Um dia você simplesmente acordou e percebeu não ser um treinador de Pokémon, mas sim um Pokémon. Talvez os membros do PETA adorem essa ideia, mas para um humano comum, não parece algo muito divertido. Esse sempre foi o contexto da série spin-off Mystery Dungeon. Você é um monstrinho de bolso e junto de seus amigos você poderá se envolver em altas aventuras com essa turminha da pesada. Em um ambiente mais próximo dos curtas que são exibidos antes dos filmes da franquia no cinema, Mystery Dungeon é sobre, e exclusivamente, Pokémon - não há humanos. Vamos juntos nos aventurar por esses calabouços do primeiro jogo de Pokémon a vestir os gráficos tridimensionais no 3DS!
Realmente um novo mundo de aventuras
Eu jogo os jogos da franquia principal dos monstrinhos de bolso há anos, onde minha primeira experiência foi jogando Pokémon Blue em um Game Boy monocromático. É, aquele mesmo com imagem a fósforo verde. Muita coisa mudou na franquia de lá pra cá. Uma dessas coisas foi a introdução do spin-off Mystery Dungeon na época do Game Boy Advance. Naquela época, eu via como coisa pra crianças. Certo que por muitos leigos, a franquia principal da série é vista com certo preconceito e tudo que tem Pokémon no nome é visto como coisa de criança por estes (ou ao menos, até conhecerem IV, Efforts e outras mecânicas do jogo), e eu infelizmente entrei nessa linha quando vi Mystery Dungeon. Demorei alguns anos para realmente tocar em um jogo da franquia e apenas o fiz depois de muita insistência de uma amiga que ama esses spin-offs e também joga a franquia principal.
Vamos combinar, Mystery Dungeon tem sim um ambiente mais infantil. Não por imaturidade na história, mas sim pelo contexto, envolto de valores morais, amizade, companheirismo e outros fatores que fazem ser aquele jogo que você não pensa em se estressar. Pelo contrário, é aquele que você buscará para descansar, se divertir um pouco e esquecer os problemas, sendo que a franquia principal pode gerar muito estresse (principalmente para quem busca participar de torneios oficiais e, para isso, precisa elaborar uma boa estratégia e organizar uma equipe de Pokémon que chegue o mais perto possível da perfeição). O que não significa que o jogo é bobo, mas que não parece, a princípio, aquele jogo que você ficará irritado jogando.
Como um conto de fadas
Então, vamos ao que importa. Assim como muitos de vocês, eu já estou familiarizado com o começo, em que eu acordo em algum lugar sem ter noção do que está acontecendo e descubro que virei um Pokémon. Mas esse jogo quer ir um pouco além disso e tenta dar um contexto plausível para isso tudo. E ele conseguiu me convencer. Você começa com uma visão em primeira pessoa, vendo um sonho em que uma Munna está fugindo de um Hydreigon e quando ela está prestes a ser eliminada, você perde esse foco. Uma voz te chama falando que o mundo Pokémon precisa de ajuda e até questiona o fato de você ser humano. Então, você tem uma visão de seu próprio avatar, mas por estar em meio um sonho, ou quase acordando, não consegue entender corretamente que imagem embaçada é aquela um tanto diferente do seu verdadeiro eu. Nesse contexto, temos uma sacada de mestre para selecionar com qual Pokémon quer jogar, podendo escolher entre os três iniciais de Unova (Snivy, Tepig e Oshawott), Axew ou Pikachu. Claro que muitos preferem Pikachu, mas eu fui com o esnobe Snivy (e qual vocês escolheriam dentre os cinco?). Estamos em um local desconhecido e do nada começamos a cair do céu em direção a um local que parece muito com o planeta Terra como conhecemos. Pouco depois, acordando sem nenhum ferimento, mas ainda confusos, é possível ouvir alguém chamando o protagonista e sua imagem está um tanto desfocada também, onde mais uma vez é hora de fazer uma escolha: quem será seu companheiro nessas aventuras, dentre as outras quatro opções restantes.
