Wii

O fim de uma era: as contribuições e lições deixadas pelo Nintendo Wii

em 19/09/2012

Depois de seis anos no mercado, finalmente podemos dizer que o Nintendo Wii está quase se despedindo. Um fim ao suporte do console ainda nã... (por Jardeson Barbosa em 19/09/2012, via Nintendo Blast)

Depois de seis anos no mercado, finalmente podemos dizer que o Nintendo Wii está quase se despedindo. Um fim ao suporte do console ainda não deve estar nos planos da Nintendo, mas com a chegada do Wii U em dois meses, é natural que as pessoas já considerem seu antecessor um “console morto”. No especial de hoje, relembraremos um pouco as estratégias comerciais da Nintendo, a revolução criada pelo Nintendo Wii e como tudo isso afetou a forma como jogamos videogame. Como está a imagem da Nintendo após uma geração tão conturbada? Quais lições deixadas pelo console devem (e não devem) ser levadas a diante? É o que responderemos nesta matéria.

A ascensão e a queda da Nintendo

Desde que lançou seu primeiro console de mesa, a Nintendo se destaca por seu pioneirismo em diversas tecnologias e ideias inovadoras, que rapidamente se tornam tendências. O NES, por exemplo, se tornou um sucesso estrondoso graças ao hardware robusto, que incluía um controle completamente desenvolvido pela Big N; e aos jogos, que se diferenciavam da concorrência pelas propostas e mecânicas ainda não exploradas. Jogos como Super Mario Bros., The Legend of Zelda, Metroid, Duck Hunt e Mike Tyson’s Punch-Out!! estão na vanguarda de seus gêneros e abriram espaço para diversas outras desenvolvedoras construírem, ao lado da Nintendo, a indústria dos videogames que temos hoje.

Clique para ampliarDe lá para cá, cada console da Big N foi lançado com atributos únicos. O controle do SNES em formato de osso, por exemplo, abriu espaço para que o console pudesse receber diversas conversões de jogos de arcades. Isso garantiu à Nintendo uma posição muito confortável na “guerra dos 16 bit”, já que ela apresentava um hardware capaz de entregar experiências únicas aos consumidores (graças a jogos como Super Mario World, Mega Man X e The Legend of Zelda: A Link to the Past), ao mesmo tempo em que entregava experiências que eles só poderiam encontrar nos arcades, como Street Fighter II, Killer Instinct e Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time. Além disso, tecnologias empregadas no console, como os chips Mode7 e Super FX, obrigaram os concorrentes a se adaptar para se manterem competitivos. Jogos como Contra III: The Alien Wars, Super Mario Kart, F-Zero, The Secret of Mana, Star Fox e Super Mario World 2: Yoshi's Island foram um verdadeiro “passo à frente” da indústria.

Clique para ampliarApós os anos de vacas gordas, vieram os anos de vacas magras. Com a insistência em lançar um console que não utilizava a mesma tecnologia de CDs, dos concorrentes PlayStation e Saturn, a Nintendo acabou cavando a própria cova. O Nintendo 64 até apresentou jogos únicos (como Super Mario 64) e um controle inovador, que dispunha de um analógico com 360º de rotação, mas a empresa de Quioto não mais ditava as regras como antes.

A situação se repetiu no GameCube. O console seguiu toda a metodologia criada pelas concorrentes na geração 32 bit (como mídia óptica e direcional analógico extra), mas falhou em apresentar tecnologias realmente novas que pudessem dar um gás extra à indústria e que destacassem a presença da gigante, que acabou ficando em último lugar na “guerra dos consoles” dessa época. Com a recente queda da ex-gigante Sega, só se falava no destino da Nintendo, que parecia ser o mesmo.

Como uma “falência” anunciada aos quatro cantos pelos mais diversos analistas de mercado poderia ser evitada? Foi ao fim de uma geração decepcionante que Satoru Iwata e as demais cabeças pensantes que integram a empresa encontrariam uma solução no próprio passado glorioso. A Nintendo precisaria voltar a inovar, da mesma maneira que fez com o NES.

Nintendo Entertainment System 2

De muitas formas, o Nintendo Wii pode ser considerado uma versão atualizada do velho NES. O que fez do NES um console especial foi o fato de ele ser diferente, e o mesmo pode se aplicar ao Wii.

