Consideram-se jogos táticos aqueles que incorporam elementos de raciocínio lógico, estratégia, administração e, frequentemente, uma pitada do bom e velho RPG. Ao longo de sua extensa história, a Nintendo lançou uma série de jogos nessa linha, uma boa parte deles memoráveis e tecnicamente primorosos. Embora no Japão o gênero tenha contado com uma enorme legião de fãs desde os primórdios da indústria, levou mais de uma década para o ocidente se apaixonar e descobrir os prazeres dos jogos táticos. Então, que tal relembrar algumas das maiores pérolas desse gênero tão apaixonante?
Fire Emblem e o nascimento de um fenômeno
Todos os consoles da Nintendo contaram com jogos táticos, embora nem todos tenham conquistado o devido reconhecimento. O primeiro jogo do gênero de que se tem notícia é Bokosuka Wars, um jogo de computador desenvolvido por Koji Sumii para o Sharp X1 em 1983 e depois trazido para o NES em 1985 pela ASCII. O título era sobre um rei que precisava recrutar soldados e liderar um exército contra as forças inimigas. Suas tropas ganhavam experiência e habilidade conforme as lutas aconteciam, algo que acabou montando as bases para tudo que veio depois.
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Exclusividade oriental por tempo demais! |
Mas foi Fire Emblem que acabou ficando mais conhecido como o grande pioneiro do gênero. O primeiro jogo da série, lançado em 1990 para o Famicom, inaugurou o que seria possivelmente a série de jogos de estratégia tática de RPG mais tradicional e cultuada da Nintendo e, por que não, de toda a indústria dos videogames. Peculiarmente, apesar de todo o sucesso do jogo e do gênero no Japão, foi após sete games e muitos anos depois que Fire Emblem teve sua primeira aparição no ocidente com um jogo homônimo para o GameBoy Advance, lançado em 2003.
Nada disso muda o fato de que Fire Emblem é a mais bem conceituada criação da Intelligent Systems e uma das franquias mais importantes dos videogames. Desde o primeiro lançamento internacional, praticamente todos os jogos da franquia foram lançados no mundo inteiro. O grande diferencial da série, desde o primeiro jogo, é o fato de que uma vez que você perca um personagem de seu batalhão, não importa o quão marcante e relevante ele seja para você ou para a trama, ele morre de vez e você não pode utilizá-lo nunca mais, um elemento sem semelhanças ou precedentes no mundo dos videogames.
Tímidos progressos no ocidente
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O N64 viu a chegada de grandes fenômenos dos PCs. |
Durante a geração 16 bits, os jogos táticos continuaram predominantemente como um prazer exclusivo dos orientais, e poucos eram os dignos de nota que chegaram aos Super Nintendos das Américas. Pequenos jogos táticos como War 2410 ou King Arthur's World, embora muito divertidos, acabaram não emplacando. As coisas melhoraram um pouco com o Nintendo 64, que viu a chegada de dois jogos táticos muito famosos dos computadores. Command & Conquer e StarCraft 64 mostraram que os consoles de mesa da Big N tinham totais condições de rivalizar com os computadores e criar experiências táticas completamente imersivas e viciantes, mas infelizmente não foram muitos os jogos da mesma linha lançados na geração, e os dois jogos acabaram sendo exemplos quase isolados de que estratégia não necessariamente precisa de teclado e mouse para divertir e trazer bons controles.
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Ogre Battle é mais um exemplo de franquia que se tornou cult. |
Felizmente o melhor jogo tático do console é, tal qual Fire Emblem, outra exclusividade para os nintendistas: Ogre Battle 64: Person of Lordly Caliber, a sequência de Ogre Battle: The March of the Black Queen e Tactics Ogre: Let Us Cling Together, ambos dois grandes jogos táticos do Super Nintendo. A premissa básica de Ogre Battle 64 é comandar um batalhão de até cinquenta tropas. Os membros do batalhão são separados em unidades, e cada uma delas precisa ter um líder designado. Ao longo de cada capítulo é preciso enfrentar unidades inimigas e cumprir objetivos como capturar fortalezas. Muito celebrado pela crítica e por uma pequena, porém, fiel legião de fãs, Ogre Battle 64 é um jogo fenomenal que infelizmente, devido às baixas vendas, acabou sepultando a franquia e a relegando ao ostracismo. Ao menos ainda é possível relembrar essa grande obra por meio do Virtual Console.
Embora a popularização de Fire Emblem e a comercialização de jogos como Ogre Battle no Virtual Console já sejam, por si só, uma bela amostra do crescimento atual dos jogos táticos no ocidente, ainda temos mais bons exemplos do desenvolvimento do gênero nos consoles portáteis da Big N. Por exemplo, outro clássico dos computadores, Age of Empires, deu as caras no DS em uma versão muito caprichada. Tivemos ainda Final FantasyTactics A2, também no DS,e Final Fantasy Tactics Advance, para o GameBoy Advance, apenas para citar algumas ótimas opções.
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Os portáteis da Big N contam sempre com boas opções de jogos táticos, como Final Fantasy Tactics Advance. |
Um tipo diferente de tática
Se existe uma franquia capaz de rivalizar com Fire Emblem pelo posto de mais tradicional jogo tático da Nintendo, ela é a série Advance Wars, ou Famicom Wars como é conhecida no Japão. Como de praxe, os primeiros jogos nunca cruzaram o oceano, o que acabou fazendo com que a franquia fosse conhecida também, extra oficialmente, como Nintendo Wars. Também desenvolvida pela Intelligent Systems, a série nasceu em 1988 e só chegou ao mercado americano em 2001, por meio do jogo Advance Wars. Como ele fez um certo sucesso, ainda pudemos contar com mais lançamentos nas Américas, como o excelente Advance Wars: Dual Strike para o DS, e Batallion Wars para o Game Cube, sendo este último um jogo de estratégia e ação em tempo real, ao invés de contar com batalhas em turnos como sempre ocorreu na série principal.
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Pikmin torna a jogabilidade tática mais acessível e adorável. |
Mas nem só de administração de batalhões vivem os jogos táticos. No GameCube tivemos uma variação interessante do gênero com o já lendário Pikmin, mais uma criação sensacional de Shigeru Miyamoto. Embora não seja necessariamente um jogo tático nos moldes tradicionais, quando você direciona os pequenos Pikmins rumo à batalha ou a solução de enigmas, não deixa de estar administrando um pequeno exército e honrando as tradições do gênero. O maior diferencial aqui é o quão ágil e fluida é sua jogabilidade, tornando esse estilo de jogo muito mais acessível para todos os tipos de jogadores. No Wii tivemos uma espécie de sucessor espiritual de Pikmin, o incrível Little King's Story. Obedecendo a mesma fórmula da obra de Miyamoto, a aventura do simpático reizinho trouxe ainda mais elementos estratégicos, propiciando a administração de várias classes diferentes e a manutenção de variados exércitos de uma só vez, mas ainda assim mantendo os controles simples e mais intuitivos.
Seja em sua fórmula clássica de administração de tropas e exércitos em blocos, ou numa jogabilidade mais solta e fluida, o fato é que os jogos táticos figuram entre os mais divertidos e envolventes dos videogames. Se para você Roy e Marth são apenas lutadores de Super Smash Bros., provavelmente já passou da hora de rever seus conceitos. Afinal, quem sabe se o seu reconhecimento não é exatamente o impulso que falta para que as produtoras se animem a lançar nas américas grandes jogos táticos que até hoje não pudemos jogar?
Revisão: Jaime Ninice