Há pouco mais de dez anos a Nintendo surpreendeu a todos com
o lançamento do controverso The Legend of Zelda: The Wind Waker. Seguindo um
estilo gráfico completamente diferente do que toda a comunidade esperava, o
jogo utilizava-se do cel-shading, que dava à aventura a aparência de um desenho
animado. Apesar do excelente uso da técnica, em um nível acima de tudo visto na
época, muitos torceram o nariz para o que pode ser um dos mais magníficos
títulos da lendária franquia da Nintendo. Uma década se passou, e o jogo passou
a ser cada vez mais cultuado e reconhecido pelos jogadores, de maneira que a
Nintendo viu a oportunidade perfeita para desenvolver um remake do título para
o Wii U para que uma nova geração de jogadores possa conhecer um dos melhores
jogos de aventura já criados.
Todo jogo tem uma história. Apenas um é uma lenda...
Anunciado em 2001, The Legend of Zelda: The Wind Waker
parecia não possuir ligação alguma com os jogos anteriores da série. Naquele
tempo, tudo que se sabia é que Link teria que salvar a sua irmã das garras de
um pássaro bizarro que sequestrara a garota. Como sempre, a Nintendo conseguiu
esconder o jogo até o seu lançamento, e fomos surpreendidos com o mais profundo
e nostálgico enredo de toda a franquia.
Há muito tempo atrás, um jovem salvou o mundo do mal e ficou conhecido como o Herói do Tempo |
The Wind Waker se passa séculos após os eventos de Ocarina of Time (N64), período em que o reino de Hyrule já não mais existe e é apenas uma
lenda do passado. Segundo o livro Hyrule Historia, os eventos do jogo ocorrem
na linha do tempo em que o Hylian derrota Ganondorf (que é selado pelos sábios
na Sacred Realm) e fica conhecido como o Herói do Tempo. Contudo, como Zelda
envia o rapaz para o passado para que ele possa viver sua infância perdida, e
aquela Hyrule do futuro, mesmo que em paz, acaba perdendo seu herói caso alguma
tragédia viesse a ocorrer.
Zelda envia Link ao passado para que ele possa viver sua infância |
Como Hyrule não consegue ter momentos de paz muito
duradouros, Ganondorf consegue, de alguma maneira, escapar da Sacred Realm e
volta a aterrorizar Hyrule. O povo tinha a esperança que o Herói do Tempo
retornasse e conseguisse restabelecer a paz em Hyrule mais uma vez, mas ele
nunca retornou. Com isso, a única solução encontrada pelas Deusas foi de alagar
o reino e transformá-lo em uma lenda.
Hyrule foi alagada e se tornou um reino do passado |
Com a escassez de terras para se habitar, o povo de Hyrule
passou a viver em pequenas ilhas que, antes do alagamento, eram o topo das mais
altas montanhas do reino. Uma das ilhas, chamada Outset Island, criou uma
tradição em que, ao chegarem à idade adequada, os jovens garotos do vilarejo
são vestidos com os mesmos trajes utilizados pelo Herói do Tempo, na esperança
que algum possuísse a coragem para enfrentar a entidade maligna que assolava o
local, que um dia fora um reino próspero e que agora não passava de um grande
oceano.
O Herói dos Ventos
Entre tantos garotos que recebiam a roupa do grande herói de
outra era, temos Link. Habitante de Outset desde que nasceu, o menino vive com
sua avó e sua irmã, e se vê como o responsável pelo bem-estar e segurança de
ambas. No mesmo dia em que recebe, de muita má vontade, as roupas de sua avó,
Link e sua irmã testemunham um grande pássaro carregando uma garota de orelhas
pontudas enquanto um grande navio pirata tenta resgatá-la. Após várias
tentativas, os piratas conseguem atingir a grande ave e a garota cai em uma
floresta no topo de Outset.
Aryll, a irmã de Link |
Com seus instintos heroicos à flor da pele, Link decide
partir ao resgate da garota e consegue rapidamente encontrá-la. Entretanto, a
garota, chamada Tetra, é bastante arrogante e sequer agradece Link, que a segue
para fora da floresta. Lá fora, o garoto avista sua irmã correndo ao seu
encontro quando de repente o grande pássaro dá um rasante e a leva embora.
Desesperado, Link pede para Tetra levá-lo em seu navio para que ele possa
resgatar sua irmã, sem fazer a menor ideia do tamanho da encrenca em que está
se metendo.
