Análise: Mario Golf World Tour (3DS) anima o mais pacato dos esportes

Contando com um singelo modo história, excelente curva de aprendizado, inserção de itens na jogabilidade e os mais diversos campos vistos na franquia, World Tour inova o suficiente para atrair novos jogadores.

em 11/05/2014

Talvez Mario Críquete ou Mario Bocha fossem os únicos esportes que conseguiriam vencer Mario Golf no quesito “falta de apelo popular”, principalmente dentro do mercado brasileiro. Um dos esportes mais calmos e estáticos que se tem notícia nunca pareceu combinar muito bem com o frenesí colorido que é a franquia Super Mario, fazendo com que este que vos fala apenas experimentasse de uma forma bem en passant a versão para GBA, lançada há mais de uma década. Entretanto, assim como resolvi dar uma chance ao desconhecido mundo de beisebol e adquiri Mario Super Sluggers, do Wii, decidi vestir minhas luvas e me reaventurar pelo  golfe no Reino dos Cogumelos.


Mario Golf World Tour não perde tempo para te colocar dentro da ação; após a tela de início você já começa a selecionar o Mii e seus atributos. Felizmente, a Nintendo quebra a tradição de seus tutoriais longos e desnecessários e um ajudante Toad explica de forma simples e direta os funcionamentos básicos do jogo, para que o usuário se aventure pelos campos. Caso ache a explicação insuficiente ou simplória demais, você pode retornar ao Toad e aprender comandos avançados, como colocar efeitos nas tacadas, realizar Topspins e diversos outros movimentos.
Abecedário do golfe
Por não se tratar de um dos esportes mais populares, é comum que os jogadores desconheçam as terminologias relacionadas a ele. Para isso, existe um Toad no subsolo de Castle Club que explica, literalmente, todas as palavras e jargões usados no gênero organizados em ordem alfabética. Muito atencioso por parte da Big N, não?

Castle Club: o melhor country club dos quatro cantos do Reino do Cogumelos

Castle Club é o local
perfeito para se dar
as primeiras tacadas!
A parte inicial do jogo se dá no Castle Club, uma espécie de country club de Mushroom Kingdom que possui três campos básicos para partidas de golfe. Após uma pequena prática para definir o handicap (isto é, seu nível de habilidade, que é alterado para mais ou para menos conforme seu desempenho nos campeonatos), o jogador já pode enfrentar outras criaturas em um conjunto de dezoito buracos dentro da floresta. As altas árvores que cortam os ventos e a presença de muitos gramados fazem desse campo o ideal para iniciantes.

Após completar uma série de buracos, independente do modo (prática, torneio com handicap ou campeonato), novos itens entram à venda na loja do clube, e podem ser adquiridos em troca das moedas coletadas no jogo. Eles servem para customizar o seu Mii, o único personagem utilizável no modo do Castle Club — e a variedade é gigante: mais de quinhentos itens disponíveis! Desde simples roupas, tacos e acessórios inspirados em personagens da franquia até fantasias completas. Após concluir os dois outros campos (de praia, com ventos fortes e muita areia, e o da montanha, com várias pedras e abismos), o modo história já está finalizado e aí a diversão realmente começa.
Com roupas e acessórios inspirados em itens, inimigos e personagens da franquia, você certamente achará um conjunto que é a cara de seu Mii

Embora não haja uma indicação clara por parte do jogo, é necessário sair do modo Castle Club e entrar no  “Mario Golf” para progredir no resto do jogo. Neste modo, além de competir nos campos já desbloqueados, participar de torneios online e realizar partidas multiplayer (sem download play), também se encontram os mais de cem desafios do jogo. Além de adicionarem bastante valor ao fator replay, completando esses desafios é que são desbloqueados novos campos, mais surreais e com um toque a mais de Mario.
O castelo mais vazio do reinoEmbora a dinâmica de Castle Club seja interessante, o modo história parece ter muito potencial não aproveitado. Diversas criaturas perambulam pelo castelo, mas, ao longo de todo o progresso, só repetem a mesma fala, além de haver diversos cômodos sem nenhuma utilidade prática, como o café ou a sala de ginástica. Interação maior com os personagens e, possivelmente, um modo história mais completo, incluindo sidequests — como ocorre em Mario Super Sluggers — tornariam a experiência muito mais proveitosa e interessante. Ainda assim, o esforço realizado pela Camelot no Castle Club é bem-vindo e engajante.

