A maldição de Majora's Mask: O jogo que demorei 12 anos para terminar

em 03/08/2013

Quantos games vocês já começaram a jogar? E quantos destes vocês terminaram? É inevitável que a maioria das pessoas não termine todos os... (por Luciana Anselmo em 03/08/2013, via Nintendo Blast)

Quantos games vocês já começaram a jogar? E quantos destes vocês terminaram? É inevitável que a maioria das pessoas não termine todos os jogos que começam. Talvez por serem chatos, difíceis, pela perda de interesse ou até mesmo por acharmos algo melhor para fazer ou jogar. Seja lá qual for o motivo, isto acaba acontecendo e nossa coleção de jogos não terminados vai aumentando. Posso dizer que isto aconteceu muito comigo, principalmente na época do SNES e Mega Drive, quando nos preocupávamos mais com a diversão instantânea do que em realmente terminar a maioria dos jogos. Talvez a dificuldade e falta de noção de alguns ajudasse no processo, mas muitas vezes eu só jogava para me divertir por uma meia hora e desligava o console. Atualmente, as coisas não melhoraram muito, já que com tantos lançamentos e promoções, as pessoas compram cada vez mais jogos e, afinal, quem nunca comprou um novo título imperdível e o deixou encostado na prateleira?

Nas gerações seguintes, este conceito caiu e terminar um jogo era o mínimo que alguém poderia fazer depois de comprá-lo. Mas isso nunca me impediu de enrolar nos games que jogava. Talvez seja o mau hábito da geração 8 e 16 bit, mas, até hoje, eu não tenho a menor pressa de “zerar” meus jogos. Claro que alguns são tão curtos e divertidos que não tem como enrolar, e outros, por mais que demorem mais de 60 horas para completar apenas a história principal, são tão especiais que merecem atenção total. Aliás, para mim, existe uma franquia mais do que especial e que fez parte de toda minha infância. A “saga” que lhes contarei hoje é sobre um dos jogos desta franquia. Um que, por muitos motivos, demorei 12 anos para terminar. Acho que vocês o conhecem muito bem: The Legend of Zelda: Majora’s Mask.




Nasce uma nova paixão... e uma maldição

Por sorte, a década de 1990 foi uma época em que você podia ser amigo de seus vizinhos. Entre uma brincadeira com tazos e alguns episódios de Freakazoid, eu ia à casa de um desses amigos para jogar Super Nintendo, meu videogame favorito. Como este amigo sempre alugava muitos jogos, eu acabava experimentando diversos clássicos do SNES, e foi em um dia qualquer que acabei me divertindo com um jogo cujo personagem principal era um garotinho de roupas verdes e cabelo rosa. Aquele foi meu primeiro contato com The Legend of Zelda e eu demoraria anos para saber que aquele jogo era A Link to the Past e que a série da qual este título fazia parte seria a minha favorita dos videogames. Eu, assim como muitas crianças daquela época, não ligava muito em lembrar o nome de alguns jogos. Desta forma, não teria como saber que o jogo que veria em breve fazia parte da mesma família.


Em 1998, Ocarina of Time foi lançado e conquistou os donos do Nintendo 64, especialmente meu irmão, Renan, que tinha o console, mas por medo de eu o quebrar sequer me deixava tocá-lo. Mesmo assim, graças a ele, soube o que era Zelda e sem muita noção do que se tratava direito, eu o assistia jogando, completamente fascinada. Aquilo era totalmente diferente de tudo o que havíamos visto e foi amor à primeira vista para nós dois. Quando eu conseguia, ligava o videogame escondida, entrava no save do meu irmão e passeava por Hyrule com Epona, sempre com muito medo dos ReDeads e encantada por aquele mundo enorme e aberto, com desertos, cachoeiras, florestas e vulcões.


Dois anos se passaram e o sucessor daquele jogo mágico foi lançado. Era Majora’s Mask, que parecia muito diferente do mundo fantástico que havia conhecido. Ainda não tinha “permissão” para jogar o N64 livremente e como era criança, tinha medo daquele clima sombrio de destruição e morte que pairava na atmosfera do game o tempo todo, então acabei esperando muito tempo para decidir me aventurar pelo save de meu irmão. Mas finalmente o fiz em 2001, o ano em que a minha saga com Majora’s Mask começou. A única coisa que sentia era uma grande inquietação com o tenso clima de Termina, a ameaça da destruição iminente, a trilha sonora melancólica, os personagens que morriam e até mesmo a Clock Town abandonada no terceiro dia. Isto tudo era como OoT, que até tinha muitos elementos sombrios mas não a todo momento. Enfim, este sentimento foi crescendo e a pequena Lú aqui criou uma certa barreira e perdeu completamente a vontade de jogar o game.


