Análise: Yeah! Obra-prima e a primeira lenda do Wii U, Rayman Legends prova porque é o melhor jogo 2D dos últimos anos

em 21/09/2013

Ele não tem braços, mas possui mãos. Não tem pernas, porém tem pés. Tem cabeça, mas não possui pescoço. Era para ter nascido no Super Nin... (por Alex Sandro de Mattos em 21/09/2013, via Nintendo Blast)


Ele não tem braços, mas possui mãos. Não tem pernas, porém tem pés. Tem cabeça, mas não possui pescoço. Era para ter nascido no Super Nintendo com o projeto de CD-ROM para o console, que posteriormente foi cancelado, e acabou estreando no primeiro PlayStation com um ótimo jogo side-scrolling. Tornou-se o mascote da Ubisoft, foi explorar mundos tridimensionais e perdeu espaço para os Rabbids, os coelhos doidões. Voltou às suas raízes em Origins e agora está de volta, em uma impecável e imperdível aventura 2D, tornando-se uma lenda no Wii U. Ele é Rayman e essa aventura é Legends.

Um "ex-exclusivo" ainda com cara de exclusivo

A Ubisoft é uma das poucas third parties que ainda apoiam fortemente o Wii U. A desenvolvedora francesa tem um bom histórico de participação no início da vida dos consoles da Nintendo. Na line up do Wii, a Ubisoft trouxe o exclusivo Red Steel e Rayman Raving Rabbids; no 3DS, tivemos Rayman 3D, Ghost Recon: Shadow Wars e Asphalt 3D. Na E3 2012, soubemos que a Ubisoft traria vários títulos para o lançamento do Wii U e dois exclusivos se destacaram: ZombiU e Rayman Legends.

Ambos prometiam usar o GamePad de maneiras únicas, demonstrando o propósito da segunda tela e até mesmo o posteriormente cancelado recurso NFC (Near Field Communication - quem não se lembra do vídeo em que o jogador colocava um Rabbid e um coração no controle e ambos apareciam no jogo?). ZombiU foi um título de lançamento, mas Legends acabou sendo adiado para fevereiro.


Eis que então, em fevereiro deste ano, pouco antes do lançamento de Rayman Legends, tivemos uma grande surpresa: ele não seria mais um título exclusivo do Wii U e apareceria em outras plataformas. Além disso, o lançamento do jogo foi adiado mais uma vez. Para acalmar os ânimos dos fãs da Nintendo, a Ubisoft lançou um divertido aplicativo online com desafios diários e semanais, que ficou ativo até o lançamento do jogo (aplicativo que o redator que vos escreve fez questão de jogar todos os dias).

"Sapo-fada? Não gostei, melhor
empurrar esse parágrafo pra lá!"
Porém, mesmo com a não-exclusividade, é mais do que evidente que o título ainda tem aquela cara de exclusivo, afinal ele nasceu como um jogo do Wii U. Rayman Legends foca-se no uso de Murphy, um personagem espécie de mosca que mais parece um sapo-fada, através da tela do GamePad. Mostrando-se extremamente funcional e único, é nele que está o grande destaque da diversão do título.

Jogando uma obra de arte

Durante um século, Rayman, Globox e os Teensies dormiram enquanto pesadelos de Bubble Dreamer voltaram em bolhas, prejudicando e destruindo vários mundos. Resta agora aos heróis dorminhocos colocar tudo em ordem, ou seja, você e até mais quatro amigos, com um jogador controlando Murphy pela tela do GamePad. Você pode ter visto e jogado assim em New Super Mario Bros. U, mas não como em Legends, que eleva o uso do GamePad e o conceito de jogabilidade assimétrica.