Uma breve conversa introdutória faz com que você conheça seu companheiro e, de forma discreta, informa você melhor sobre o ambiente do jogo. Por exemplo, nesse mundo humanos são apenas lendas e Pokémon falam (ou você consegue entendê-los por ser um?). Infelizmente, não temos uma configuração para velocidade de texto ou para pular essas partes, o que pode tornar o começo um pouco tedioso para quem quer logo ação, mas basta esperar um pouco pois sem perceber estará em sua primeira dungeon. O parceiro leva o protagonista para um compromisso importante (o mais importante de sua vida, segundo ele) e nesse caminho a dupla acaba por passar por uma dungeon que introduz bem as mecânicas do jogo, sempre piscando janelas com dicas sobre os comandos básicos do jogo e como é que ele funciona. Após isso, nós somos introduzidos ao desejo do parceiro de querer tornar aquele local um paraíso para os Pokémon, ao mesmo tempo em que somos informados sobre o fato de sociedades de Pokémon próximas terem se tornado corruptas e violentas. Não é como se tivéssemos muitas opções diante da empolgação de nosso parceiro quando ele solicita a colaboração para tornar aquele lugar no tal paraíso e, no processo, cuidar desses grupos que estão impedindo que esse sonho se realize.
Então, que comecem as aventuras!
Explorando os mistérios do novo mundo
A primeira diferença de Mystery Dungeon para qualquer jogo da franquia Pokémon é a ambientação tridimensional. É um sonho de muitos, desde a época de Pokémon Stadium no Nintendo 64, ter um jogo nesses moldes em um portátil. E Mystery Dungeon executa isso bem. Admito que no começo pensei que não seria uma boa ideia, mas até as cutscenes em meio a história me agradaram, o que pode ser uma boa notícia para quem quer ação logo. Isso além da dungeon no início do jogo, em qual a dupla começa em Nível 7 em vez do Nível 5, como acontecia antigamente. Agora Wonder Orbs podem ser usadas em lutas contra chefes, apesar de eu não sentir tanta necessidade em usá-las. Os Pokémon tem quatro golpes (como na franquia principal) e esses golpes podem elevar seus níveis. E a grande vantagem é que se você evoluir um ataque e outro Pokémon de seu grupo aprender aquele ataque, ele também estará no nível que você já tinha alcançado com o outro monstrinho. E não deve ser necessário explicar que quanto maior o nível, maior será o dano causado.
"Pokemon Paradise" pode lembrar muito o Bastion no jogo de mesmo nome para PC e Xbox 360. Você tem algumas lojas e alguns NPCs que podem ajudá-lo a aprimorar sua equipe para ter um melhor desempenho nas aventuras. O jogo fica mais difícil com o tempo, mas essa dificuldade é bem gradual e é como se estivessem pegando em sua mão - não há um salto enorme de dificuldade de um momento para outro. Infelizmente, o seu parceiro não acompanha esse desenvolvimento e continua a fazer coisas estúpidas, o que pode ser muito ruim, pois o título é bem cruel em suas penalidades, como por exemplo, perder itens (se bem que quem joga Tibia não terá problemas com isso). Há obstáculos nos calabouços, como chamas, gelo, gás venenoso e outros. Esses obstáculos podem ser vencidos por certos Pokémon de uma maneira bem simples de entender. Um monstrinho de água pode eliminar um obstáculo de fogo, ao mesmo tempo que um de fogo também pode fazê-lo por motivos óbvios. O gás venenoso pode ser resolvido por um mascote venenoso ou metal. Não é necessário explicar qual Pokémon pode eliminar o obstáculo de gelo, não é mesmo? Em nossa base, Victini pode ajudar com o V Wave, em que um certo tipo causará mais dano e terá mais vantagens durante aquela aventura, funcionando de uma maneira semelhante a uma "previsão de horóscopo do dia", mas com o ponto de que podemos pagar mais para influenciar nisso.
O grande chamariz de Gates to Infinity é o Magnagate (que está no título japonês do jogo, "Magnagate and the Infinite Labyrinth"), e quando entendemos ele, o título do jogo (tanto ocidental como oriental) faz muito mais sentido. Basicamente, você utiliza a câmera do Nintendo 3DS para analisar um objeto. Se esse objeto for redondo, parabéns, você encontrou um Magnagate, e o portal pode enviá-lo para um novo calabouço. Na versão demo tínhamos apenas 54 opções que eram escolhidas aleatoriamente sem analisar corretamente o objeto. Na versão completa temos 513 possibilidades, sendo que a cor do objeto determina o calabouço e o tamanho dele determina a dificuldade. Então, interessados em sair checando as possibilidades?
