Análise: Alie-se a demônios e escolha seu caminho em Shin Megami Tensei IV (3DS)

em 26/08/2013

O legado de Megami Tensei nasceu no NES com Digital Devil Saga: Megami Tensei e logo se tornou um fenômeno. Considerada até hoje como uma... (por Clínica Miller em 26/08/2013, via Nintendo Blast)

O legado de Megami Tensei nasceu no NES com Digital Devil Saga: Megami Tensei e logo se tornou um fenômeno. Considerada até hoje como uma das mais importantes franquias de RPG da história (no Japão fala-se, inclusive, em ser Top 3), foi somente quando chegou ao SNES que a série evoluiu e passou a se chamar Shin Megami Tensei. Se você não conhece a saga, cheia de spin-offs e adaptações, vale a pena dar uma chance. E que momento melhor para mergulhar no universo de MegaTen do que no lançamento de seu mais novo título?


Passados 10 anos desde que o Japão recebeu o último jogo numerado da série, finalmente chegou às lojas o aguardado Shin Megami Tensei IV: um dungeon crawler RPG da Atlus que — após uma apresentação vaga e um tanto confusa — nos põe na pele do jovem Flynn, um casualry (classe mais baixa do Eastern Kingdom of Mikado) que almeja se tornar um Samurai. Ao lado de seu amigo de infância, ele participa do Gauntlet Rite, um ritual no qual jovens de todo o reino vestem um tipo de luva high-tech e são escolhidos ou não para participar do seleto grupo dos protetores de Mikado. Normalmente apenas luxurous (classe alta) têm êxito no ritual; mas, como era de se esperar, o protagonista é escolhido pela sua luva e a aventura começa de verdade.

Flynn é escolhido por sua luva durante o Gauntlet Rite

Aliando-se a demônios

Boa parte da graça da série Shin Megami Tensei sempre foi a interação com demônios: mais do que simples adversários, eles podem se tornar valiosos aliados em questão de segundos. Apesar de o jogo fazer questão de mostrar que seu grupo é composto por quatro aprendizes de Samurais, apenas um de seus três amigos vai te ajudar durante algumas batalhas (de forma aleatória e você não vai ter qualquer tipo de controle sobre as ações nenhum deles). O seu time de verdade, aquele sobre o qual você vai exercer total controle, vai contar “apenas” com o protagonista e seus demônios.

Assim como nos demais jogos da série, aqui também é possível fundir seus demônios para criar seres cada vez mais poderosos. Quanto mais criaturas recrutadas, maior será a gama de possibilidades à sua disposíção; por isso, às vezes vale muito mais a pena bater um bom papo com seus adversários a simplesmente partir para a violência. Mas cuidado: nem sempre a conversa segue o rumo esperado e, caso o inimigo não caia na sua lábia, é muito provável que você perca seu próximo turno. E, acredite, perder um turno em Shin Megami Tensei IV pode ser o suficiente para transformar uma aparente vitória em uma dolorosa derrota.

Mido é a IA que ajuda a fundir seus demônios
Quanto vale a sua vida?

Se o pior acontecer e todo o seu time cair durante uma batalha, acalme-se: antes de receber a tela de Game Over, você vai se ver à beira do rio Styx frente-a-frente com Charon, o encarregado de fazer a travessia das almas dos mortos para o além. Por conta do excesso de trabalho, ele vai te dar duas opções: reviver em troca de maccas (moeda corrente da série) ou moedas de StreetPass, ou recusar sua oferta e resolver que sua hora realmente chegou. As quantias vão ficando cada vez mais altas, então é bom economizar um pouco na Praça Mii e garantir seu retorno ao mundo dos vivos mais algumas vezes se necessário.

A busca pelo Black Samurai

Ainda no início do jogo somos apresentados ao Naraku, uma espécie de caverna com vários andares de profundidade onde vivem os demônios. O local funciona como uma espécie de campo de treinamento para os Samurais, que frequentemente são enviados em missões caverna adentro. Após algumas visitas ao local, os protagonistas se deparam com um rumor sobre um Samurai Negro que está distribuindo livros para os casualries, tornando possível que a classe mais baixa se torne alfabetizada. Logo fica claro que as intenções dessa pessoa não são nada boas, e começa então uma busca implacável pelo Black Samurai nas entranhas do Naraku… e além, muito além.

É durante essa perseguição que o jogo vai de tempos em tempos te dar algumas opções que vão influenciar diretamente no final do seu jogo. Você pode seguir um caminho bom, neutro ou caótico, e isso será decidido pelas suas escolhas em momentos-chave da trama. Mate sem dó nem piedade um inimigo e se aproxime do lado caótico, poupe um adversário de uma morte fria e você será visto como uma boa pessoa. Mas lembre-se: sempre vai ter alguém discordando das suas ações.

Nem sempre seus amigos vão concordar com suas escolhas
A luva mil e uma utilidades

Além de ser bem estilosa, a luva usada pelos Samurais tem um papel fundamental no jogo: sua interface funciona como menu do jogo, na qual você pode gerenciar seu time, visualizar seus itens, fundir demônios, salvar seu jogo (quase que a qualquer momento) e até mesmo configurar o StreePass. Sua Inteligência Artificial, Burroughs, é também de grande ajuda: ela é a responsável por registrar novas quests, mapear novas localidades e, inclusive, quebra o maior galho avisando quando um inimigo muito forte está atrás de certas portas (abrindo brecha pra uma salvadinha rápida antes de partir para a porrada).

Além disso, é possível instalar aplicativos na sua luva, que podem ser comprados utilizando App Points, adquiridos toda vez que o protagonista passa de nível. Esses aplicativos vão desde aprimorar as habilidades de negociação com os demônios e aumentar a quantidade de skills do seu personagem a até mesmo recuperar alguns pontos de vida e de magia a cada determinada quantidade de passos.

