Uma simples análise do potencial da empresa deixa evidente que ela tinha grandes chances de conquistar o apelo popular e sair da feira como uma vencedora. Como, então, ela conseguiu sair do evento como uma das maiores perdedoras?
Spoilers Direct
Um dos grandes problemas do Nintendo Digital Event foram outros eventos digitais ocorridos antes da E3. Muitas coisas mostradas durante a feira já haviam sido reveladas e recebido extensivos detalhes em Nintendo Directs.Fire Emblem Fates (3DS), por exemplo, foi revelado em janeiro e confirmado para o mercado ocidental poucos dias antes da E3, durante o Nintendo Direct Micro. Xenoblade Chronicles X (Wii U) também recebeu vários detalhes em um Direct exclusivo sobre o título. Não havia muito de novo para mostrar durante a feira.
De forma similar, a localização de Yo-kai Watch (3DS) não surpreendeu a ninguém. Fire Emblem X Shin Megami Tensei (Wii U) também recebeu detalhes pouco antes da E3 — se pelo menos recebesse um trailer em inglês desta vez, quem sabe não surpreenderia mais?
A ideia dos Nintendo Direct em si é bem-vinda. Eles criam um canal de comunicação mais frequente com os fãs e podem ser usados para revelar jogos menores ou detalhes de lançamentos próximos. O problema é a forma como eles acabam sabotando a própria Nintendo. Muitas coisas que poderiam ser surpresa durante a E3 já eram conhecidas pelos fãs.
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Outras empresas também mostram jogos já anunciados em suas conferências, mas com novas informações, detalhes de gameplay e novos trailers. Os Nintendo Directs acabam não deixando nem isso para mostrar durante, fazendo com que o Digital Event tenha uma enorme sensação de déjà vu para os fãs mais da Big N.
O mais interessante é que a Nintendo sabe guardar coisas para a E3 quando quer. Star Fox Zero (Wii U) foi revelado na E3 2014 e mesmo assim sua reaparição neste ano foi um dos pontos altos do Digital Event, com detalhes da jogabilidade, nome definitivo e várias outras informações novas.
Quando a Nintendo quer, ela consegue até mesmo esconder as coisas da própria E3. Falando nisso...
Ausências ilustres
Sabe um jogo que foi revelado ano passado e todos os fãs ficariam extremamente felizes se aparecesse no digital Event, mesmo que apenas de relance? The Legend of Zelda para Wii U. Até simples teaser de alguns segundos já animaria os fãs e faria a conferência da Nintendo ser mais bem recebida.O que aconteceu? Ao que parece, a Nintendo tirou o jogo do evento de última hora, Hylia sabe lá porque.
Zelda não foi a única ausência ilustre. Uma das mais sentidas foi a de Metroid. Um novo jogo da série é clamado desde o divisivo Metroid: Other M (Wii). O que os fãs recebem em troca? Metroid Prime: Federation Force (3DS).
Talvez Federation Force seja bom. Particularmente, confio no trabalho do estúdio Next Level Games. O problema é a forma como ele brincou com as expectativas dos fãs, que ansiavam por um novo Metroid legítimo, protagonizado pela Samus Aran.
De forma similar, o Animal Crossing: amiibo Festival (Wii U) seria mais bem recebido se houvesse pelo menos a promessa de um título legítimo da série para console. Esta é a segunda vez que a Nintendo anuncia um Animal Crossing para o console... Só não é o Animal Crossing que todos querem.
Isso sem contar inúmeros outros títulos e franquias que os fãs aguardam e não têm notícias há anos, como Advanced Wars e F-Zero. Obviamente, a Nintendo não poderia anunciar novos títulos de todas suas franquias de uma vez só — insto é inconcebível. Mas é evidente que a empresa não está usando nem metade de seu potencial e tem um grande portfólio de propriedades intelectuais não utilizadas.
O mais interessante disso tudo é a forma como as expectativas pelo o que não foi mostrado fez com que muitos ignorassem o que foi apareceu — inclusive algumas gratas surpresas. Zelda Tri Force Heroes (3DS), Mario & Luigi: Paper Jam (3DS) e Mario Tennis: Ultra Smash (Wii U) acabaram perdendo boa parte do foco, mesmo apresentando propostas muito interessantes. Mesmo os jogos já conhecidos receberam bons vídeos e muitos deles serão lançados ainda este ano — Xenoblade Chronicles X, em especial, tem potencial para ser um dos RPGs do ano se for tão bom quanto o antecessor.
O grande problema foi o que não foi mostrou.
Além do mundo digital
Tanto falou-se do Nintendo Digital Event que muitos acabaram se esquecendo de algo: a E3 é muito mais do que apenas aqueles 50 minutos. Se o desconsiderarmos, a participação da Nintendo nesta edição de 2015 foi uma das melhores em muito tempo.Ela já começou com grande estilo com o Nintendo World Championships. Com certeza um dos pontos altos da E3, foram mais de quatro horas de pura diversão, emoções e animação. Mais do que isso, o evento foi uma ótima forma de vender Super Mario Maker (Wii U).
A Nintendo também demonstrou muitos jogos, com muitas demos e gameplay. Os stands dela também eram bem grandes e etc. A Treehouse Live @ E3, com entrevistas com desenvolvedores e uma forma de comunicar-se muito mais próxima com os jogadores, também foi destaque.
No final das contas, o que manchou a participação da Nintendo na E3 foi seu Digital Event fraquíssimo. Talvez a Nintendo não tivesse material para “vencer” a E3 — Sony e Microsoft tiveram conferências de peso e com muitas surpresas. Entretanto, se ela tivesse uma abordagem com o Event um pouco mais diferente, ela não precisaria sair da feira como uma perdedora.
Capa: Felipe Araújo