Link partindo em sua jornada |
O garoto fica sabendo por um carteiro que há rumores que o
pássaro vive em Forsaken Fortress, local onde um ser maligno supostamente fez
sua base e que ele vem sequestrando garotas de orelhas pontudas e loiras que
encontra pelo Great Sea. Link então parte para o resgate e chega até a
fortaleza. Após explorar o local sem ser notado pela grande quantidade de
guardas espalhados por lá, o herói encontra sua irmã, mas logo é capturado pelo
pássaro que o leva ao topo do local e o entrega para seu líder, um homem grande
de cabelos avermelhados que ordena que a ave se livre do garoto.
O gigantesco pássaro impede Link de salvar sua irmã |
Link então é arremessado para longe e é resgatado por um
barco falante chamado King of Red Lions, que explica ao garoto que o homem de
cabelos vermelhos se chama Ganondorf e é o mesmo citado pela lenda do antigo
reino de Hyrule. O barco ainda revela a Link que se ele realmente deseja
resgatar sua irmã ele deverá ficar muito mais forte e que ele estava disposto a
ajuda-lo em sua jornada pelo grande oceano. E assim começa uma das mais
incríveis aventuras de Link.
Nostalgia repaginada
Apesar do preconceito de boa parte dos jogadores, The Wind
Waker sempre foi um legítimo título da série, seja pelo seu enredo ou,
principalmente, pela sua jogabilidade, que evoluiu tudo que foi apresentado por
Ocarina of Time e Majora’s Mask para um nível sem precedentes. Contudo, nem
tudo era perfeito no jogo de dez anos atrás. Em primeiro lugar, navegar pelo
Great Sea, apesar de divertido, era um pouco maçante em certos momentos da
aventura, já que o deslocamento era algo muito demorado, mesmo com a Ballad of
Gales e seus ciclones. A aventura também era conhecida por ser uma das mais
fáceis de toda a franquia e, além disso, uma determinada tarefa a ser cumprida
na segunda metade do título incomodava a muitos por quebrar completamente o
ritmo da jornada além de parecer apenas uma desculpa para alongar o jogo.
Link impressionado com o novo visual de Windfall |
Com esses problemas em mente, a Nintendo decidiu reformular
certos aspectos do jogo para torna-lo ainda melhor. A primeira medida tomada
pela Big N foi criar uma nova vela para o King of Red Lions que torna o
deslocamento pelo Great Sea algo muito mais rápido e prático. A vela, que pode
ser obtida por meio de um leilão em Windfall Island triplica a velocidade do
barco de Link e deixa as viagens mais dinâmicas e prazerosas.
Navegar se tornou algo muito mais rápido com a Swift Sail |
O Hero Mode, apresentado pela primeira vez em Skyward Sword,
faz seu retorno em The Wind Waker HD e, ao contrário do que ocorria do título
de Wii, em que era necessário finalizar a aventura para disponibilizar a nova
dificuldade, o modo já vem destravado logo de cara. Para quem não sabe, no Hero
Mode os inimigos tiram o dobro de dano com seus ataques e não é possível
encontrar corações para recuperar energia, sendo isso possível apenas com
poções. Com isso, a dificuldade do título aumenta substancialmente e,
certamente, agradará todos aqueles que se queixaram da facilidade do jogo
quando lançado para GameCube.
O Hero Mode adiciona desafio ao jogo, que é fácil na maior parte do tempo |
Por fim, a exaustiva quest final foi reformulada. Agora não
é mais necessário desembolsar milhares de Rupees e empreender uma jornada sem
fim pelo Great Sea, já que a quantidade de mapas a serem traduzidos foram reduzidos
em mais que a metade. Mesmo não sendo um com novo templo, como muitos
esperavam, o encurtamento da tarefa é satisfatório e torna tudo mais rápido e
fluido nos momentos finais da aventura que, no conjunto, é uma das mais
consistentes e envolventes da série.
A caça ao tesouro foi bastante encurtada |
Além destes ajustes nos supostos defeitos do jogo de 2002, a
Nintendo ainda adicionou outras melhorias, algumas menores e outras mais
significativas ao jogo. A mais representativa foi a inclusão das Tingle
Bottles, itens que permitem que os jogadores escrevam pequenas mensagens e
deixem-nas em garrafas para que outros jogadores, quando passarem pelo local,
recolham-nas e as leiam. A adição é interligada com o Miiverse para tornar a
experiência integrada às propostas de comunidade tanto alardeadas pela Nintendo
durante o período de lançamento do Wii U e vem para substituir a conectividade
entre o GameCube e o Game Boy Advance utilizada pelo jogo em 2002.
