Em 1996, o saudoso Sega Saturn recebia um dos que viriam a
se tornar os mais marcantes títulos já lançado pela Sega em toda a sua
história. Não, não estamos falando de Sonic, tampouco Shenmue, mas de NiGHTS into Dreams, jogo de aventura no qual o jogador deveria guiar uma criatura que
lembra um pierrô por um mundo de sonhos cheio de bizarrices, mas com uma beleza
ímpar. Mesmo que muito elogiado, o título caiu no esquecimento de seus
criadores, apesar de nunca ter saído dos corações daqueles que o jogaram, que
sempre tiveram a esperança de que um dia uma sequência do clássico poderia ser
lançada.
Dez anos e duas gerações de consoles se passaram quando
finalmente a Sega, em um movimento surpreendente, anunciou a produção de um
novo jogo da franquia a ser lançado exclusivamente para o Wii. Os fãs de
outrora ficaram extasiados e a empolgação tomou conta até mesmo dos que nunca
tinham ouvido falar da franquia até então. Daí em diante a espera não foi muito
longa e o jogo foi lançado ao final de 2007 e, apesar da empolgação, vários
fatores fizeram com que o jogo não fosse o sonho que prometeu ser.
Nightopia, o mundo dos sonhos
Journey of Dreams conta a história de William Taylor e Helen
Cartwright, duas crianças moradoras de Bellbridge, uma cidade parecida com
Londres, que vêm tendo pesadelos todas as noites. Aspirante a jogador de
futebol, William vê sua vida desmoronar, já que seu pai, ao qual é muito ligado,
é obrigado a viajar para outra cidade devido ao trabalho. Helen, por sua vez, é
uma talentosa violinista que, apesar de amar fazer música e treinar com sua
mãe, começa a se afastar gradativamente de suas atividades para passar mais
tempo com suas amigas.
Logo no inicio as crianças conhecem Owl |
O distanciamento que as crianças passam a ter de seus pais
começa a refletir em seus sonhos e, ao dormir, os dois acabam indo parar em
Nightopia, um mundo psicodélico e surreal em que os sonhos de todas as pessoas
são refletidos. Lá, Will e Helen conhecem Owl, uma coruja que os guiará durante
sua jornada e NiGHTS, um estranho ser que possui o poder de se fundir com seres
humanos para que eles recebam diversas habilidades especiais em Nightopia.
Contudo, o lugar que inicialmente parece pacífico logo se revela um mundo cheio
de perigos, já que Wizeman, um poderoso mago, criador de pesadelos, ao lado de
Reala, ser que muito se assemelha a NiGHTS pretendem dominar Nightopia e,
posteriormente, o mundo dos humanos com seus pesadelos e monstros assustadores.
Com isso, caberá a NiGHTS e às duas crianças, salvar o mundo dos sonhos das
trevas e, consequentemente, toda a humanidade.
O pesadelo da jogabilidade
NiGHTS: Journey of Dreams é dividido em duas campanhas
distintas, uma com Helen e outra com Will. Inicialmente, as crianças não se
conhecem, mas no decorrer da jornada seus destinos se cruzam e os dois se unem
para destruir Wizeman de uma vez por todas. Cada um dos personagens possui
fases exclusivas, que refletem os sonhos e anseios dos meninos, e isso torna a
aventura algo muito único e prazeroso, já que exploramos os mais profundos
pensamentos de duas crianças por meio de suas representações abstratas em um
mundo de sonhos.
As fases em terra firme são arrastadas e sem graça |
A ideia parece excelente e o mundo é realmente bem
idealizado, mas certas decisões de design tiram boa parte do brilho que a
aventura deveria ter. Em primeiro lugar, as campanhas possuem dois tipos de
fases, sendo a primeira delas extremamente chata e mal executada. Estou falando
de estágios em que o jogador deve controlar Helen e Will ao invés de NiGHTS.