O Golfe mais cheio de ação que você irá jogar

Peach Gardens é a primeira pista do gênero, com seus campos floridos cor-de-rosa, item boxes e rampas de aceleração, e já desbloqueada desde o início. Na sequência, conforme os desafios são concluidos no modo challenge, mais campos são liberados, como o Yoshi Lake, Wiggler Park e, um dos que mais chamaram a atenção, o Cheep Cheep Lagoon, que tem dezoito buracos completamente submersos no oceano. Enquanto esses campos vão sendo habilitados no modo Challenge, eles começam a aparecer no Club Castle, para que você possa praticar nos mesmos e, eventualmente, participar de desafios aleatórios que rendem roupas e fantasias exclusivas.

Os campos mais diversos e que representam melhor a loucura do mundo de Mario e sua trupe podem acabar desagradando quem já estava acostumado com os antigos moldes. A adição de itens e os elementos dificultadores variados e constantes nos campos ajudam o jogo se manter sempre novo, mas, para um esporte tão pacato como o golfe, às vezes se tem a impressão que é muita coisa ao mesmo tempo. Entretanto, são esses poderes, mecânicas de gravidade (no caso da Cheep Cheep Lagoon) e obstáculos que diferenciam Mario Golf dos demais jogos do gênero.



 Os campos baseados nos mundos da franquia possuem imensa beleza e criatividade.
Itens à solta
Entrando no clima dos outros jogos esportivos do bigode, World Tour adiciona itens especiais à mistura. Confira o efeito que cada um tem sobre a trajetória da bola:
  • Mushroom: faz com que ela role mais longe após atingir o chão. 
  • Fire Flower: aumenta a distância do tiro e permite dar tacadas através de árvores e obstáculos, pois a bola queima o que tocar.
  • Ice Flower: congela o terreno onde a bola toca, fazendo-a quicar múltiplas vezes.
  • Bullet Bill: ignora o vento e dispara a bola em alta velocidade numa linha reta até colidir com algo.
  • Bob-omb: aumenta o traçado vertical da tacada.
  • Boomerang Flower: aumenta a curvatura da trajetória da bola, transformando-a num bumerangue.
  • Note Block: cria um bloco musical no ar, para evitar lava e água.
  • Tornado: suga moedas ao redor e aumenta o alcance vertical da trajetória
  • Kab-omb: explode no meio do ar e faz a bola cair diretamente no chão.
Embora raramente façam diferença no modo tradicional (competindo ao longo dos 18 buracos de um campo), saber utilizá-los bem é essencial para completar os desafios que o jogo oferece.

Espremendo o suco do 3DS

É evidente desde o início que a Camelot se esforçou para trazer a melhor experiência possível de Mario Golf ao portátil 3D da Nintendo, por ela ter utilizado praticamente todas as funcionalidades dele: de playcoins que podem ser transformadas em dinheiro no jogo a uma câmera giroscópica (ainda que mal implementada). Os gráficos também são um bom exemplo da excelência da empresa: embora não tenham o nível de títulos anteriores como Super Mario 3D Land, apresentam pouquíssimos serrilhados, modelos com qualidade dos de GameCube e, no geral, uma excelente direção de arte. Ponto extra para as animações especiais dos personagens, todas elas (falha, vitória, birdie, eagle, albatross e etc) são hilárias e os representam muito bem.
A animação de Wario, fica mais engraçada ainda durante a chuva, pois o pobre coitado também é acertado por um relâmpago. Espere errar tacadas só para assistir tais animações.
A trilha sonora é outro aspecto curioso. Embora não seja memorável como a do tão esperado Mario Kart 8, ela é bastante agradável e combina bem com o estilo do jogo e todos os campos visitados. A diversidade também é grande, evitando que o jogador sofra ouvindo pequenas variações da mesma música-tema por horas a fio (sim, Yoshi’s New Island, me refiro a você). O maior problema quanto ao áudio do jogo são as vozes dos personagens: repetitivas, constantes e sem inspiração. Não é incomum você tentar ajeitar sua mira e a cada toque ou mudança de taco o jogador soltar algum grunhido. Embora seja simpático no começo, a falta de variedade (deve haver 3 falas diferentes, no máximo) e os personagens que não sabem ficar quietos se tornam um tanto irritantes.

O modo online, elemento onde a Nintendo tem inconstantes resultados, foi muito bem implementado, com destaque para a Big N realizando quatro grandes torneios ao longo do ano. O usuário pode também competir apenas com amigos registrados em seu 3DS, em salas regionais (no caso, o pais que você selecionou ao criar o seu perfil) ou mundiais, criando também comunidades como as de Mario Kart 7. O fator do handicap, que altera a pontuação final de acordo com sua habilidade, garante que todos possam se divertir no modo online. Além disso, o jogador também pode participar de torneios de terceiros ou criar os seus próprios da forma que preferir, escolhendo os campos, personagens e itens que aparecerão. Outro ponto positivo é que não é necessário esperar o outro jogador completar sua tacada para prosseguir, todos podem realizar tacadas simultâneas.
Em parceria com a Callaway (loja de equipamentos esportivos), a Nintendo está realizando uma série de torneios que concedem aos participantes artigos exclusivos da loja.

