A História de confrontos e aliança entre SEGA e Nintendo

em 17/10/2013

É de se espantar hoje em dia, para muitos, o caso de amor entre a SEGA e a Nintendo alcançando altos picos de felicidade. Também pudera, a... (por Jaime Ninice em 17/10/2013, via Nintendo Blast)

É de se espantar hoje em dia, para muitos, o caso de amor entre a SEGA e a Nintendo alcançando altos picos de felicidade. Também pudera, as duas maiores rivais dos anos 1990 na área de entretenimento eletrônico hoje resolvendo suas mágoas e dando as mãos é no mínimo curioso. Contudo, muitos que não presenciaram esta rivalidade acreditam fielmente serem empresas que se combinam e não veem nada de mais nesta aliança. Para isto, preparamos um roteiro especial para vos contar sobre esta história de sangue, ou melhor, de guerra por mascotes, bits e parcerias.

Duas empresas de visão

As histórias de SEGA e Nintendo são repletas de vitórias e conquistas. Se por um lado a Nintendo se viu vitoriosa ao alcançar o mercado norte americano após longa resistência e parcerias, a SEGA se esforçou para quebrar o domínio da Nintendo e seu NES no final dos anos 1980.

Com vocês: Opa-Opa
Fundada em 1940 com o nome Standard Games, a SEGA era a responsável pelos fliperamas, os famosos jukebox, de bases militares no Hawaii. Nos anos 1950 ela toma o nome que seria base para o que é utilizado até hoje, Service Games, e em 1965, com base firmada no Japão após uma parceria com David Rosen, que mantinha cabines de fotografia em Tokyo, SeGa Enterprises. Tentou o ramo de games com o SG-100 em 1981, mas logo depois lança o Mark III no Japão em 20 de outubro de 1985, nomeando-o Master System para o resto do mundo, onde possuía como mascote uma espaçonave em formato de ovo chamada Opa-Opa, trocada depois pelo popular Alex Kidd, para rivalizar com Mario.

Primeiro logotipo da SEGA. Bem diferente do atual, não?
Já a Nintendo possui bases mais longínquas. Surgindo em 1889 como uma empresa de cartas, ingressou na área de brinquedos e alcançou fama ao se dedicar ao mercado de entretenimento eletrônico após salvar o mundo da terrível crise dos games provocada pela Atari em 1984 [veja Box], trazendo novas ideias e apostas, games para um público maior e um carisma que não se encontrava em qualquer companhia. O mundo passou a conhecer o que era “jogar videogame” de verdade e se divertir muito.

Cartas Hanafuda com temas da série Super Mario

A crise dos games de 1984

Após sucessivos lançamentos de consoles e jogos desde seu início, houve uma terrível queda nas vendas desta área nos EUA. Pode ser difícil de acreditar que um setor tão futurista estivesse com os dias contados, porém, tal fato foi resultado de estratégias ruins e de propostas mal planejadas e desinteressantes para o ramo. A grande quantidade de títulos ruins, adaptações toscas de filmes, como E.T., a filosofia de não dar crédito aos desenvolvedores, marketing agressivo dos PCs, enfim, muitas coisas geraram a crise dos videogames, quando muitos chegaram até a achar que este não seria mais o futuro! 

De uma coisa estamos certos, as duas empresas que foram líderes neste recomeço da indústria entraram no jogo para ganhar, e muito se viu tempos depois, como melhor competitividade e características que dominam até hoje o mundo do entretenimento eletrônico.
ET: fracasso total, ao menos nos games.

Mundo gamer nos EUA e rivalidade acirrada

A SEGA, recém-chegada no mercado de consoles, decide lançar seu mais novo console em 1988, o Mega Drive. Seu console 16-bits possuía maior potência, qualidade gráfica, com planos de fundo independentes e telas de alta resolução, sonoridade próximo aos CDs, ficando à frente do NES, mas ainda assim custava o dobro, o que não agradou muito. Porém, ainda era muito difícil driblar a grande campeã em vendas nos EUA. Uma curiosidade da época foi que Paul McCartney (ex-Beetles), quando esteve no Japão desistiu de visitar o Monte Fuji para conhecer Shigeru Miyamoto.