Nestas passagens, o jogador possui um limite de tempo para explorar o cenário e
os controles são extremamente imprecisos e mal implementados, além de que as
missões não são nada divertidas.
Para dualizar com Nights as crianças devem resgatá-lo! |
Contudo, o jogo melhora bastante quando as crianças
encontram o pierrô, se fundem a ele e devem voar pelos cenários cumprindo
pequenas tarefas enquanto passam por dentro de argolas e coletam itens. Cada
campanha possui quatro fases divididas em múltiplas missões e chefes que exigem
muita estratégia e reflexos para serem derrotados. NiGHTS ainda é capaz de se
transformar em diversas coisas, como um golfinho ou um carrinho de montanha
russa, de acordo com itens que Helen e Will conquistam no decorrer de sua
jornada. Apesar de ridiculamente divertidas, os controles também não são dos
mais precisos, e inicialmente o jogador sentirá certa estranheza em controlar o
personagem pelos caminhos pré-definidos do jogo.
No controle de Nights tudo é mais divertido |
Para tentar facilitar, o Sonic Team implementou o suporte
tanto ao Wiimote quanto ao Classic Controller e o controle do GameCube. O primeiro utiliza o sensor de movimentos para controlar o personagem, mas os
movimentos são muito sensíveis tornando quase impossível um bom desempenho nas
missões. Os outros controles, apesar de mais precisos que o Wiimote, ainda
assim apresentam deficiências que atrapalham muito a jogatina, o que é uma
pena, já que o título possui ideias excelentes e uma das melhores ambientações
já vistas no limitado hardware do Wii.
A beleza de Nightopia
Apesar das falhas em sua jogabilidade, Journey of Dreams
possui gráficos incríveis que, aliados a uma excelente direção artística,
tornam o jogo um dos mais belos já vistos no Wii. A Sonic Team se esforçou
muito para dar vida ao mundo de sonhos que idealizaram e cumpriram a tarefa com
louvor. Todos os cenários e personagens são coloridos, bonitos e passam a todo
o momento a sensação de estarmos em um lugar mágico em que tudo que desejarmos
é possível.
Os cenários de Nightopia são belíssimos! |
Aliada à belíssima direção artística do título, a trilha
sonora complementa o clima de magia com composições solenes e deliciosas de
serem ouvidas. O trabalho de dublagem também foi realizado com cuidado aos
mínimos detalhes e todas as vozes combinam com seus respectivos personagens, além de expressarem emoções com perfeição.
Mesmo com tantos problemas, o jogo prende os jogadores até o fim! |
O jogo ainda conta com belíssimas cutscenes, que conduzem a
história de forma emocionante e ao mesmo tempo delicada. Neste momento,
compreendemos os conflitos vividos por Helen e William e até nos identificamos
com sentimentos que já tivemos durante nossas vidas. A inocência das duas
crianças e sua vontade de salvar um mundo que acabaram de conhecer é algo
comovente e prende os jogadores até o apoteótico final da jornada, que dura
cerca de dez horas.
O sonho continua
Apesar da excelente ambientação e enredo, NiGHTS: Journey of
Dreams falha miseravelmente em sua execução, com sua jogabilidade imprecisa e
fases a pé nada divertidas. Contudo, ainda assim o jogo garante horas de
diversão e é tão imersivo que você provavelmente deixará os problemas de lado e
apreciará o que o título tem a oferecer. Torçamos para que da próxima
vez, a Sonic Team consiga criar uma experiência de jogabilidade tão magnifica
quanto a que o jogo oferece ao nosso imaginário.
Prós
- Ambientação incrível;
- História comovente;
- Um dos jogos mais belos do Wii.
Contras
- Jogabilidade problemática com qualquer um dos controles suportados;
- Fases a pé chatas e sem sentido.
NiGHTS: Journey of Dreams – Wii – Nota 6.0
Revisão: Alex Sandro de Mattos
Capa: Hugo Henriques