E o poder da amizade vence mais uma vez
Por meio do Companion Mode é possível jogar com algum outro Pokémon além daquele que você começou. Mesclando isso ao modo multiplayer (Local Play), você pode se aventurar com mais facilidade, já que não está na companhia de um NPC estúpido (a menos que seus amigos sejam igualmente estúpidos, sempre há a possibilidade) e tem acesso a chefes interessantes. É possível enfrentar Zekrom, Reshiram, Kyurem (em suas três formas), Lugia e Ho-Oh. Infelizmente, esses Pokémon não podem se juntar ao seu grupo. Ho-Oh, em especial, pode vir em sua versão "shiny" (e vocês já ouviram falar bastante dessas raridades, não é mesmo?) e ter atributos mais elevados, golpes com mais dano e tornar-se um desafio muito divertido para uma equipe de quatro amigos.
Eu avancei sem muita dificuldade até aproximadamente 90% da história do jogo, onde a situação começou a ficar realmente mais complicada. Talvez vocês, mais experientes em Mystery Dungeon, não teriam a mesma dificuldade que tive. Kyurem parecia ser o chefe final do jogo, mas é quando acontece algo (sem spoilers!) que vira um pouco a história do jogo me pegou de surpresa. Sem perceber, alguns instantes depois, eu estava envolvido por aquele sentimento do "poder da amizade" muito visto em animações e filmes que crescemos assistindo em que todos seus companheiros estão derrotados e continuam falando "não desista" e "você consegue" e você, tendo um bom coração, se vê na obrigação de resolver aquela situação mesmo o desafio sendo muito superior ao seu potencial, aparentemente. Não é sobre você talvez tentar vencê-lo, é sobre você precisar vencê-lo! E envoltos do clichê de "a união faz a força", temos uma conclusão incrível para a história do jogo. Uma amiga, inclusive, disse que chorou com esse final.
Quando pensei que o jogo havia acabado, me vejo novamente naquele mundo e agora com direito a explorar novos locais e com novos Pokémon se juntando a minha equipe. Hoje mesmo novos calabouços estão disponíveis para download e semana passada tivemos mais alguns. Na versão japonesa, já são mais de dez calabouços extras, e cada um custa cerca de quatro reais (ou cerca de sete reais, no caso de Ultimate Wilds e seus 99 andares). Juntando os trabalhos após a conclusão da história principal, os calabouços extras por download e as possibilidades dos calabouços de Magnagate, esse jogo merece ter "Infinity" no título.
O spin-off de Pokémon aprendeu muito com o spin-off de Dragon Quest, "Torneko no Daibouken: Fushigi no Dungeon", de Super Nintendo, e por essa razão foi uma boa decisão colocá-lo nas mãos da Chunsoft, que também produziu Shiren the Wanderer, de Nintendo Wii. É um jogo divertido, que começa bem simples e vai dificultando de acordo com seu aprendizado. É uma experiência que pode ser aproveitada pela criança de dez anos que ama a animação televisa, por sua namorada que não conhece tanto de games e até mesmo por quem já tem experiência na franquia principal. E pensar que isso tudo começou no fim da década de 80 com Fatal Labyrinth e NetHack para resultar em um jogo com bichinhos amigáveis e falantes!
Prós
- Variedade de monstrinhos e possibilidade de evolução evitam que o jogo fique enjoativo;
- Mesmo depois de concluir a história principal, ainda há muito o que fazer;
- Você é um Pokémon. Você não pode ser um Pokémon no seu trabalho ou faculdade.
Contras
- Não poder ajustar a velocidade do texto ou pular algumas falas é chato algumas vezes;
- Início lerdo e instrutivo pode afastar quem quer uma ação imediata;
- Depois de algum tempo, os calabouços podem parecer repetitivos em sua estrutura.
Pokémon Mystery Dungeon: Gates to Infinity – Nintendo 3DS – Nota: 8.5
Revisão: Rafael Becker
Capa: Vitor Nascimento