Em 1991 surge o personagem Sonic no jogo Sonic the Hedgehog. A ideia de um novo mascote visava combater o domínio da Nintendo no mercado, já que esta estava na casa da maioria das crianças. Sonic e sua proposta mais veloz e jovial, que misturava atitude e características de reflexo e modernidade, tendência tão em voga nos anos 1990, mostrava os pontos fracos de Mario e se aproveitava de seus pontos fortes, em um jogo com a mesma finalidade: chegar ao outro lado da tela, mas coletando argolas, capturando itens em caixas e vencendo inimigos. Também nesta época, Yuji Naka resolve ir para Los Angeles com sua equipe e trabalha ainda mais no universo de Sonic, que ganha uma turma.

A partir daí a briga começava de verdade. De um lado a SEGA, tentando se estabelecer como uma vendedora no mercado estadunidense apostava alto em comerciais, brinquedos, revistas, quadrinhos, séries de TV, assim como a Nintendo já fazia há um tempo. Não demorou muito e propagandas ao estilo “Pepsi x Coca-Cola” apareciam para puxar um público mais adolescente, para os quais contratos com esportistas para games da EA e até com ídolos musicais como Michael Jackson foram feitos. Houve também uma tentativa de se impor frente à Big N tentando trazer para si donas de marcas conhecidas que não queriam mais viver às ordens do selo de qualidade e exclusivismo de fabricação da Nintendo.
O jogo musical-plataforma Moonwalker até que fez certo sucesso com o público fã de Michael.

Os comerciais não deixam mentir

Uma série de comerciais de uma empresa provocando a outra foram alvo de críticas e apostas dos fãs das duas rivais em suas casas. Vejamos algumas das propagandas que mais bombardearam as casas das crianças que viriam a optar por um dos dois sistemas predominantes na área de entretenimento eletrônico por um bom tempo. 

Genesis does what Nintendon't! – Este virou meme na época e alvo de bullyng contra a Nintendo, podemos dizer. 

Sonic the Hedgehog commercial (SEGA Genesis) – Trata-se de marketing agressivo, onde um vendedor tenta convencer o cliente a comprar um SNES, sem sucesso. 

SEGA Commercial - Sega Vs. Nintendo – A velocidade estava na moda e quem não queria se gabar um pouco disso nos anos 1990? 

Segata Sanshiro Sega Saturn Commercials – Um pouco de Segata Sanshiro não faz mal a ninguém. Aliás, faz!

Exemplo de cutucada Nintendo na SEGA, anunciando os maiores heróis
A Nintendo resolveu investir em um novo console, o SNES (Super Nintendo Enterntainment System), já que precisava de um console 16-bit para entrar na disputa antes que fosse tarde demais. Mas nem tudo eram flores. Os pais, em sã inocência, não acreditavam que comprar um novo videogame da Nintendo fosse tão interessante para quem já possuía um (o NES). Era mais gasto e mais um console da mesma marca em casa. Contudo, a Nintendo conseguiu driblar isso com o tempo, novamente investindo no mercado estadunidense, até que finalmente conseguiu se estabelecer e criar um futuro tão promissor quanto o que a SEGA estava criando.

A queda do Dreamcast e o início da reconciliação

Após um longo tempo, a SEGA teve um certo fracasso com seu recente lançamento de 32-bits, o SEGA Saturn, que desanimou a Nintendo a trocar de mídia, e ajudou a Sony a quebrar a parceria que tinha com a Big N, passando a andar com seus próprios pés. Posteriormente, chegando na era 128-bits e com a Sony já forte na disputa, a SEGA viu seu império cair com o fracasso em vendas do chamado Dreamcast. De fato, o console 128-bits da SEGA continha o melhor hardware da época e uma campanha de marketing que mostrava muitas revoluções, fazendo-nos sonhar (perdão o trocadilho) com a nova geração que chegava. Mas o que fazer com o mercado que esperava ansiosamente pelo PS2 e ainda curtia os últimos games do N64, e do PS, sem querer que o dia acabasse.