Muitos acertos

Shin Megami Tensei figura fácil entre os melhores títulos do 3DS até o momento. A dificuldade elevada (que pode ser diminuída depois da segunda morte) aliada a batalhas que demandam muita estratégia tornam o jogo uma ótima pedida. Saber usar as fraquezas dos inimigos a seu favor é a chave para lutar batalhas rápidas e minimiza bastante as chances de morrer (assim como saber a hora de tentar ou não recrutar alguma criatura para o seu time).

Aproveite as fraquezas de seus inimigos para levar a melhor

A história, apesar de ter seus altos e baixos, é bem acima da média da maioria dos jogos lançados para o portátil até agora. Sem contar o uso inteligente da discrepância entre a luva e os demais elementos de alta tecnologia e o reino de Mikado com seu climão medieval. As reviravoltas na trama são um espetáculo à parte, que por vezes me deixaram completamente eufórico e atordoado ao me deparar com acontecimentos inesperados.

Existem mais de 400 tipos de demônios diferentes em todo o jogo, além de diversos tipos distintos de personalidade para os monstros. Some isso à possibilidade de interagir com as criaturas durante as batalhas para negociar tréguas, recrutá-los para seu time, pedir dinheiro (!) e até mesmo apenas jogar papo fora e você tem em suas mãos um dos mais interessantes sistemas de batalhas do 3DS.

Dificilmente os demônios vão entrar para o seu time de graça...

Nem tudo é perfeito

Apesar de todos os seus acertos, SMT IV peca em vários pontos: o principal deles, talvez, seja o sistema de navegação nos mapas; em um jogo com uma exploração de dungeons tão detalhada, em terceira pessoa e repleta de possibilidades, é muito difícil de entender a opção dos desenvolvedores por utilizar mapas em 2D com vista aérea na exploração da cidade pós-Naraku, onde seu personagem é um ícone que apenas desliza de um ponto para outro. Inimigos são representados por círculos azuis, que avançam feito loucos em sua direção e dificilmente você vai conseguir se esquivar de batalhas chatas e por vezes repetitivas e desnecessárias. É bem estranho escolher para onde ir em Mikado (a cidade inicial do jogo) selecionando os locais em uma lista e, pouco depois, ter de deslizar por um mapa desnecessariamente complicado. O jogo tem, sem motivo aparente, três tipos diferentes de exploração de cenários onde apenas um faz jus à tecnologia e ao poder do 3DS.

Essa é apenas umas das formas de se locomover em SMT IV
Outro ponto que deixa a desejar é a utilização de imagens chapadas em vez de modelos tridimensionais nas cutscenes. Por vezes o jogo quer te contar alguma história ou mostrar a reação dos personagens ao chegar em um novo ponto do mapa e tudo o que você vê são desenhos estáticos. Seria muito mais interessante se utilizassem cenas pré-renderizadas ou até mesmo desenhos animados (como na série Persona), principalmente se levarmos em conta o poder de processamento do 3DS. Durante as batalhas contra demônios o jogo sofre do mesmo mal, visto que a tela de cima mostra um desenho em 2D dos inimigos (e algumas animações com efeitos de luzes durante os ataques, mas nada mais do que isso) e a de baixo mostra seu time. E só. Nada de personagens se degladiando em cenários tridimensionais (infelizmente).

Não espere por belas batalhas tridimensionais
Também vale ressaltar que os personagens coadjuvantes deixam a desejar no quesito desenvolvimento emocional. Para quem jogou Persona, um dos mais famosos spin-offs da série MegaTen, é estranho ver os demais personagens crescerem tão pouco ao longo da jornada. Para começar, apesar de em teoria estarem sempre com você, na maior parte do tempo a impressão que o jogo passa é de que a única companhia do jovem Flynn é a IA da sua luva. Você não vê seus amigos andando nos cenários, eles pouco conversam com você durante as explorações. Por esse motivo, fica difícil criar um laço emocional com qualquer um deles. Você simplesmente não se apega a eles, não se importa se vão morrer, viver, praticar o mal ou se vão ser as melhores pessoas do mundo.

Vale a compra

São muitos os erros de Shin Megami Tensei IV, mas felizmente o jogo acumula muito mais acertos. Mesmo que você simplesmente corra em direção ao final do jogo sem se preocupar com as side-quests (que, por sinal, são muitas), SMT IV vai facilmente oferecer ao menos 50 horas de jogo… por gameplay: suas escolhas podem levar a até três finais diferentes, aumentado o fator replay ao triplicar o tempo de jogo caso você queira ver todos os finais. O game pode se estender ainda mais se você quiser completar o seu Compendium, a enciclopédia na qual ficam gravadas as informações sobre os demônios que já se aliaram ou foram criados por você através de fusões.

Tendo tudo isso em mente, é mais do que justo afirmar que Shin Megami Tensei IV merece figurar entre as estrelas do 3DS. Se você é fã de longa data da série, gosta de RPGs por turnos ou simplesmente curte uma boa história, SMT IV é um jogo que com certeza vai valer cada centavo investido.

Prós

  • Trama interessante e cheia de reviravoltas;
  • Sistema de batalhas e recrutamento de demônios inteligente;
  • Dificuldade desafiadora;
  • Imensa variedade (mesmo!) de demônios para recrutar;
  • Muitas horas de jogo e alto fator de replay.

Contras

  • Exploração dos mapas muito travada;
  • Utilização de cutscenes e sprites durante batalhas em 2D em vez de tridimensionais;
  • Personagens coadjuvantes quase não apresentam desenvolvimento emocional.
Shin Megami Tensei IV - 3DS - Nota 8.0
Revisão: Rafael Neves
Capa: Wellington Aciole 
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