Inovando no básico mas mancando no essencial

O recurso da tela de toque do 3DS, que aos poucos vem ganhando menos e menos destaque, teve grande ênfase em World Tour: enquanto a tela superior exibe o personagem e o campo, para que você posicione onde quer que a bola caia, a tela inferior a mostra em close-up. Ainda ocorre o esquema de “tacada de três cliques” presente na série desde sempre: o primeiro clique faz com que a barra comece a encher, o segundo para definindo a força e, se estiver no modo fácil, acaba por aí. Caso o modo manual esteja ativado, entretanto, o jogador também deve apertar “A” ou “B” quando o marcador voltar ao seu lugar original. Embora mais difícil, isso permite realizar técnicas como Topspins e Backspins, impossíveis de se fazer no modo fácil. Além disso, através da tela de toque, o jogador pode clicar exatamente onde quiser na superfície da bola, dando assim mais efeito em suas tacadas.

Se a tela de toque ganhou atenção, outros recursos do portátil poderiam ter sido melhor utilizados. O giroscópio do título se resume a apenas mover a câmera, ligeiramente, em algumas direções enquanto o personagem ainda não deu a tacada. O efeito 3D estereoscópico também poderia ter sido implementado de forma mais eficiente. Golfe é um esporte no qual, a percepção de espaço e profundidade é essencial, mas no 3DS o efeito vai pouco além do personagem segurando o taco até que tudo pareça estar no mesmo plano. O 3D chega a ser inconveniente e confuso a tal ponto que diversas vezes o desliguei, principalmente nos momentos de putting (a tacada leve para a bola entrar no buraco).
O dilema dos DLCs
Embora World Tour tenha mais conteúdo que qualquer um dos seus antepassados — tanto em termos de personagem quanto em campos e modos de jogo — a Nintendo optou por disponibilizar três pacotes de DLC ou um Season Pass, que dá acesso aos mesmos conforme forem liberados. Pelo preço de U$5,99 o pacote ( que contém um personagem — Toadette, Nabbit e Rosalina — e dois campos com dezoito buracos cada), o Season Pass sai por U$14,99 trazendo de brinde o Gold Mario, com sua tacada especial que coleta uma moeda para cada jarda que a bola avançar. Embora seja um valor relativamente salgado para um DLC do gênero, a combinação do jogo + Season Pass compensa pelo fato do software ser cerca de dez dólares mais barato que os demais jogos do 3DS. Além disso, os novos campos podem ser utilizados através de local play mesmo que os outros companheiros não tenham o DLC!

Par, Birdie ou Boogie?

Mario Golf World Tour consegue ser tão imersivo quanto o modo história presente em Mario Super Sluggers, quase tão viciante quanto um Mario Kart e até mais competitivo e difícil que Mario Strikers Charged. A experiência proporcionada pelo título é definitivamente interessante, excedendo minhas expectativas. A lenta progressão do jogo é justificada pelo ritmo da própria curva de aprendizado; Após mandar bem no Bowser Castle e retornar ao campo inicial da floresta é gratificante e espantoso notar como você aprendeu e melhorou no jogo. Os vários desafios e novos modos de jogo, aliados às excelentes interações online (para não mencionar a longevidade adicionada com os DLCs) fazem com que esse título se torne tão interessante quanto Mario Tennis Open, outra empreitada esportiva de Mario para o 3DS, mas com longevidade muito maior e uma experiência, no geral, bem mais satisfatória. Golfe é um esporte bastante descriminado, devido à sua aparente lentidão, sendo por vezes julgado como algo entediante. Mas se tem algum jogo que tem potencial para mudar essa mentalidade, é Mario Golf World Tour.

Prós:

  • Lindos gráficos, direção de arte e animações;
  • Campos diversos proporcionam ótima curva de aprendizado ao jogador;
  • Variedade em modos de jogo garante grande longevidade ao título;
  • Online prático e engajante;
  • Maior diversidade de personagens e campos em um jogo da série;
  • Preço mais em conta torna a aquisição do Season Pass um negócio vantajoso.

Contras:

  • Ineficácia do giroscópio e efeito 3D;
  • Repetitividade nos sons dos personagens;
  • Pouca interatividade com personagens e ambientes do Castle Club;
  • Modo história curtíssimo.




Mario Golf World Tour - 3DS - Nota: 8.2

Revisão: Bruna Lima
Capa: Leonardo Correia


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