Um dos maiores atrativos do pequeno sistema portátil Nintendo DS, além das suas novidades de duas telas e de toque, em seu lançamento há nove anos atrás, foi a possibilidade de gráficos tridimensionais em um portátil, feito que a família Game Boy nunca havia atingido. Algumas possibilidades que simplesmente não podiam existir devido às restrições dos portáteis mais fracos, como jogos de tiro em primeira pessoa ou jogos de corrida mais robustos, agora se mostravam com muito mais potencial de aparecer no novo sistema da Nintendo.
O que seria impossível de imaginar, contudo, é que a Nintendo Software Techonology ousaria aproveitar-se dessa vantagem para trazer um capítulo extra da aclamada série da Retro Studios para Nintendo GameCube, a trilogia Metroid Prime, na palma de nossas mãos e na ponta de nossas stylus pelo nome de
Metroid Prime: Hunters.
Missão de escala portátil
Levando em conta a ordem da série Prime, a história de Prime: Hunters se passa, cronologicamente, entre
Metroid Prime e
Metroid Prime 2: Echoes. Após receber uma estranha mensagem telepática indicando que a chave para um suposto “poder supremo” se encontra no Aglomerado Alimbic da Galáxia Tetra, a Galatic Federation retransmite o recado para a caçadora de recompensas Samus Aran para que ela investigue e recupere esse poder e, caso ele seja irrecuperável, mantê-lo em segredo ou, em ultima instância, destruí-lo. Mal sabe Samus que ela acabaria se tornando a caça quando outros seis caçadores de recompensa interceptam a sua retransmissão e também viajam para o Aglomerado Alimbic almejando conquistar o “poder supremo” para si mesmos.
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A Galáxia Tetra era uma região inexplorada e fora dos limites de controle da Galatic Federation |
A primeira caçada
Alguns podem não saber, mas Metroid Prime: Hunters passou por um extenso processo de revisão e ajustes de acordo com a recepção do público. Sua primeira versão jogável, muito longe de ser a finalizada, dava-se na forma de uma Demo entitulada
Metroid Prime: Hunters - First Hunt, disponível para quem comprasse o Nintendo DS nas primeiras levas do lançamento. Já incluindo o multiplayer para quatro jogadores simultaneamente em modo local, a Demo demonstrava, através de missões básicas de treino, as capacidades do console com um esquema de controle ainda pouco resolvido que usava a tela de toque como analógico virtual e os botões ABXY como a mira de Samus.
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Quem se adiantou no lançamento do Nintendo DS pôde ter um gostinho do que Hunters se tornaria, mais tarde. |
Depois de uma reação negativa por parte dos fãs durante a E3 de 2005 sobre a falta de um multiplayer em rede, a Nintendo acabou por anunciar, em agosto do mesmo ano, um atraso na produção do jogo para suprir o desejo dos fãs através da integração com a Nintendo Wi-Fi Connection. O resultado foram gráficos muito bem polidos, taxa de frames excepcionalmente lisa e um novo e melhorado esquema de controle: controlar a mira através da stylus, pela tela de toque do Nintendo DS.
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Mesmo sem tanto poder de processamento, o Nintendo DS era capaz de simular belos gráficos à altura de Metroid Prime, para Nintendo GameCube. |
Rivalidade sortida
Em busca de recuperar o suposto poder supremo, Samus precisou enfrentar seis outros caçadores de recompensas de diferentes cantos da galáxia. Quando eram derrotados no modo single player, eles eram desbloqueados e utilizáveis no modo multiplayer. Cada um possuía seu próprio estilo de combate, arma de afinidade que revelavam propriedades especiais ao serem usadas pelos donos originais, forma alternativa como a Morph Ball de Samus e até mesmo sua HUD própria, alterando o visor da tela superior e o minimapa da tela inferior:
- Noxus é um caçador da pacífica raça Vhozon, que busca o poder supremo para evitar que más intenções o possuam. Sua arma de afinidade, a Judicator, é um raio de plasma supercongelado próxima ao zero absoluto que quica de paredes, e sua forma alternativa, a Vhoscythe, foi criada para mantê-lo aquecido em seu gélido planeta de origem.
