The Fall (Wii U) é sombrio, misterioso e muito instigante

Com um clima pesado, puzzles complicados e um nível de dificuldade muito elevado, o novo indie da Over The Moon é um dos games mais difíceis do ano.

em 05/09/2014
Atualmente o tema futurista é palco para jogos, geralmente, de ação, guerra ou terror. Poucos jogos utilizam a ficção científica como tema chave e The Fall está aí para fazer a diferença. O jogo com enredo totalmente sci-fi não possui o foco na ação, mas sim na resolução de puzzles para resolver o misterioso enredo do jogo.




O indie que já está disponível na eShop do Wii U não é livre de defeitos, mas é a pedida certa para jogadores fanáticos por jogos de extrema dificuldade, que te fazem perder a paciência por não entender o objetivo da missão de cara. Esse, senhoras e senhores, é The Fall.

É apenas o começo…

A história de The Fall começa com um astronauta caindo em um planeta desconhecido, se afundando em uma região impossível de retorno. Com a queda, o astronauta perde a consciência e seu corpo passa a ser controlado pela inteligência artificial de sua roupa: ARID. ARID, controlada por você, precisa encontrar um meio de arranjar primeiros socorros para o piloto desmaiado, atravessando as cavernas escuras do misterioso planeta.

O problema começa realmente quando ela percebe que não é a única inteligência artificial no meio das estranhas cavernas e, da mesma forma, outros humanos já haviam passado pelo planeta antes. Vale lembrar que as outras máquinas não estão lá com o intúito de ajudar ARID em sua missão particular.


É importante citar também que The Fall é o primeiro capítulo da hitória sci-fi desenvolvido pela Over the Moon através do Kickstarter. Dessa foram, sua história não é totalmente concluída ao final desse primeiro jogo. Um marco dele é que seus mistérios se tornam cada vez mais elaborados e os diálogos entre as máquinas são sensacionais.

Pouca ação, mas muita ambientação

Muitos podem ver as imagens do jogo e lembrar de Metroid ou Castlevania, podendo inclusive comprar o jogo através dessas comparações. Entretanto em pouqúissimas coisas The Fall se assemelha a esses clássicos. Enquanto o foco de Metroid e Castlevania é a ação e aventura, o indie da Over the Moon mantém o foco na solução de puzzles e nos longos diálogos, com uma pitada de ação de vez em quando.

Essa ação, diga-se de passagem, também tem seu quê de dificuldade, uma vez que o controle da mira é todo através do direcional analógico direito do Gamepad (semelhante ao sistema de Trine 2 - Director’s Cut). A vida de ARID se regenera com o passar do tempo, assim como o seu escudo, porém, ao tomar vários danos seguidos ,ela morre rapidamente.


Um dos pontos mais altos do jogo é na utilização do cenário. A ambientação é perfeita e o cenário possui elementos-chave tanto para a resolução dos puzzles quanto também para a sobrevivência da protagonista no meio de um tiroteio. Caixas, tambores e colunas que normalmente são meras atrações visuais nos jogos, servem como bloqueio de tiros quando utilizado o controle certo.

Como diabos eu resolvo isso?!

Além das barreiras contra tiros nos raros momentos de ação, o momento no qual o cenário mais se destaca é na hora de resolver puzzles e completar as missões. Com uma lanterna (também controlada pelo analógico direito), ARID pode vasculhar todo o sombrio território procurando por algo que possa ajudá-la. Diversos itens ou objetos em geral são destacados pela lanterna e recebem uma descrição rápida em uma caixa de diálogo.

A dificuldade aqui é que não é óbvio quais itens você pode pegar e quais não, quais você pode usar e quais não e o principal, onde usar cada um deles. Em certo momento do jogo, por exemplo, é necessário ligar a energia de uma sala, mas a caixa dos disjuntores está com fios partidos. O que deve ser feito? Pegar um pedaço de ouro no final da sala, subir dois andares, passar por alguns inimigos, entrar em um escritório com uma mesa de trabalho, pegar o alicate que está ali perto, trabalhar o pedaço de ouro na mesa até conseguir criar um fio condutor, retornar com o fio até a caixa dos disjuntores e usar o fio de ouro nela. Isso somente para acender as luzes de uma sala, que não chega nem perto de ser a missão principal daquele momento.


Isso demonstra que os puzzles são extremamente inteligentes e muito bem articulados com o espaço do jogo. A escuridão do ambiente só dificulta ainda mais a busca por objetos que se confundem totalmente com o cenário “neutro”. Não será incomum perder a paciência com certos puzzles ou então ficar horas a fio com o jogo parado, pensando em como você pode utilizar os itens que você já adquiriu em alguma parte do mapa pela qual você já passou.

Houston, we have a bug!

Um dos pontos baixos do jogo são os congelamentos de tela que às vezes ocorrem quando se está mudando de salas. Pelo que pesquisei,  não é um bug exclusivo da versão de Wii U e parece que pretendem lançar um patch para correção. Porém o bug ainda está lá, obrigando o jogador a quebrar seu ritmo de jogatina para fechar o software e abri-lo de novo.

Outro bug presente, porém mais raro, é que, ocasionalmente a opção de voltar para o menu principal do jogo some. Dessa forma o jogador fica preso dentro do jogo, obrigando-o, mais uma vez, a fechar o software manualmente. E, como se isso não bastasse, o uso do gamepad é praticamente nulo, servindo apenas para a opção off-tv.


Falando em controles, outra questão que não chega a ser prejudicial mas, para certos jogadores faz falta, é a inutilidade das setas direcionais. Em alguns momentos me vi querendo controlar o personagem não pelo direcional analógico esquerdo, mas sim pelas setas direcionais. Me surpreendeu o fato das setas não servirem para o deslocamento do personagem, e nem para mais nada no jogo.

Uma boa pedida para os que gostam de desafio

Mesmo com certos problemas técnicos e com o visual obscuro, The Fall agrada pelo enredo interessante, jogabilidade desafiadora e puzzles complicadíssimos. Já é comum, atualmente, diversos games independentes terem o nível de dificuldade bem superior ao de games feitos por grandes empresas, mas não acho precipitação dizer que esse aqui já é um dos indies mais difíceis lançados esse ano.

Se você gosta de puzzles, jogos inteligentes, tema futurista no melhor estilo ficção científica, mas com pouca ação, The Fall é o jogo certo para você. Uma observação importante é que, para entender claramente a história do jogo, é preciso um nível mínimo do inglês,  pois não se tem previsão alguma de que seja lançado um patch com tradução para a nossa língua.
Contudo, a Over the Moon fez um ótimo trabalho com o seu jogo e já deixa um gostinho de “quero mais” nos experts que conseguirem completar todas as missões. Nos resta, assim, esperar pelos próximos capítulos de uma série que tem muita para oferecer.

Prós


  • Enredo muito inteligente;
  • Boas dublagens;
  • Puzzles criativos;
  • Incrível utilização do ambiente do jogo;
  • Nível de dificuldade altamente desafiador;
  • Batalhas complexas com relevância do cenário.

Contras


  • Bugs ainda não corrigidos podem atrapalhar a imersão;
  • Ambiente muito escuro às vezes pode incomodar;
  • Uso pífio do Gamepad do Wii U;
  • Puzzles podem se tornar frustrantes.

The Fall - Wii U - Nota 7,5
Revisão: Marcos Silveira
Capa: Felipe Araujo



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Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
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