Para início de conversa, o Wii foi um console capaz de atingir as massas, assim como o NES havia feito há quase 20 anos antes. Quando o NES foi lançado, a empresa tratou de apresentá-lo como um computador para a família, uma peça que não era apenas um videogame, mas um centro de entretenimento para o lar. E foi exatamente esse o compromisso do Wii e de seus jogos.

Uma nova forma de jogar

Clique para ampliarA primeira grande diferença do Wii em relação a tudo que já havia sido feito está nos controles. O curioso Wii Remote foi uma verdadeira febre na segunda metade da última década. Apesar de todo o ceticismo da indústria, o novo controle da Nintendo instituiu uma nova forma de jogar que rapidamente foi acompanhada por outras gigantes do setor.

Os mais beneficiados foram os jogos “party”. Muitos títulos que simulavam atividades do dia a dia foram criados com o Wii Remote em mente. Jogos baseados no boliche, por exemplo, ganharam uma nova roupagem com os controles por movimento. A partir daí já dá pra imaginar que todo tipo de game foi feito, desde os que se baseiam em esportes aos que se baseiam em pescaria.

Pescaria na sala de estar. Uma nova tendência.

Nesse momento, surge uma questão crucial. Como os tradicionais gêneros de jogos se aproveitaram dessa nova forma de jogar? Bem, a resposta mais correta seria: de forma modesta. Muitos desenvolvedores simplesmente não souberam como adaptar suas séries tradicionais a esse novo conceito e ignoraram os controles modernos em favor dos controles tradicionais – Xenoblade Chronicles, Super Smash Bros. Brawl e Sonic Colors são alguns exemplos. Outros aproveitaram muito bem a nova tecnologia – em jogos como Dead Space: Extraction e Resident Evil 4: Wii Edition, mas a maioria não saiu do lugar comum.

O fato é que, apesar do Wii Remote ser a característica que colocou o Wii no topo, ele não se mostrou capaz de superar o modelo tradicional de controles.

Novas opções de controles por movimento, como o PlayStation Move e o Kinect, se apropriaram do legado do Nintendo Wii e expandiram ainda mais essa nova forma de jogar. É provável que o desacreditado novo modelo da Nintendo ainda resista por muitos anos, só que com bem menos força.

Abandonado como um brinquedo velho

As diferenças entre o Wii e o NES surgem quando se pensa na forma em que eles foram explorados. O Wii pode ser comparado a uma dessas inovações tecnológicas que são bem sucedidas, mas possuem prazo de validade bem limitado (iPad, estou olhando para você). Apesar de não se destacar enquanto um bom hardware para jogos, o Wii apresentou uma série de conceitos inexplorados e despertou o interesse do consumidor comum – aquele que não está acostumado a comprar consoles.

Os primeiros anos foram de festa. Wii Fit e Wii Sports eram jogos vanguardistas e conseguiram reunir um grande número de pessoas nas salas de estar. Com o passar dos anos, a febre foi diminuindo. Impressionar não era mais uma tarefa fácil e, aos poucos, as pessoas foram cansando da proposta inovadora do Wii. Apenas uma modinha?

A verdade é que, apesar de proporcionar um preço competitivo, o hardware do Wii limitou o potencial do console. A baixa resolução e o pífio poder de processamento logo foram superados por diversos outros dispositivos – e jogar com os movimentos do corpo já era realidade em todos eles.

Com a queda no interesse das pessoas, as desenvolvedoras também perderam o interesse na antiga mina de ouro, passando assim a concentrar esforços nas novas modas, como o iPad e o Kinect.

Hoje, o Nintendo Wii acumula poeira nas prateleiras de muita gente, e a culpa é da Nintendo. O console que revolucionou o mercado não teve força para segurar o contra-ataque dos adversários e criou uma saia justa para a Nintendo, que hoje se vê novamente desacreditada pela imprensa e por grande parte dos jogadores.

O erro foi focar demais em um público não tão fiel, como os jogadores casuais, e esquecer daqueles que fizeram da empresa o que ela é hoje. Não estou dizendo que a Nintendo deixou de lançar bons títulos clássicos (Metroid Prime 3: Corruption e Super Mario Galaxy não me deixariam mentir), mas, a partir do momento em que a empresa criou um brinquedo (e não uma central de entretenimento, como haviam prometido), era de se esperar que o destino do Wii fosse a caixa de brinquedos velhos.