Rayman e Globox podem usar as vestimentas de Mario e Luigi,
exclusivas da versão de Wii U. Até as asas do Wing Cap aparecem!
Por mais que jogos 2D possuam mais limitações e menos liberdade do que jogos tridimensionais, Rayman Legends se mostra criativo. O design nas fases possui uma variedade absurda, mesmo que você esteja agindo como em outros jogos de plataforma, correndo, pulando, escalando paredes ou acabando com inimigos. Cenários detalhados, sempre em movimento, um visual polido e exuberante. Se Origins já era incrível, a Ubisoft deu ainda mais brilho e vida à engine Ubi Art Framework. Legends é uma obra de arte viva e vibrante, fazendo parecer que tudo foi desenhado e pintado à mão. Até mesmo as 40 fases de Rayman Origins, que estão presentes aqui, aparentam estar ainda mais belas. Se você jogou o título do Wii vai se surpreender com o "upgrade" desses níveis em Legends.

As fases de Legends são acessadas pulando em quadros (alguém se lembrou de Super Mario 64?) e você terá mais de 120 delas para superar, sendo que grande parte delas são extensas. Claro que nem todas estão disponíveis de início, mas são liberadas conforme você vai resgatando os Teensies - há 700 deles esperando pela sua ajuda - aprisionados pelos cenários. Legends permite uma certa liberdade na progressão e escolha de fases, pois não há uma linearidade exata, basta você salvar os Teensies que os quadros são liberados automaticamente — lembrando que há níveis de dificuldade diferentes entre eles. A dificuldade é mostrada na parte inferior dos quadros: quanto mais cabeças de caveiras, maior será a dificuldade.

E por falar em dificuldade, ela é crescente e as fases são desafiadoras na medida certa. Como não há vidas, caso o jogador morra ou sofra dano, volta para o último checkpoint. É possível encontrar um coração nos estágios salvando Teensies ou antes de entrar neles (isso mesmo, na tela de loading), que permite que você sofra um dano e não morra, mas fases mais avançadas exigirão atenção e habilidade. Jogar com amigos pode ser uma solução se você estiver empacado em algum nível, pois assim que morrer, seu personagem se torna uma bolha e pode ser resgatado pelos outros players.

Duas telas, o dobro de diversão

Usar o GamePad para acompanhar os personagens na tela é algo divertido, fluído e convidativo. Murphy pode puxar e empurrar plataformas e blocos, fazer cócegas em inimigos, eliminar alguns tocando neles, movimentar alavancas, cortar cordas, remover armadilhas e muito mais usando a touch screen do GamePad. Nesses momentos, a tela do GamePad exibe a mesma cena que a TV e, se estiver jogando no singleplayer, a Inteligência Artificial cuidará do personagem principal. Você não terá dificuldades em lidar com a máquina, afinal, ela apenas caminha pelo cenário, cadenciando o gameplay e, vez ou outra, ela vai morrer idiotamente porque você demorou ou agiu rápido demais com Murphy.

Mas o ideal é jogá-lo no multiplayer. Com um amigo/irmão/parente, Rayman Legends mostra todo o seu potencial exigindo a comunicação entre os presentes e a diversão dobra. Quando se joga com dois jogadores, por exemplo, aquele que está com o GamePad assume o papel do Murphy e o segundo pode controlar normalmente o personagem, o que garante boas risadas e uma jogabilidade mais ágil. Também há momentos em que é preciso girar manivelas e plataformas usando o giroscópio e inclinando o GamePad.

Arraste, puxe, clique, incline e gire o GamePad.
É assim que se faz a jogabilidade assimétrica
Há uma fase de bolo, onde ao arrastar o dedo pela tela, Murphy vai comendo o recheio e criando caminho para os personagens. Em determinado estágio, você precisa controlar a iluminação para impedir que inimigos detectem Rayman. Em outro momento, você estará puxando uma espécie de estilingue no GamePad para disparar pedras em dragões ou para lançar Rayman para o cenário de fundo. Outro detalhe curioso é que, por ser feito em camadas, o cenário se torna interativo para Murphy. Existem momentos em que há um inimigo no plano de fundo ou uma aranha, e até mesmo candelabros em primeiro plano, à frente da ação onde os personagens do jogo estão. Com um toque nesses inimigos nos outros planos, Murphy pode matá-lo e ganhar Lums extras. Tocando nos Lums pelas fases e deixando-os rosas, acabam valendo o dobro dos dourados, essencial para quem quiser conseguir o troféu de ouro por coletar vários deles.

