A vida musical em Majora's Mask

The Legend of Zelda: Majora’s Mask e suas referências musicais nos permitem conhecer melhor este universo fantasioso e o esperado remake para o 3DS.

em 24/11/2014
The Legend of Zelda: Majora’s Mask trouxe diversas referências musicais em seu mundo, composto por cenários típicos como bares, palcos, e até por criaturas que emitiam sons através dos poderes dados às suas máscaras. É certo que a chegada do remake mais esperado para o console portátil da Nintendo trará, para muitos que não conhecem esta história, um jogo cheio de estágios capazes de carregar diversos sentimentos e que pode resultar numa experiência medonha e incrível. Vamos comemorar mais uma volta à série The Legend of Zelda e mergulhar mais uma vez neste mundo repleto de fantasia e musicalidade.
Spoiler Alert: Os fatos apresentados são decorrentes da história de The Legend of Zelda: Majora’s Mask.

As máscaras, os músicos e a Milk Bar

De início já somos surpreendidos pelas inúmeras máscaras que compõem o jogo. Algumas delas terão importante papel ao longo da história e outras abordarão temas secundários, mas tão importantes quanto. Muitas delas possuem papel elementar no desenrolar e na figura que Link deve incorporar para tocar algumas melodias. Vejamos as principais delas e suas histórias remanescentes.

O admirável reino Deku!

Assim que pisamos em terra Terminiana (ou o que melhor se encaixar para o reino de Termina xP), temos de ir ao encontro do primeiro templo, algo já manjado na maioria dos Zeldas. Mas a diferença aqui é que seu caminho para o reino dos Dekus deverá ser feito de uma forma um tanto escondida. Por sorte, Link é guiado desde o início por um macaquinho, que o leva a um outro aprisionado devido a uma falsa acusação de que este teria capturado a princesa Deku. A partir deste, Link, em forma de Deku, aprenderá a Sonata of Awakening, uma canção passada de gerações pela família real Deku e que possui o poder de acordar os guardas desta espécie que, por ventura, adormeçam em serviço. Esta música conduzirá Link em sua jornada para safar o macaquinho da condenação.



A família Goron e a gélida atmosfera petrificada

Outro ponto de visita são as montanhas geladas de Snowhead Village. Lá descobrimos que um dos Goron, o guerreiro Darmani, na tentativa de salvar sua tribo de uma maldição, seguiu o caminho até o Snowhead Temple, onde foi atacado por um dos guardas e não resistiu. Na tentativa de encontrá-lo, Goron Elder, uma espécie de chefe da tribo, parte em busca de Darmani, ficando seu filho a sua espera. Uma história que puxou muitas outras e que trouxe grandes aprendizados musicais para Link em suas andanças. A Goron Lullaby é parte integrante deste conto e o toque dela no tambor com Link transformado é impagável.

Mikau e sua guitarra

Uma história triste toma conta e somos apresentados a esta máscara ao avistarmos um corpo flutuando em Termina Bay. O personagem em questão era Mikau (falaremos mais do personagem adiante), músico guitarrista da banda The Indigo-Go’s e que, em uma missão, partira em busca dos ovos para a cantora Lulu, com quem parecia existir um tipo de romance por trás de tamanha afeição.

Tome um porre de leite e venha curtir

E, como ponto de encontro, os músicos transformados podem fazer um grupo e se apresentar no bar local, a famosa Milk Bar. Mas há de se perceber que ele só abre durante a noite, então nada de bebedeiras matinais.

Uma das sidequests acontece no palco, e Link, portando já as três máscaras principais, deve seguir as notas pedidas nas posições correspondentes, seguindo as ordens de Toto, o líder da banda The Indigo-Go’s, que costumava se apresentar no bar. O resultado, após Link executar as devidas notas com os diferentes instrumentos a seu dispor através das máscaras é exuberante, e uma volta ao passado regado a um pouco de nostalgia com a música Ballad of the Wind Fish, uma canção que remonta aos tempos de The Legend of Zelda: Link’s Awakening.


