Resident Evil Revelations foi considerado não apenas um dos melhores jogos lançados para o 3DS como também um dos melhores títulos da franquia de survival horror mais conhecida dos videogames. Como todos nós já estamos cansados de saber, faz tempo que Resident Evil não é verdadeiramente uma franquia de survival horror. Com jogos mais voltados para tramas mirabolantes e ação desenfreada do jeito que só Chris Redfiled aprova, a série foi se distanciando cada vez mais de suas origens. No entanto, tudo parecia indicar que Revelations seria o retorno do filho pródigo. O mais irônico é o quanto a Capcom gastou, em tempo e dinheiro, para produzir e promover o recente Resident Evil 6, que foi recebido com muita hostilidade pelos fãs. Por que isso é irônico? Ora, porque um “simples” jogo de 3DS, tecnologicamente limitado e sem tantas pretensões, conseguiu ganhar o coração de quase todos os amantes da nossa querida série de terror.
Notas altas, declarações de amor, a volta ao survival horror... Tudo o que é possível foi dito e a essa altura todos já conhecem o jogo muito bem. Acontece que muitos fãs reclamaram da exclusividade para 3DS (Resident Evil 4 de GameCube manda lembranças), já que sendo um jogo tão bom, não deveria ficar nas mãos apenas dos donos do mágico portátil tridimensional. A Capcom, felizmente bem espertinha, decidiu então que este lindo sucesso deveria ganhar um espaço maior, literalmente, e logo um port em HD foi anunciado para as plataformas de mesa. Mais felizmente ainda, recebi a oportunidade de pôr as mãos e analisar a versão do Wii U. E aqui vocês conferem as impressões da garota que se diverte com Resident Evil desde a época que Chis era magrelo e que Jill quase virou um sanduíche.
Versão HD, mas nem tanto
Primeiro, temos que lembrar que esse jogo é um port. Sua história não é nova e não há como acrescentar muito ao que já foi feito em sua versão original, então vou focar no que temos de principal e importante a se notar nesta versão HD do Wii U.Comecemos com o óbvio: o visual é melhor do o que temos na nossa pequena telinha 3D, mas, enquanto tudo mantém um equilíbrio no portátil, a versão HD perceptivelmente recebeu um empenho maior em certos aspectos, como as animações e os personagens, e um trabalho bem mais relaxado em outros, como os cenários e detalhes do ambiente, que sinceramente estão até vergonhosos em certas partes. Um pouco mais de trabalho e consideração teria tornado o visual incrível. Isso não influencia na diversão de modo algum, afinal a franquia já fez muito mais com bem menos em termos gráficos nos primeiros jogos da série.
O retorno ao survival horror?
O ambiente escuro e fechado consegue trazer aquele velho sentimento de tensão que conhecemos tão bem, nos deixando apreensivos e sem saber o que pode aparecer no próximo cômodo. Quando você começar a se sentir confortável e confiante andando pelos corredores, pode ter certeza que um monstrinho estará lhe esperando no cantinho mais escuro e arrancará aquele gritinho clássico que você deseja que ninguém tenha ouvido. Ou pelo menos dará um bom susto naqueles que torceram o nariz para os últimos lançamentos da franquia. Alguns momentos lembrarão muito o primeiro game da série, especialmente aqueles em que você se sente mais vulnerável e desesperado, completamente cercado no que mais parece uma mansão, sem ter opções do que fazer. Não vou soltar spoilers, mas tenho certeza que quando a hora chegar, vocês saberão do que estou falando.Embora Revelations tenha sido aclamado como a volta de Resident Evil ao verdadeiro terror de antigamente, o jogo conta com um bom toque de ação em alguns episódios (ironicamente, aqueles que têm Chris como personagem jogável), então não espere ter o velho sentimento de claustrofobia e tensão o tempo todo. Os episódios acabam alternando as situações, cenários e personagens, o que é bom para quebrar um pouco da linearidade e não cansar o jogador, mas isso também quebra o clima aterrorizador que vai aumentando dentro de você em certas fases. Ainda assim, Revelations atualmente é o que mais chega perto dos primórdios da série. Aqueles momentos de desespero, que fazem você gritar e pausar o jogo estão mais do que presentes. Então nada melhor do que apagar as luzes e aproveitar o terror tomando conta de você.
