Análise: Não foi difícil superar os selvagens desafios de Etrian Odyssey Untold: The Millennium Girl (3DS)

em 28/12/2013

O primeiro título da franquia Etrian Odyssey, lançado em 2007 para o Nintendo DS, foi responsável por introduzir jovens de hoje aos dungeo... (por Unknown em 28/12/2013, via Nintendo Blast)

O primeiro título da franquia Etrian Odyssey, lançado em 2007 para o Nintendo DS, foi responsável por introduzir jovens de hoje aos dungeon crawlers de meados de 1980. Esse gênero é focado em exploração, e sua dificuldade excessiva deixa de ser um problema e passa a ser um charme. Etrian Odyssey Untold: The Millennium Girl é uma releitura do primeiro título da série e esse fato por si já levanta muitas dúvidas: não é cedo demais para um reboot ou remake? Uma franquia que é conhecida por ser difícil e deixar tantos novatos receosos deveria fazer esse movimento agora? Convido vocês para juntos podermos descobrir as respostas dessas perguntas.

Aventura é seu nome

Etrian Odyssey Untold: The Millennium Girl chega ao ocidente alguns meses depois do seu antecessor, Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan, ambos para o Nintendo 3DS. Além dos dois primeiros títulos da franquia, os outros jogos tiveram um bom intervalo de tempo entre eles: nada muito breve para não dar tempo de sentir saudade, e nada muito demorado para não dar tempo de esquecer o último título jogado. E para nós, brasileiros, que acompanhamos o lançamento norte-americano, esse intervalo é um pouco maior devido à localização ocidental. Foi uma surpresa não apenas termos o mais recente título por essas bandas em outubro (sendo que o anterior chegou aqui no começo do ano) como também ser um remake do primeiro jogo.

Para quem ainda não se aventurou pelas raízes da Yggdrasil, pode ser fácil entender como um remake não faria sentido pela franquia ter menos de dez anos. Esse não é o único ponto que torna um remake inesperado, mas também o fato de que Etrian Odyssey, apesar de ter um visual bem amigável e convidativo, é difícil tal como os dungeon crawlers do fim do século passado. E não precisa conhecer o gênero para saber como atualmente o público consumidor de videogames tem sua grande maioria composta por jogadores casuais que optam por títulos mais fáceis e simples, que possam dar o gosto de vitória e conquista sem muito esforço. E esse definitivamente não é o caso de Etrian Odyssey: se você quer ter algo legal, você pode ter, mas pagando seu preço, tempo ou habilidade.

Mas calma! Etrian Odyssey não é um jogo impossível. Se você tem mais de vinte anos, você provavelmente já viveu o suficiente para ter se aventurado por jogos do mesmo nível ou até mais difíceis. Seu personagem é um Highlander que é enviado para cidade de Etria para cumprir uma missão especial. Após essa missão que te introduz aos conceitos básicos do jogo, você investe horas e mais horas (mesmo sem perceber) explorando florestas, fazendo seus próprios mapas desses locais, envolvido em combates contra monstros, caçando tesouros ou itens para melhorar seus equipamentos, além de desenvolver seus personagens. O jogo é muito baseado em texto (e é muito importante ler tudo) e visão em primeira pessoa, tanto para escolher suas respostas e reações em diálogos, como durante combate.

De veteranos para novatos

Esse é o título mais fácil da série. E quando digo mais fácil, não significa menos desafiador. O que quero dizer é que ele está mais simples e intuitivo do que os títulos anteriores. Nenhuma grande diferença, mas pequenos detalhes que para quem já jogou não fará diferença alguma, enquanto para quem está tendo seu primeiro contato com a série resultará em uma experiência muito mais interessante e convidativa para uma segunda chance. Como experiência pessoal, eu havia emprestado meu Etrian Odyssey IV: Legends of the Titan para uma amiga que insistiu em jogá-lo por ter gostado do visual que quase lembrava um anime, mas ela falhou muito na exploração de dungeons e por sentir-se penalizada tantas vezes (muitas dessas vezes sem entender o que fez errado), não demorou para abandonar o cartucho em um canto. Convidei a mesma para testar The Millennium Girl e… agora lembrei que preciso pegar meu cartucho de volta. Considerando os tantos comentários positivos dela sobre o jogo e a empolgação, posso concluir que sim, o título está muito mais convidativo para iniciantes no gênero.

Acredito que uma das mudanças que ajudou foi abandonar a exploração de mundo aberto. Encontrar FOEs (Fields-On Enemies, que são como chefes do jogo) quando você não está preparado e ainda ser de um nível superior ao de seus personagens, pode passar uma experiência mais real de “aventurando-se pelo desconhecido”, mas não é uma experiência agradável para quem está acostumado com jogos mais simples. Na mesma linha, o jogo traz diversas opções em suas configurações que permitem ao jogador personalizar da maneira mais pessoal possível a sua aventura.