"Riscando" a tela do GamePad, Murphy come o bolo
 cria caminho para os personagens

"Ritmo... é ritmo de festa!"

"Quero ver. Outra vez.
Seus olhinhos de noite serena..."
Além do uso de Murphy, um dos grandes atrativos de Rayman Legends são as fases musicais. Cada mundo traz um estágio musical no qual o personagem precisa correr sem parar, pulando, esquivando, acabando com inimigos e resgatando os Teensies em gaiolas durante o percurso. O mais incrível é que a canção acompanha todo o seu progresso pela fase. Socos em inimigos posicionados estrategicamente são acompanhados por batidas de bateria. Ao escorregar por cordas e correntes, ouve-se toques de guitarra, por exemplo. É algo contagiante e viciante. Dificilmente você jogará essas fases uma única vez, afinal elas são curtas, mas cativantes e também será preciso coletar Lums nelas.

Entre fases musicais com canções orquestradas e em 8-bits, há as baseadas em repertórios já conhecidos em outras mídias. Por exemplo, a fase Castle Rock traz Black Betty da banda de rock Ram Jam; você jogará o estágio Dragon Slayer ao som de Antisocial, música da banda de heavy metal Anthrax; nadar pelo nível Gloo Gloo ao som da canção Woo Hoo do filme Kill Bill; e jogar Mariarchi Madness no ritmo de Eye of theTiger, o single da banda de rock Survivor que se consagrou no filme Rocky III. Assim como as canções das fases, você vai entrar no ritmo, cantarolar e assoviar sem nem perceber.

A primeira lenda do Wii U

Rayman Legends traz ainda uma variedade extensa de extras e coisas para se fazer. É preciso salvar os Teensies aprisionados pelas fases (a grande maioria está em gaiolas visíveis, porém, há outros escondidos em passagens secretas que às vezes estão evidentes), coletar determinado número de Lums, desbloquear personagens e fases, batalhar contra chefes variados e criativos, realizar desafios diários e semanais online, com a possibilidade de desafiar um amigo e correr contra os ghosts (fantasmas) de adversários, além de disputar a leaderboard online.

Kung Foot, o divertido modo multiplayer que mistura porrada e futebol.
Não precisamos mais de FIFA #choraEA
O título possui o humor característico da série, com dezenas de fases variadíssimas, um visual exuberante e carismático, como se fosse um desenhado animado com vida, além de exibir um uso do GamePad de forma única, interativa e inovadora. Legends é maior, melhor, mais impressionante e desafiador que Origins. Rayman pode não ter nascido em um console Nintendo, mas é no Wii U que se torna uma lenda dos jogos de plataforma 2D. Rayman Legends é uma obra-prima e o melhor jogo side-scrolling dos últimos anos. Não dê uma de Rayman João-sem-braço e jogue Legends, pois este é um game obrigatório para todos os donos de Wii U. Pode haver falta de membros em Rayman, mas ausência é algo que não se reflete em Legends.

Prós

  • Cenários belíssimos e brilhantes, demonstrando a engine Ubi Art Framework;
  • Uso criativo, variado e único do GamePad ao controlar Murphy;
  • Desafios diários e semanais e leaderboard online;
  • Áudio e fases musicais extremamente viciantes.

Contra

  • Ter demorado tanto tempo para jogarmos essa obra-prima (não nos esquecemos dos adiamentos, somos rancorosos mesmo!).
"DEZ!?"

Rayman Legends - Nintendo Wii U - Nota Final: 10,0



Revisão: Jaime Ninice
Capa: Diego Migueis



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Desde que aprendeu a jogar videogames com Yoshi's Island e Donkey Kong Country 2, sempre é visto com um controle ou portátil da Nintendo na mão. Descobriu o amor por The Legend of Zelda com Ocarina of Time e sempre está querendo mais Zeldas. Gosta de escrever notícias, análises e bobagens aqui enquanto não está sonhando com um novo Silent Hill.
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