Obtida no inicio do jogo, a Tingle Bottle permite a troca de mensagens via Miiverse! |
The Wind Waker HD ainda faz uso de algumas funcionalidades
do GamePad, como a tela de toque – que é usada para navegar facilmente pelos
mapas e equipar itens com mais agilidade – e os sensores de movimento, que
assim como em Ocarina of Time 3D, são utilizados para mirar com o arco e flecha
e outros itens. Apesar de parecerem simples, as adições tornam a jogabilidade
muito mais fluida e prazerosa do que já era e fazem com que os controles do
jogo sejam absolutamente perfeitos. Para os que ainda não curtem o GamePad, a
Nintendo ainda adicionou a possibilidade de se jogar o título com o Pro
Controller, garantindo assim uma jogabilidade mais tradicional à aventura, que
também pode ser jogada pela tela do GamePad, sem necessidade da televisão.
Na tela do GamePad são exibidos os itens e mapas de Link |
O verdadeiro remake em HD
Nesta geração de jogos em alta definição, as desenvolvedoras
lançaram a moda de relançar jogos antigos remasterizados para tentar abocanhar
um pouco mais do dinheiro dos fãs. Com alguns filtros aqui e novas texturas
ali, boa parte dos trabalhos acabam não sendo de alta qualidade e se
caracterizam como simples caça-níqueis. The Wind Waker HD é a primeira
conversão em alta definição lançada pela Nintendo e as expectativas quanto ao
trabalho da empresa neste tipo de conversão estavam muito altas. Felizmente
elas foram alcançadas e facilmente superadas! Apesar de, em essência, o jogo
ser exatamente o mesmo, a Nintendo parece ter refeito o jogo de zero, tamanho o
capricho e cuidado com cada detalhe.
The Wind Waker HD possui cenários belíssimos! |
Os gráficos do jogo, que já eram de encher os olhos, ficaram
simplesmente fenomenais. A Nintendo aplicou texturas em alta definição e
efeitos de luz dignos de uma nova geração. Todos os cenários estão mais
detalhados, mais coloridos e belos. Navegar pelo Great Sea em meio a gaivotas
planando ao seu redor e o pôr do sol ao fundo já era uma experiência
inigualável no GameCube e se tornou algo inesquecível no Wii U, que mostra todo
seu poder no que é facilmente seu jogo mais bonito lançado até o momento.
Para os que acham que não mudou nada, pensem novamente... |
Infelizmente, as belíssimas composições do jogo não foram
orquestradas para este remake, o que é uma pena se considerarmos que o título
possui algumas das melhores trilhas sonoras de toda a série. Contudo, nem isso
tira o brilho de um remake feito com tanto esmero, que é facilmente notado
desde os primeiros minutos de jogo. Em contraposição à falta de músicas
orquestradas, nota-se facilmente a melhora dos efeitos sonoros do título, que
estão muito limpos e belos, ainda mais quando jogados com tecnologia Surround.
Além de divertido, The Wind Waker possui cenas épicas |
Clássico inesquecível... duas vezes
Se The Wind Waker foi um marco para a franquia The Legend of
Zelda em 2002, sua versão HD faz o mesmo trabalho hoje, mas para a Nintendo
como um todo. O jogo não só mostra do que o Wii U é capaz como também prova que
a Big N é capaz de recriar seus clássicos a ponto de mantê-los atuais mesmo
muito tempo após seu lançamento. The Wind Waker tem tudo para fazer com que as
vendas do Wii U cresçam e a visão do console de boa parte da indústria mude da
água para o vinho.
Com grandes melhorias em praticamente todos os aspectos
técnicos e de jogabilidade do título, The Wind Waker HD é, facilmente, o melhor
jogo lançado até agora para o Wii U, sendo obrigatório para qualquer
proprietário do console. A situação se torna ainda melhor se pensarmos que o
game é apenas uma pequena amostra do que podemos aguardar do novíssimo título
da série, que deve ser anunciado em breve. Geralmente parto do princípio de que
nada é perfeito, mas certas obras são tão gratificantes que, mesmo com alguns
defeitos mínimos, não podem ter todas as suas maiores qualidades ofuscadas por
eles, e The Wind Waker HD é uma das – senão a maior – prova desta filosofia.
Prós
- Um dos melhores enredos de toda a série;
- Grandes melhorias nos pontos criticados dez anos atrás;
- Adições incríveis à jogabilidade;
- Gráficos espetaculares que demonstram todo o poder do Wii U;
- Excelente uso do Miiverse;
- Efeitos sonoros cristalinos.
Contras
- As composições poderiam ter sido orquestradas.
The Legend of Zelda: The Wind Waker HD – Wii U – Nota: 10.0
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Leonardo Correia