E no exemplo que citei, o que foi que chamou atenção da pessoa? A arte, não? Como disse no começo, esse visual amigável, alegre e colorido é convidativo para jogadores que não conhecem o gênero, ainda mais depois da popularidade global que animes atingiram nos últimos anos. Um ponto que gosto na arte de Etrian Odyssey é como Yuji Himukai usa sombras, além de combinar e destacar cores vivas. Geralmente sombra está junto de cores mortas e não chamam atenção, mas em Etrian Odyssey elas acentuam a vida das cores muito bem. Ao mesmo tempo, não é nada único e exclusivo. É bem semelhante ao trabalho dele em Slayers (anime produzido pela J. C. Staff e exibido em 1995 pela TV Tokyo). Mas é um "simples" muito atrativo. Lembra também o trabalho do Takehito Harada em Disgaea e Phantom Brave. Mas Harada não usa sombras tão bem, talvez eu veja alguma semelhança apenas pelo character design.

Não apenas o visual, mas a trilha sonora é igualmente agradável. Yuzo Koshiro é o responsável por essa parte do jogo e mostra que ele ainda sabe o que faz. Ele ganhou nome no começo dos anos 1990 com títulos como The Revenge of Shinobi, Sonic: The Hegdehog e Streets of Rage, apesar de ser lembrado por muitos por seu trabalho em Shenmue (e eu não me esqueço do desagradável Time and Eternity). Entretanto, a ambientação de Etrian Odyssey é mais semelhante ao seu trabalho em Ys, onde ele teve o capricho de adicionar a dose certa de bom jazz. O que mais me chamou atenção, apesar de tudo, foi a opção de poder escolher entre jogar com a trilha sonora do primeiro título ou com sua versão atualizada. Isso pode agradar tanto os nostálgicos, quanto marinheiros de primeira viagem. E não posso esquecer de citar que a adição de vozes aos diálogos é um ponto que aumenta, e muito, o valor da obra completa. Para quem conhece outros títulos da Atlus como Shin Megami Tensei e Persona, é possível reconhecer algumas dessas vozes durante suas aventuras aqui.

O que podemos aprender com Untold?

Se você nunca jogou Etrian Odyssey, você pode (e deve) começar por aqui. Como temos um recomeço para a história, você não estará perdendo nada por não jogar os títulos anteriores da série. Etrian Odyssey Untold: The Millennium Girl pega tudo o que aprendeu com os quatro títulos anteriores e torna mais simples para aqueles que nunca jogaram, mas querem começar a jogar. Uma de suas principais características, a oportunidade de desenhar seu próprio mapa enquanto explora o local desconhecido, é facilitado nesse título, de modo que você pode configurar uma opção de auto-maping e apenas caminhar enquanto ele é desenhado por um NPC de sua party. Pessoalmente, não é algo que eu aconselho, pois uma parte bacana da experiência de Etrian Odyssey está justamente em desenhar seus mapas. E outra adição que acredito que poderá ser melhorada em jogos futuros são as Grimoire Stones que permitem usar habilidades de monstros. O conceito é bom, mas por serem tão incomuns e muitas vezes não terem a utilidade que você precisa para melhorar seu arsenal de opções, é uma novidade pouco aproveitada se você não tiver tantas horas de jogo. E por falar em horas de jogo, esse me pareceu um título mais longo que seu antecessor, já que com cerca de 50 horas eu ainda tinha muito o que fazer e não havia aberto todo conteúdo do jogo.

Você pode jogar “à moda antiga”, focando apenas em explorar dungeons e pouco se importando com os companheiros de seu grupo, ou jogar o modo história, no qual os membros de seu grupo são NPCs com personalidade própria e uma história pessoal. Aconselho fortemente o modo história, tanto para quem está começando, quanto para quem já curtiu os títulos anteriores. Vocês poderão conhecer desde o maduro e inteligente Simon, até o esquentado e impulsivo Arthur “fazendo isso com estilo”. Mas claro que eles não são nada perto da fofa Frederica Irving.
Etrian Odyssey Untold: The Millennium Girl é um jogo para quem tem paciência. Se você consegue esperar e dedicar-se pacientemente para atingir seu objetivo, você terá muito sucesso em suas aventuras. Claro que é importante igualmente planejar e elaborar estratégias tanto para combate quanto para exploração. Anotações nunca serão demais, cautela também não.

Prós


  •  Apesar de simples, faz uso do 3D melhor do que títulos lançados recentemente;
  •  As pequenas mudanças tornaram o jogo muito mais simples para novatos;
  •  O jogo consegue ser imersivo sem fazer muito esforço.

Contras


  •  Apesar do visual agradável, não é nada diferente do título anterior;
  •  Jogadores mais experientes podem se sentir um pouco limitados;
  •  Posso considerar a ausência de um multiplayer co-op?
Etrian Odyssey Untold: The Millennium Girl - Nintendo 3DS - Nota: 9.0
Revisão: Catarina Aurora
Capa: Douglas Fernandes
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