O que deve e o que não deve ser levado a diante

O legado do Wii é extenso, e merece ser respeitado. O console transformou o sonho dos controles por movimento em realidade, dividiu os jogadores em hardcore e casual (essa separação já existia, mas se tornou bem mais evidente com o Wii), apresentou o fantástico mundo dos games para pessoas que jamais haviam experimentado um videogame na vida (como muitos idosos), foi a casa de clássicos como Super Mario Galaxy e não podemos nos esquecer dos amigáveis Miis.

No entanto, muitas das coisas trazidas pelo Wii acabaram se mostrando adições desnecessárias ou, pior, prejudiciais à indústria como um todo.

Uma das características mais questionáveis do Wii é a falta de seriedade, quase sempre constante em seus jogos. Não falo aqui de sangue, vísceras e outras coisas que os pseudo-hardcore adoram exaltar, mas de coisas que funcionavam bem nas gerações passadas e que foram deixadas de lado pelas produtoras que desenvolveram projetos para o Wii (incluindo a própria Nintendo).

Bioshock? GTA? Borderlands? Que nada. Para o Wii, a Take Two só teve Carnival Games.

O que se viu foi uma quantidade absurda de títulos questionáveis sendo lançada a esmo. A lógica por trás disso é simples: se Wii Sports deu certo, provavelmente qualquer coisa que inclua o balançar dos braços também dará. Foi assim que bizarrices como Champion Jockey: G1 Jockey & Gallop Racer viram a luz do dia. Um movimento assim já ocorreu no passado e o resultado foi o grande crash da indústria em 1983. Claro que hoje falamos de uma indústria madura e bilionária, mas a falta de qualidade nunca deixará de ser desestimulante. E isso não é um problema exclusivo do Wii. Como estamos falando de legado aqui, é bom esclarecer que a queda na qualidade acompanhou todos aqueles que seguiram os passos da Nintendo. Muitos desses títulos podem até ser considerados bons, de um ponto de vista técnico, mas a maioria deles não é exatamente o que esperamos dos videogames.

A vergonha alheia fica incontrolável aos 0:56

Utilizar os recursos trazidos pelo Wii em jogos sérios (me refiro aqui a jogos que não farão seus amigos rirem enquanto você joga) é uma tarefa dificílima que poucos títulos conseguiram realizar. The Legend of Zelda: Skyward Sword é um deles, mas nem ele escapa da fúria de alguns jogadores que preferem os controles tradicionais. Se o antigo está funcionando, porque substituí-lo?

Não teria como levar um negócio desses a sério.

Se existem lições que a Nintendo pode tomar com o Wii, uma delas é a de que gráficos imponentes não são tudo, mas um hardware limitado pode se tornar um problema a longo prazo. A ausência de foco na conexão online transformou o Wii em uma opção desinteressante para o consumidor, enquanto a grande diferença entre o poder do Wii e dos outros consoles da concorrência o colocou em uma posição desfavorável entre os desenvolvedores. E esses são apenas alguns dos muitos exemplos. Se o WiiWare fosse um serviço mais aberto e sem limite para o tamanho dos jogos, por exemplo, talvez, apenas talvez, algumas coisas poderiam ter sido diferentes.

O Nintendo Wii foi um console especial. Foi o console da Nintendo com mais unidades vendidas, o que trouxe de volta várias franquias memoráveis (como Mega Man e Punch-Out!!) e o que aproximou a Nintendo dos consumidores de uma forma que nenhum dos consoles recentes foi capaz. Apesar de uma série de erros e más interpretações, o Wii fez exatamente aquilo que era de se esperar de um console com o nome Revolution: uma revolução em um segmento que andava tão parado. Se o legado será levado a diante? Só o tempo dirá. Mas, apesar dos pesares, a Nintendo se orgulha do console que fez, tanto que manteve o nome no sucessor, e isso demonstra que as coisas deram certo novamente. Só nos resta esperar que o U de Wii U seja equivalente ao S de SNES.

Revisão: Ricardo Bach


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