Diversão ao cubo

Lá se foram dois anos, o N64 pegava poeira na caixa e o PlayStation 2 havia tomado conta da nossa casa enquanto desejavámos um GameCube. Em meu aniversário daquele ano, meu irmão me deu seu Nintendo 64. Sim, finalmente! De imediato comecei a jogar meus “novos” jogos, que consistiam dos dois Zelda na verdade. Rapidamente terminei Ocarina of Time e meio relutante e com minhas antigas memórias não tão boas, comecei Majora’s Mask. Logo percebi que o jogo era tão diferente e sombrio que me fascinava e passei pelos três primeiros templos e por Ikana Castle rapidamente. Mas quando estava prestes a começar o quarto e último templo, o Stone Tower, meu irmão me disse: “O que você acha de vender o N64 e comprar um GameCube?”. Concordei na mesma hora, afinal o GC era um sonho de consumo para nós dois e nem lembrei que teria que me desfazer dos meus cartuchos de Zelda. Quando chegou a hora, me dei conta... faltava tão pouco para terminar e teria que vender meu Majora’s Mask. Mas segui em frente já que meu irmão havia comprado o Collector’s Edition (edição especial com os dois primeiros jogos de NES, Ocarina of Time, Majora’s Mask, demo de vinte minutos de Wind Waker e uma retrospectiva da série) e eu poderia começar de novo no GameCube.


Antes disso, gastei longas horas fazendo de tudo em Wind Waker e apenas em 2005 comecei a jogar Ocarina of Time mais uma vez. Claro que as maravilhas do Collector’s Edition acabavam sendo ofuscadas pelos jogos fantásticos do cubinho, então eu enrolei bastante até chegar ao fim de OoT mais uma vez para só então começar uma nova partida de Majora’s Mask, que era o que realmente importava. Novamente, depois de enrolar um pouco e alternar entre outros jogos do cubo, passei pelos três primeiros templos. Eis que Twilight Princess foi lançado e só retornei à minha aventura por Termina depois de dezenas de horas gastas em Hyrule, mas já era 2007 e meu irmão me disse: “Vamos vender o GC e comprar o Wii?”. Aceitei, mais uma vez, simplesmente porque aquele “revolucionário” videogame havia me conquistado cegamente. Infelizmente o GameCube se foi e meu Harvest Moon: A Wonderful Life também. Mas como vocês sabem, o Wii lê jogos de GC e eu podia colocar meu memory card com meus saves nele e continuar de onde parei. Maravilhoso, certo?! Seria se o controle do GC não tivesse sido vendido com o console, pois sem ele, não poderia fazer nada com meus joguinhos antigos e mais uma vez, Majora’s Mask ficou de lado.


A aventura que nunca "termina"

O tempo passou, o Wii chegou e eu tentei esquecer de Zelda enquanto me divertia com aquele videogame diferente. Muitos jogos depois, em um belo dia, meu irmão (meu salvador) apareceu com um novo controle de GameCube para que finalmente pudéssemos jogar nossos clássicos cúbicos. E depois de aproveitar um pouco dos meus antigos saves de Harvest Moon, Pikmin, Eternal Darkness e Resident Evil, resolvi que era hora de voltar à Clock Town e acabar com esse martírio de uma vez por todas. Já era 2010, e para minha surpresa, quando selecionei Majora’s Mask no menu do Collector’s Edition, eu simplesmente queria desligar o Wii. Pois é, até hoje eu não entendo, mas não tinha a menor vontade de fazer nada naquele jogo. Não sei se era porque tive que fazer tudo duas vezes, porque tive que adiar por muito tempo ou porque tudo parecia tão complicadinho e tedioso naquele jogo. Não se enganem, eu adoro Majora’s Mask! Apenas não conseguia escapar desta sensação, mas ainda assim, ao longo do tempo, fiz muitas sidequests curtas para conseguir as últimas máscaras, pedaços de corações e algumas coisas mais inúteis, tudo pela minha falta de vontade.


O tempo foi passando, Skyward Sword surgiu e eu encostei Majora’s Mask de vez, mas aquilo já estava virando piada. Quer dizer, eu já havia jogado e terminado um monte de outros jogos da série neste meio tempo. Além dos principais, eu havia jogado as versões dos portáteis e Miyamoto que me perdoe, mas até a trilogia de cocôzinho do CD-i já tinha passado pelas minhas mãos. Então por que eu não conseguia nem me propor a terminar aquele bendito jogo? Já havia lido a creepypasta sobre o game, mas isto era pior! Até algumas pessoas do Blast me “discriminaram” por nunca ter terminado o jogo... Esta história completou doze anos em 2013, e decidi que seria neste ano que ela terminaria.