Um pouco do Sega Saturn, seus jogos e acessórios. Ser Seguista era assumir uma posição de respeito nos anos 1990.
Muitos que jogavam no time contra a Nintendo (sim, o fanboyismo existia ainda mais nos anos 2000) já haviam migrado de SEGA para Sony, e outros viam na Nintendo uma empresa tão popular e com as mesmas qualidades que sua antiga e única concorrente de peso.

Eis que no ano de 2001 a SEGA decide parar de fabricar consoles e resolve se dedicar única e exclusivamente a ser uma produtora de games. E o resultado disso tudo veio com dois títulos de grande prestígio da SEGA estreando em consoles da Nintendo: Sonic Adventure 2: Battle (GC) e Sonic Advance (GBA).

Foi aqui que tudo começou, e em grande estilo!

O casamento e um final feliz (ao menos para a Nintendo)

Em 2001, o mascote da SEGA finalmente aparece estampado em diversas capas de revistas de videogames, em especial dos exclusivos sobre a Nintendo, como a brasileira Nintendo World. Tal fato quebrou um paradigma absurdo até então: ver Sonic e Nintendo dividindo a mesma capa (Sonic Wings (SNES) não conta, tá!).

A partir de muitos jogos que vieram depois, a SEGA foi dando atenção às outras plataformas também, como o Xbox, estreante da geração. Junto ao GC, eles representavam uma turbinada nos consoles 128-bits e podiam ostentar títulos mais robustos – claro que isso era e sempre será da capacidade das desenvolvedoras em conseguir explorar o que o hardware tem a oferecer, ser criativa, etc.

Sonic Heroes, exemplo de perfeição ao mundo dos jogos de Sonic em 3D! Fez sucesso com os fãs da franquia.
Também podemos perceber uma atenção especial por parte da SEGA em desenvolver seus títulos para os consoles Nintendo, dando-nos a impressão de que as melhores versões ou que a maior parte delas eram encaminhadas aos consoles da Big N.

E que venham mais títulos com o selo S de qualidade

Pudemos ver nesta E3 que três títulos estão a caminho, com exclusividade, aos consoles Wii U e 3DS. Trata-se de Sonic and Lost World (Wii U/3DS), Mario e Sonic at the Sochi 2014 Olympic Winter Games (Wii U), além de um jogo ainda não revelado pela empresa. Ainda, a recente aquisição da ATLUS pela SEGA poderá gerar bons frutos, já que esta também mantém uma relação próxima com a Nintendo.

Sonic se prepara para mais uma grande aventura em Lost World. Dá-lhe ouriço!
Muitos anos se passaram e temos visto que as duas gigantes estão mais próximas do que nunca. Está certo que elas possuem as mesmas qualidades, como tentar agregar ao máximo games divertidos e com forte apelo dos fãs. Diante disto, como não deixar de imaginar que elas deveriam estar juntas desde o início?

Vamos torcer para que essa união continue rendendo boas parcerias e, lógico, jogos maravilhosos. O mundo gamer só tem a agradecer, a jogar e aproveitar muitos jogos e a cultura proporcionada por eles. “Let’s a go”, cause it’s a  “Piece of Cake”!

A briga teve um final feliz e tomara que  este final continue rendendo bons jogos!
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Diego Migueis
Siga o Blast nas Redes Sociais

Jaime Ninice é cravista, formado pela UFRJ, e mestre em música na mesma instituição. Sua paixão por games, eventos e revistas o levou a escrever e revisar artigos desde 2010 no @Blast. Hoje é redator das publicações impressas sobre retrogames WarpZone.me
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).