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Noxus, sua HUD e a Vhoscythe |
- Spire é o ultimo representante de sua raça Diamont, e busca o poder supremo para descobrir mais sobre seu povo perdido. Seus tiros de lava da Magmaul têm um grande raio de explosão e queimam o alvo, e sua forma alternativa Dialanche o permite escalar paredes e atravessar lava.
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Spire, sua HUD e a Dialanche |
- Kanden é uma experiência de super-soldado da espécie Enoema que deu muito errado e busca o poder supremo apenas para se tornar ainda mais poderoso. Os projéteis elétricos de disparo rápido da Volt Driver criam interferências nos visores dos oponentes, enquanto sua forma de Stinglarva pode lançar pequenos mísseis teleguiados.
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Kanden, sua HUD e a Stinglarva |
- Sylux é um misterioso caçador que alimenta um grande ódio pela Galatic Federation e, por extensão, por Samus Aran, e vai atrás do poder supremo para atrapalhar os planos da heroína. Sua Shock Coil é um protótipo roubado da Galactic Federation que cura o usuário na proporção do dano elétrico que inflige ao oponente, e a sua forma de Lockjaw é a forma alternativa mais veloz dentre todos os caçadores.
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Sylux, sua HUD e a Lockjaw |
- Trace é um temido caçador de recompensas da tribo Kriken que está passando por um ritual de passagem que consiste em ser exilado para outras galáxias como forma de expandir o império Kriken. A promessa do poder supremo é a chance perfeita para retornar ao seu planeta e tornar-se um herói para seu povo. Sua Imperialist é uma sniper de longa distância capaz de matar qualquer rival com um tiro na cabeça, e sua forma de Triskelion o torna quase invisível ao ficar parado por alguns segundos.
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Trace, sua HUD e a Triskelion |
- Weavel é um Pirata Espacial que se tornou um caçador de recompensas ciborgue depois de uma antiga luta com Samus Aran que o feriu gravemente, dividindo-o ao meio. Reconstituído, Weavel busca o poder supremo como forma de vingança contra Samus. Os tiros morteiros de sua Battlehammer são afetados pela gravidade, enquanto sua forma de Halfturret o permite se separar de suas pernas que, sozinhas, tornam-se uma sentinela automática, mas estática.
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Weavel, sua HUD, e a Halfturret |
Caçada internacional
Um dos maiores atrativos de Prime: Hunters era o seu modo multiplayer. Além de poder compartilhar o jogo com mais três amigos no modo de Download Play ou utilizar mais cartões de jogo com configurações pessoais no modo Local Play, o jogo era um dos primeiros títulos do portátil de duas telas a oferecer o serviço online da Nintendo Wi-Fi Connection, juntamente com outros pioneiros como
Mario Kart DS e
Animal Crossing: Wild World. Era a primeira vez que a série Metroid finalmente pôde se conectar à internet e também a estreia da Nintendo no gênero de FPS em escala global, que finalmente podia tentar competir com concorrentes como a série Halo da Microsoft.
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Os combates multiplayer, online ou local, eram onde Hunters mostrava todo o seu mérito |
Além do tradicional modo Mata-mata (Death-match) entitulado de
Battle, o multiplayer de Hunters também incluía um modo de captura à bandeira chamado
Capture, duas variantes da modalidade King-of-the-Hill chamadas
Nodes e
Defender, um modo de vidas limitadas pelo nome de
Survival, um modo de caça ao tesouro chamado de
Bounty e o modo
Prime Hunter, no qual o primeiro jogador a efetuar um assassinato se torna o caçador-mestre e deve manter seu título pelo maior tempo possível enquanto evita que os outros roubem seu título, matando-o. Grande parte dos modos também podia ser separada em times como duas duplas ou três-contra-um com vantagens aplicadas.
Além de um mero spin off da renomada trilogia da Retro Studios, Metroid Prime: Hunters marcou a era DS por seus visuais deslumbrantes e seu salto técnico nas capacidades tridimensionais e de multiplayer online em um simples e compacto portátil. Considerando que hoje em dia o Nintendo 3DS já consegue fazer tudo isso com muito mais facilidade, será que voltaremos à rivalidade dos caçadores intergaláticos em breve, dessa vez em 3D estereoscópico?
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Igor Silva