As máscaras caem

Com apoio moral de alguns e descrença de outros (meu irmão, por exemplo), escolhi um fim de semana para dar fim a esta saga. Era uma noite fria de sábado, apaguei as luzes do meu quarto, sentei no chão em frente à televisão (como nos velhos tempos), liguei o Wii, selecionei Majora’s Mask e encarei meu antigo jogo salvo de quase uma década. Fiz tudo o que era necessário para se chegar a Ikana Castle e passei por este mini templo mais uma vez. Me impressionei por aguentar tanto tempo sem desligar o console e finalmente o que me esperava era o último templo, aquele que nunca havia entrado... o Stone Tower. Já era tarde, toquei a canção do templo em minha ocarina para voltar ao primeiro e fui dormir, afinal, eu teria o fim de Majora’s Mask me esperando no dia seguinte.


Enfim, na tarde de domingo, retornei à Clock Town e me dirigi rapidamente à Stone Tower. Aquele templo era diferente, confuso e meio estranho, tínhamos que usar diversos itens e todas as máscaras especiais nele e, como era minha primeira vez lá, acabei demorando um pouco mais do que esperava. Mas finalmente tinha a Boss Key! Pensei um pouco e decidi pegar as duas últimas Stray Fairies daquele templo, algo que tomaria uns cinco minutos do meu tempo, nada para alguém que havia demorado doze anos para chegar até aquele ponto. Achei uma delas e estava prestes a pegar a segunda, mas de repente meu Link em forma de Zora não estava se mexendo... achei meio estranho e logo ouvi um zumbido que ficava cada vez mais alto. Ah, não... o jogo tinha travado!





Quem nunca jogou este game vai pensar: “Ué, mas você não salvou? Então qual o problema?!”. Eu lhes digo o problema! Majora’s Mask é um pouco diferente quando o assunto é salvar o progresso. Você não pode fazer isso quando quiser, existem apenas dois momentos para isto: quando você toca a canção do tempo e volta ao primeiro dia, o progresso é salvo automaticamente, e quando você vai até uma estátua de coruja, que salva seu progresso sem a necessidade de voltar ao primeiro dia, que é útil quando você não quer fazer tudo de uma vez. O esquema da estátua seria perfeito se não fosse um detalhe: o progresso é salvo temporariamente e você é levado ao menu. Quando retornar ao jogo, vai estar tudo como você deixou, mas o save deixa de existir, ou seja, se você sair do jogo logo em seguida, tudo é perdido. Então não existe opção, se o jogo travou no meio do templo, tudo é perdido.


Nasce um novo dia

Eu olhei espantada para minha televisão enquanto ouvia aquele zumbido sem fim, mal podia acreditar. Tinha vontade de rir, só podia ser uma piada cósmica. Aquilo não era exatamente a coisa mais incentivadora que poderia ter acontecido, perdi meu domingo com aquilo e de repente era como se não tivesse feito nada, e quando vi que não havia jeito, desliguei o Wii da tomada. Tentei esquecer daquilo fazendo outras coisas, mas não conseguia parar de pensar nessa maldição de jogo chamado Majora’s Mask. Nestas horas de “reflexão”, tive a ideia de escrever este texto, simplesmente porque esta história tinha virado uma verdadeira saga e eu tinha que compartilhar com vocês. Mas para escrever, eu teria que dar um final feliz a esta história, e assim, segui mais uma vez para refazer toda a minha jornada por Stone Tower.


Assim que encarei Clock Town, suspirei... Já era tarde e eu teria que acordar cedo no dia seguinte, mas tinha que terminar aquele templo pelo menos. Tudo foi mais rápido, já sabia exatamente o que tinha que fazer e em menos de meia hora, peguei a Boss Key. Novamente, faltavam duas Stray Fairies, mas eu não arrisquei, segui direto para a minha batalha com os monstros gigantes. Assim que terminei, salvei com toda pressa do mundo e desliguei, aliviada em saber que no dia seguinte aquilo chegaria ao fim. Então, sem mais delongas, na noite de segunda-feira, quando já tinha todas minhas máscaras, esperei até as horas finais do terceiro dia, chamei os quatro gigantes e fui à lua atrás de Majora. Depois de pegar os últimos quatro pedaços de corações com as crianças estranhas, fui para a batalha com a minha nova Fierce Deity’s Mask. Para terem noção, o feito de terminar era tão extraordinário que até meu irmão veio “assistir”. E junto com ele, que introduziu The Legend of Zelda na minha vida, eu venci as três formas malignas de Majora e finalmente assisti ao final agridoce daquele jogo que eu demorei doze anos para terminar.

Neste período de tempo, eu cresci, os tazos deixaram de ser distribuídos nos salgadinhos, membros do Blast nasceram (é possível), a Sega deixou de fabricar consoles, três gerações de videogame se passaram, eu joguei todos os outros jogos de The Legend of Zelda, comprei outro Nintendo 64, não precisei vender meu Wii para comprar um Wii U, eu e meu irmão ainda compartilhamos nosso amor por videogames e claro, eu tirei o peso da lua das minhas costas.
Revisão: Alex Sandro de Mattos
Capa: Leonardo Correia
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