Os baús voltaram! Agora cadê aquela minha máquina de escrever?
Essa vai especialmente para os fãs das antigas: os quartos com baú estão de volta! Talvez nem todos saibam do que estou falando, mas nas origens da franquia, contávamos com baús que serviam para guardar os itens que não podíamos carregar. Tudo bem que agora temos mais espaços para itens, mas vê-los novamente traz boas lembranças, além de certas utilidades que podem fornecer, como o melhoramento personalizado que podemos fazer em nossas armas.E se tem algo que não podemos reclamar é falta de itens. Com ajuda da Genesis, podemos achar munição e ervas na maior parte dos lugares. Além de que, ao conseguir 100% na análise de certas coisas, como os Ooze, ganhamos um item de cura. Com isso tudo, só senti falta mesmo da boa e velha máquina de escrever, onde podíamos salvar nosso progresso. Lógico que isso e a quantidade limitada de Ink Ribbons que encontrávamos só tornava tudo mais tenso, levando nossa ansiedade no máximo e causando um enorme alivio quando achávamos o tão esperado ponto para salvar.
Anteriormente em Resident Evil Revelations...
Sabem quando ficamos empacados em uma fase ou estamos muito ocupados com outras coisas e acabamos deixando o jogo um pouco de lado? Pois é, eventualmente isso acaba acontecendo mesmo e muitas vezes quando finalmente retomamos a nossa jogatina, esquecemos dos pontos importantes da história, nossos objetivos e até o estávamos fazendo.Em Revelations não temos este problema, já que o jogo todo é dividido em episódios, como tem sido feito ultimamente na série, mas agora temos uma ótima recapitulação dos fatos mais importantes no começo de cada episódio, lembrando muito as séries de televisão modernas. Achei esse pequeno toque bem divertido e útil, algo que poderia ser seguido em outros títulos.
Zumbis, zumbis, cachorros, zumbis e zumbis
Em uma coisa terei que discordar da maioria das reclamações feitas sobre o jogo original: a tal falta de variedade de inimigos. Muito foi dito sobre isso mas, sinceramente, esse Resident Evil tem tanta variedade como qualquer outro. Se nos antigos tudo o que tínhamos eram os zumbis, animais infectados e alguns monstros mais mutantes que o normal, o mesmo ocorre em Revelations. Os seres infectados de destaque aqui são os Ooze, pálidos monstros que me lembram muito os Regenerators de Resident Evil 4, que me causavam imenso desespero e vontade de desligar o GameCube no momento em que ouvia seus gemidos. Um sentimento primordial que faz grande falta na série atualmente e que em alguma escala faz sua reaparição em certos momentos é quando não sabemos ao certo o que esperar.Sem contar que ao longo do jogo, vários tipos de Ooze são apresentados, desde de um obeso que mata com só um golpe se você não tomar cuidado, até um monstro com características de tubarão. Temos outros monstros, como os “Caçadores” e os conhecidos cachorros. Vale também a menção aos “chefes”, que podem ser bem assustadores em certos momentos. Digo-lhes que minha noite de sábado não foi a mesma ao ouvir uma voz distante e distorcida gritando por socorro, se aproximando cada vez mais, até eu ficar diante de uma porta que não queria abrir de modo algum. Ou até mesmo os risinhos perturbadores de uma infectada peituda (sim, porque quando você está em uma investigação importante, é necessário ter um decote gigante) que fica sussurando que o encontrou. Ah, sim... Revelations conseguiu trazer esse terror de volta.
Os controles travados... Ah, os velhos tempos!