The Indigo-Go’s, a Zora's Band e seu legado

The Legend of Zelda é carregado de diversos mitos e teorias, mas é certo que uma das histórias que mais ficou guardada na cabeça dos fãs que jogaram Majora’s Mask, mesmo com toda a dose de acontecimentos dramáticos que o jogo possui, foi a de Mikau e sua banda. Portar sua máscara, que fez tanto sucesso, garantia-lhe uma capacidade para o nado, e a sua aparência, um pouco mais esbelta, remontava um Link adulto.

Contudo, vemos aqui uma história bem triste envolvendo Lulu, a cantora do grupo que sucede sua mãe, mas que perdeu a voz por conta de um sumiço de seus ovos, roubados pelos Piratas Gerudos. Devido ao show marcado para o Carnival of Time, quando a Lua cairia, e prevendo o cancelamento da apresentação, Mikau segue até os confins de Pirate’s Fortress para encontrar estes ovos, mas acaba sendo visto e morto pelos piratas. E caberá a Link continuar sua jornada para um desfecho menos trágico da banda.
Cada integrante da banda possui um instrumento, e pode-se conversar com eles em suas salas (sim, cada músico possui o seu próprio camarim) antes do show começar. Entre eles estão: Lulu, a cantora do grupo; Mikau, o guitarrista; Evan, pianista, arranjador e líder do grupo; Japas, o baixista; Tijo, o baterista; e Toto, o empresário do grupo. O interessante é que muitos easter eggs são revelados nessas transições, como a música da Dungeon de The Legend of Zelda tocada pelo baixista, na música de Game Over, também do mesmo jogo, que toca na sala do tecladista, ou mesmo na música de transição entre cavernas de A Link to the Past que dá o tom na sala do baterista da banda.


Acontecimentos musicais que marcaram Termina

Entre as diversas histórias que acompanham este título, nada melhor do que aprender algumas músicas ao longo destas jornadas. E Link fará jus ao menino da Ocarina, que precede gerações em busca da justiça, mas também para resolver pequenos probleminhas pessoais dos moradores locais. Afinal, o que seria da vida sem um pouco de assuntos paralelos a se cumprir? Vejamos a seguir alguns destes fatos marcantes em Majora’s Mask.

O canto dos gigantes

Um dos momentos mais encantadores de Majora’s Mask ocorre quando Link completa uma dungeon. Ainda que muitos reclamem sobre a quantidade de dungeons desta sequência direta de Ocarina of Time, não há de se negar a qualidade e grandiosidade destes templos. Após enfrentar o grande chefe, pegar o coração nosso de cada dia e coletar mais um pedaço do chefe, os Gigantes que sustentam a Lua prestes a cair contam suas conclusões ao mesmo tempo que emitem um canto divino, como um choro por tudo que está acontecendo, acompanhados por um órgão celestial ao fundo.

Super órgão da cura

Um dos momentos mais marcantes será conduzido pelo animado Happy Mask Salesman, um cara, digamos, diferente, que trabalhava como vendedor de máscaras em Ocarina of Time e que agora anda como um ambulante, carregando consigo uma bagagem de diversas máscaras, dos mais diferentes tipos. Um dos momentos mais marcantes que o personagem terá com este senhor será o aprendizado da Song of Healing, tocada por ele em um grande piano de três manuais, e que possui o poder de afastar os espíritos ruins e combater as magias do mal, sendo muito útil em uma das histórias mais emocionantes da trama…

Music Box House, a casa das múmias

Eis um cenário um pouco incondizente. Primeiro uma casa no meio de um Canyon, rodeada por múmias e com o som ligado tocando uma música circense. Mais animado impossível, certo? Aqui acontece talvez uma das histórias mais emocionantes de toda a Termina. O legado de Pamela e seu pai, um especialista em fenômenos sobrenaturais. Após Link resolver o problema de drenagem que assola o local, já que Sharp (#) havia alterado o curso do rio nesta região, Link decide entrar na casa recém-aberta e musicada, e descobre que o pai de Pâmela, na verdade, pegou uma maldição em uma de suas andanças nas cavernas de Gibdos, transformando-se em metade múmia metade humano, cabendo a Link resolver este probleminha.

