Em 2004 o mundo presenciou o lançamento de um dos mais bem
sucedidos consoles de todos os tempos, o Nintendo DS. Contudo, nos dias de hoje,
poucos se lembram que o console teve um início muito complicado, já que não
contava com muito apoio das desenvolvedoras e o conceito de duas telas da
Nintendo era visto com estranheza pelo público, que ainda não compreendia toda
a genialidade por trás daquela tela de toque. A primeira leva de jogos para o
console incluía bons títulos, como Super Mario 64 DS e Feel the Magic XY/XX,
mas nenhum utilizava a segunda tela do portátil tão bem como Trace Memory.
Inicialmente chamado de Another Code, o jogo consistia em um adventure point’n
click com uma narrativa imersiva e profunda, personagens carismáticos e
quebra-cabeças simples, mas inteligentes.
Em busca da verdade
Em Trace Memory você assumia o papel de Ashley Robbins, uma
adolescente que há mais de dez anos perdeu seus pais sob circunstâncias desconhecidas.
Acreditando no que lhe foi contado, a garota seguia sua vida normalmente até receber
um pacote enviado por seu pai, contendo um estranho dispositivo – que muito
lembra um DS – e um convite para descobrir a verdade em Blood Edward Island,
uma ilha desolada com uma mansão abandonada.
Mal sabe Ashley as revelações que a esperam em Blood Edward Island |
Curiosa com o que poderia descobrir sobre seus pais e,
principalmente, com a esperança de encontrar seu pai ainda vivo, Ashley parte
para a ilha em busca da verdade. Assim que chega ao misterioso lugar, não
demora muito para que a garota conheça D, um fantasma que não se lembra de seu próprio
passado e que acha que aquela ilha pode lhe dar todas as respostas. Apesar de
um pouco assustada com a situação, Ashley decide ajudar D enquanto investiga o
paradeiro de seus pais.
Investigando a mansão
Trace Memory passa um grande senso de progresso durante a
jornada. Ashley e D devem buscar pistas que os levem à verdade, mas isso não é
uma tarefa fácil: a ilha é cheia de segredos muito bem guardados, de forma que
os dois devem resolver uma série de enigmas que os levarão sempre a novas
pistas fundamentais para completar o quebra-cabeça principal. O passado dos
dois personagens tem uma forte ligação com aquele lugar e os objetos lá presentes,
de forma que ao progredirem com suas investigações, Ashley e D começam a se
lembrar de momentos nebulosos de suas vidas, o que aguça ainda mais a
curiosidade dos jogadores sobre o que realmente aconteceu naquela ilha.
Durante toda a aventura você controla Ashley. Na tela
superior do console, é exibida a visão em primeira pessoa da personagem,
enquanto na tela de baixo temos uma visão por cima dos cenários, o que facilita
o deslocamento e dá uma noção melhor dos amplos cômodos da mansão. Falando em
cômodos, é possível explorar cada canto do lugar e interagir com boa parte dos
objetos. Ao encontramos algum elemento chave que demanda uma investigação mais
profunda, inicia-se um puzzle. Geralmente, as funcionalidades únicas do console,
como a tela de toque e o microfone, são usadas ao extremo nesses momentos. A
maioria dos quebra-cabeças são muito simples, mas bastante inteligentes, o que,
como resultado, nunca causa frustração ao jogador e ainda dá um grande senso de
conquista e progresso. O jogo é dividido em capítulos e cada um termina com
alguma revelação que o deixará desesperado para prosseguir na história e
descobrir a verdade. Infelizmente a aventura não dura mais que cinco horas e
deixa um gostinho de “quero mais” quando termina.
Clima nostálgico
Trace Memory conta com gráficos muito bonitos, que misturam
estilos 2D e 3D. Os cenários são bem desenhados e estruturados e possuem
diversos detalhes simples que, por si só, aumentam a imersão. O jogo não possui
vozes e os personagens dialogam por caixas de texto. Mesmo assim, o roteiro é
muito bem escrito e os personagens, carismáticos, de forma que você se
importará muito em vê-los bem enquanto os ajuda a investigar todo o mistério
que cerca aquele lugar. Para completar,a trilha sonora é excelente! Imersiva,
nostálgica e com um clima inigualável, as músicas que embalam a jornada
transmitem de forma ímpar o clima de mistério e melancolia da aventura.
Lembranças inesquecíveis
Trace Memory foi um jogo relativamente bem avaliado. As
únicas reclamações da época eram quanto a sua baixa dificuldade e tempo de
jornada. Mesmo assim é inegável que o jogo é uma excelente pedida para aqueles
que admiram uma boa história combinada a uma jogabilidade excelente. Com uma
indústria cada vez mais dominada pela mesmice, é bom recordar de jogos que,
mesmo não isentos de alguns defeitos, tentavam trazer experiências singulares
aos jogadores. E é por essas e outras que o Nintendo DS acabou dando tão certo.
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Diego Migueis