Como a maioria de vocês pode lembrar, a jogabilidade dos jogos mais antigos era bem travada e a câmera não era lá a melhor coisa do mundo. Tudo isso mudou com Resident Evil 4 e toda a sua evolução e melhorias. Em Revelations, os controles não são exatamente travados, mas têm certos problemas: os analógicos não respondem tão bem quanto deveriam e às vezes a mira não parece funcionar direito. Quando temos muitos inimigos na tela então... podem esperar pela frustração. Isto pode inclusive ser explicado por uma notícia recente que evidenciou que a taxa de quadros por segundo cai de 30 para 20 quando temos muitos inimigos em cena, o que atrasa a resposta dos controles, fazendo a precisão cair.Além disso, a movimentação dos Ooze (nossos novos monstrinhos) os ajudam a desviar "sem querer" e em um momento de maior desespero, você pode acabar fazendo besteira e desperdiçando munição ao atirar em nada. Lembrando que na versão de bolso, tínhamos ótimos controles, que tanto com o giroscópio quanto com o Circle Pad Pro nos oferecia uma experiência melhor. Mas é claro que não podemos esquecer que os ports, em sua maioria, sempre trazem uma experiência inferior à suas versões originais.
Um ponto negativo com o problema com os analógicos, e que se torna muito irritante e frustrante, acontece nas partes em que você precisa nadar. Não são poucas as vezes que o personagem não obedece nossos comandos e até mesmo morre asfixiado mesmo estando praticamente embaixo de um lugar apropriado para respiração. A falta de indicação de para onde ir também faz com que você possa se confundir e perder tempo em partes importantes ou que precisam de rapidez.
Revelações mirabolantes
Posso dizer que a trama é cheia de conspirações que não fazem sentido, cenas sem próposito e diálogos um pouco vergonhosos ou desnecessários (mas nada comparável aos diálogos do primeiro jogo como: “Você quase virou um sanduíche Jill”). Uma coisa que pode irritar alguns jogadores é ter que ir e voltar de certos ambientes muitas e muitas vezes, algo comum nos primeiros jogos mas quase extinto nos mais recentes. De qualquer forma, ainda é um ótimo jogo, só que parece fazer bem mais sentido jogá-lo no 3DS do que em um console de mesa. Uma prova disto é o trabalho excelente da função Off-TV Play, já que não foram poucas as vezes que joguei nesse modo, deitada no escuro e com os fones de ouvido equipados. Umas das surpresas mais agradáveis foi certamente o Modo Raide, que tem diversos desafios que podem ser jogados individualmente ou no multiplayer. Conforme você avança, seu nível vai subindo e outras melhorias e benefícios vão aparecendo. Isto aumenta muito o replay do jogo e não deve ser deixado de lado por nenhum jogador.O conselho é: se você tem a versão original do 3DS, não há tantos motivos para adquirir o jogo em HD. Se você não pôde desfrutar da versão portátil ou simplesmente quer jogá-lo novamente com alguns extras, não há problema algum em adquirir este port. Por mais que Revelations se esforce e até faça um bom trabalho em retornar ao famoso survival horror, parece que a franquia se perdeu um pouco e não consegue voltar totalmente às suas origens. Mesmo que os fãs praticamente implorem por isso, a impressão que fica é que Resident Evil não consegue deixar a ação de lado. Em minha opinião, o único jogo que conseguiu achar um bom equilíbrio com tensão, terror e pitadas de ação foi o aclamado Resident Evil 4.
Prós:
- O retorno do terror a Resident Evil;
- O modo Raide é muito divertido e aumenta o fator replay;
- A falta de linearidade entre os episódios ajuda o jogador a não se cansar ou se entediar;
- Recapitular os fatos anteriores é bem agradável e ajuda a nos situar.
Contras:
- Versão não é tão HD como promete;
- Os analógicos respondem muito mal em certas situações.
Resident Evil Revelations - Wii U - Nota 8.0
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Diego Migueis