O homem da chuva

Muitos já conhecem a história deste ser responsável pelo fluxo temporal mais bizarro de toda a Lenda de Zelda. Pois bem, ele está de volta, mas não mais para complicar seu cérebro, pois é aqui que a história será explicada de verdade. Também conhecido por Guru-Guru, este ser que carrega a sua caixinha musical conta que, na verdade, a “Song of Storms” foi composta por Flat (♭), um dos irmãos dos Composers Brothers, autor também da Sun’s Song e que tem sua lápide em Ikana Graveyard, cemitério guardado por Dampé.

Coral sapial

Reminiscente dos cinco sapos tenores de Ocarina of Time, o Coral dos Sapos (Frog’s Choir) é uma sidequests em que você, ao ganhar a máscara do regente Don Gero, deve ir atrás dos sapos nativos de Snowhead que abandonaram o local devido à forte geada. Inicialmente deslocados, cada um promete voltar ao local de origem assim que o tempo melhorar nas montanhas. O que se presencia ao final do dia, passada a temporada de inverno, é um belo coral de vozes características nas águas cristalinas da lagoa localizada nos jardins de Mountain Village.

A nova onda e outras músicas de sucesso

E não para por aí, selecionamos algumas outras músicas que tanto nos embalaram durante as viagens em Termina.

Title Theme
Ah, quem não se lembra desta tão enigmática e interessante música? Com um clima campestre e ritmo harmônico leve, somos apresentados a mais nova aventura de Link em um novo mundo situado nos arredores de Termina Field. O final da música admite que o teor da aventura não carrega nada de alegre.

Termina Field
E por falar em Termina Field, qual não é a nossa surpresa ao nos depararmos com a música tema de The Legend of Zelda tocando ao fundo destes lindos campos vegetativos? Nada mais natural do que começar sua missão com um gás e tanto!

New Wave Bossa Nova
Inspirada no gênero brasileiro da Bossa Nova, já confirmado como o predileto de Shigeru Miyamoto, em que os ritmos sincopados e a harmonia com nonas, 13s e 11s com sétimas e suas dissonâncias definem seu estilo.

Deku Palace
Pode se ver os Dekus dançando ao entrar em seu palácio. Afinal, com uma música que balança e anima devido à construção, nada mais ideal do que sentir estes ritmos, diálogos e euforia sonora de forma plena.

Astral Observatory
Uma das poucas músicas de Majora’s Mask que somente agradam pela beleza. A simplicidade e riqueza de preenchimento harmônico nos conduzem para um clima celeste, estelar e de paz.

Stone Tower Temple
Misteriosa em sua essência, a música deste templo, carregada de um coro ao fundo e de flautas e de um tipo de cravo sintetizado, fornece-nos uma essência característica que, acompanhada aos ritmos percussivos, traz um sabor bem primata.

Resultados fonográficos de Majora's Mask

Após completar o jogo (mesmo que isso dure muito tempo) ou não, é hora de partir para as trilhas sonoras lançadas pré e pós o lançamento do game. Além dos diversos arranjos e das diferentes interpretações feitas por fãs, citando-se em especial as do site OCReMix e a Time’s End: Majora’s Mask Remix, Majora’s Mask contou com diversos álbuns oficiais, alguns até distribuídos como edições para colecionador de seus jogos.

Inicialmente lançada, a trilha sonora oficial do jogo chegou a ser distribuída em pacotes especiais do jogo, e também, mais recentemente, em uma promoção do Club Nintendo. O resultado dos compositores Koji Kondo e Toru Minegishi pode ser apreciado no CD disponível para compra em diversos sites ou até em alguns canais do YouTube. A edição orquestral da obra também pode ser facilmente obtida.
Preferências à parte, tanto Ocarina of Time quanto Majora’s Mask formam um dos maiores pilares em Zeldas 3D e que perduraram gerações, contando com inúmeras histórias e base para muitas referência, inclusive brasileiras, no mundo dos games. O conteúdo musical só exemplifica isto e mostra o poder que a série ganhou ao apresentar um trabalho de qualidade sonora tão condizente com a franquia.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Diego Migueis

Jaime Ninice é cravista, formado pela UFRJ, e mestre em música na mesma instituição. Sua paixão por games, eventos e revistas o levou a escrever e revisar artigos desde 2010 no @Blast. Hoje é redator das publicações impressas sobre retrogames WarpZone.me
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