
novelo em lacunas no cenário, assim formando plataformas para escalar. Isso
deixa a jogabilidade intuitiva e divertida, como se estivéssemos fazendo um
cachecol com restos de fios. E fica legal ver que cada fase sempre terá uma
nova escolha de cores diferente a cada vez que for jogada.
Nostalgia é sempre algo presente nos jogos da Nintendo, portanto não é
raro encontrar easter eggs ou homenagens dispersas pelas suas franquias. Então
aqui não seria diferente.
O carismático subchefe Burt O Tímido e o chefe duro na queda Piranha
Naval retornam do primeiro game da franquia. Até o cheat do game original dá as
caras em Wooly World. Basta você se posicionar na beirada da plataforma — ao invés de descer —
e acertar o projétil na Piranha Plant antes dela se tornar Piranha Naval com a
magia de Kamek. Assim, o boss é derrotado. A barbada de pular a luta com o boss
agora foi removida, mas uma animação diferente acontece quando você executa o cheat.
3. Tão verdadeiro que dá pra apertar
A desenvolvedora Emi Watanabe contou em seu depoimento durante a E3 deste ano a adorável história de como
queria presentear os colegas da equipe com Yoshis feitos de lã. E quando ela
chegou no trabalho e começou a distribuí-los, os sorrisos a sua volta foram
instantâneos.
Cale-se e pegue o meu dinheiro. |
Essa ideia deu tão certo que isso acabou gerando um novo tipo de
amiibo: o Yarn Yoshi, um amiibo de pelúcia muito apertável disponível em três
cores. Também foi anunciado um amiibo com o dobro do tamanho (e da fofura), o
Mega Yarn Yoshi, que representa o Mega Yoshi presente no game, previsto para
novembro deste ano.
Sinistro e fofo. |
Outro detalhe é o empenho em representar todos os amiibo na pele (ou no
tricô) de Yoshi. Claro, claro, tem games que oferecem diferentes designs para
personagens de outras séries, mas nenhum outro tem tanto suporte quanto Yoshi’s
Wooly World: todos os personagens têm sua própria skin no game. Até os pokémon,
que foram vetados por decisão da The
Pokémon Company ganham um bordado amiibo como recompensa. Ninguém fica de
fora.
O game se passa na Ilha do Artesanato, um lugar minúsculo no meio do
Oceano Feito à Mão. Lá os Yoshis felpudos vivem uma vida tranquila e pacífica,
até que o feiticeiro Kamek apareça e comece a transformar todo mundo em fios de
lã e depois raptá-los com um saco. Cabe ao jogador resgatar seus amigos
enquanto ainda fica antenado para não perder nenhum dos colecionáveis.
Uma marca registrada da franquia Yoshi sempre foi a possibilidade de o
jogador definir a dificuldade em que quer jogar. Completar todo o game vai lhe
custar pelo menos sete horas de trabalho duro. Porém, não se engane, não é nada
simples desvendar o esconderijo de todos os carimbos, margaridas, novelos e corações
espalhados pelo cenário.
E é aqui que o modo cooperativo vem a calhar. Junto a um amigo, um Yoshi
consegue transformar o outro em um novelo e atirá-lo em lugares mais altos, que
antes eram inacessíveis. O mesmo efeito pode ser alcançado com um amiibo do Yoshi.
O jogo também ajuda os iniciantes com o Mellow Mode. Esse modo só era
ativado no Yoshi’s New Island (3DS) depois
de várias mortes consecutivas, porém aqui ele pode ser liberado a qualquer
hora. Com ele, o dinossauro ganha as clássicas asas que ele podia obter em Super Mario World (SNES) e fica
invencível. Poder voar pelo cenário é muito útil para passar de uma fase em que
se está empacado.
5. Faixa Etária
Em uma entrevista recente à revista Forbes, o presidente da Nintendo of
America, Reggie Fils-Aime, afirmou que jovens famílias com crianças entre sete
e nove anos à procura de uma porta de entrada no mundo dos games ficam quase de
mãos abanando pela onipresença de jogos com conteúdo explicitamente adulto. Não
que seja um jogo infantil, longe disso, mas Yoshi’s Wooly World aproveita esse
gargalo e seria o responsável por vender consoles para esse nicho, defende
Reggie.
Mais que isso, ele é um jogo para todas as idades, sem restrição ou
exclusão, capaz de emocionar a qualquer um com a linguagem universal da
diversão e da descoberta. Afinal, hoje ninguém mais monta suas próprias
cadeiras, cozinha sua própria comida e costura suas próprias roupas. É tudo
pronto, instantâneo e novo. Então ver os vários aviamentos dispersos pelo
cenário, como camurça, crochês, carretilhas, acaba surpreendendo pela
simplicidade e pela impressão do quanto temos a acrescentar a esse mundo
felpudo e deixar a nossa marca bordada. Pelas nossas próprias mãos.
Revisão: Vitor
Tibério
Capa: Marco Monteiro