Já notaram que os ideais dos vilões contemporâneos têm variado muito? Eles fugiram daquele padrão de querer conquistar o mundo e governar o universo, a coisa vai muito mais além... Por exemplo, o vilão que iremos falar hoje quer alcançar o pleno equilíbrio entre luz e escuridão. Não parece um ideal tão sinistro, não é? O ponto é o quão longe ele está disposto a ir para isso, e o efeito que isso pode causar em todo o universo. Com vocês, o principal vilão da série
Kingdom Hearts,
Master Xehanort.
Imponente, assustador, cruel, frio e muitos outros belos adjetivos estão na lista do que descreve este poderoso mestre da Keyblade. Por algum motivo, este senhor se tornou extremamente adepto às artes das trevas e não as vê como algo a ser eliminado, e sim assimilado e concentrado. É um ponto de vista
familiar não? É amigos,
já vimos isso antes... Ou seria depois? Bem, o que importa é que esta disputa de ideais entre a luz e a escuridão parecem pré-datar mesmo o início oficial da trama de Kingdom Hearts... Mas para entender melhor, teremos de voltar para antes do começo.
Aviso: O texto a seguir contém revelações sobre o enredo (spoilers). Leia por sua conta e risco.
Nascido de um sonho
“Escuridão não é o fim, e sim o começo. Tudo nasce na escuridão”. Com essas palavras que iniciamos a história de um cavaleiro que teve como único foco ser capaz de ser o mestre da luz e das trevas. Xehanort, em sua infância, foi treinado junto com Eraqus para serem mestres da Keyblade. Ambos conseguiram evoluir até este ponto, mas seus ideais eram completamente diferentes; enquanto Eraqus era fiel a ideia de que a luz devia preencher o coração daqueles que empunhavam a Keyblade, Xehanort tinha a crença de que o equilíbrio era necessário para alcançar o verdadeiro poder. Em suas discussões, ambos acabaram partindo em rumos separados, cada um com seu ideal em mente.
Após anos de pesquisa e uma longa jornada, o mestre da Keyblade adquiriu conhecimentos sobre os acontecimentos da antiga Keyblade War, que ocorrera tempos antes dele sequer saber da existência das Keyblades. Junto com o conhecimento da guerra entre os cavaleiros empunhando suas lâminas-chaves, também descobriu a existência de uma entidade que continha todo o poder e sabedoria do universo, o coração de todos os mundos, Kingdom Hearts. Tendo em mente sua visão da utopia de luz e trevas que deveria predominar em todos os mundos, Xehanort se interessa por uma forma de conquistar Kingdom Hearts e conseguir estabelecer o equilíbrio sobre toda a vida civilizada, mas era mais fácil falar do que fazer. Pra começar, ao partilhar sua ideia com Eraqus, Xehanort foi advertido de não prosseguir e acabou sendo atacado por seu velho companheiro – o que resultou em algumas cicatrizes... para Eraqus. Também era necessário uma Keyblade lendária conhecida como χ-blade (pronuncia-se “kyeblade”) que só poderia ser forjada com o choque de um coração banhado em trevas e um repleto de luz. Outro problema era a idade que avançava impiedosa, e o mestre estava envelhecendo. Ele precisava impedir isso de acontecer.
Tendo isso em mente, Xehanort arquiteta um plano conforme acolhe um aprendiz chamado Ventus. Ele é treinado diariamente pelo mestre, sendo guiado a combater seres da escuridão e é instruído a aceitar as trevas, porém o coração benevolente do rapaz o impede de seguir este rumo. Vendo que o rapaz não serviria para o plano principal, Xehanort usa de sua Keyblade para extrair toda a escuridão do coração de Ventus afim de criar Vanitas, uma essência de pura maldade, um coração sombrio – como necessário na ‘receita’ da χ-blade -, porém a extração causou efeitos colaterais: Ventus foi totalmente destruído por dentro. Com seu coração debilitado, Xehanort não viu mais utilidade para o rapaz e o abandonou em Destiny Islands para morrer. Mas a surpresa veio quando o rapaz se levantou e convocou sua Keyblade. De algum modo, seu coração voltou a ser inteiro, mas suas memórias haviam sido totalmente perdidas – o que foi um alívio para o mestre da Keyblade. Com o rapaz em recuperação, Xehanort o levou para Eraqus para que este acolhesse o garoto e cuidasse dele, o que foi aceito de bom grado pelo antigo companheiro. Lá, Ventus acabou fazendo amizade com os aprendizes de Eraqus, Terra e Aqua, o que desencadeou os eventos de
Kingdom Hearts: Birth by Sleep (PSP).
No decorrer dessa aventura, Xehanort manipula o caminho dos três aprendizes de Eraqus de modo a Terra entregar-se a escuridão em seu coração, Ventus bater de frente com seu próprio lado negro e Aqua a não atrapalhar os seus planos. Suas artimanhas são bem colocadas, fazendo Terra se envolver com os vilões de diversos mundos e deixar um rastro sinistro por onde passa, o levando a acreditar até que o seu próprio mestre era maligno. Aqua e Ventus tentam a todo custo auxiliar o amigo, mas este vai mergulhando cada vez mais fundo nas trevas, e tudo chega a um ápice quando o trio se encontra com Xehanort e Vanitas no Cemitério das Keyblades. O embate já era iminente, e não demora para Terra entrar num combate mortal contra o mestre da Keyblade. A questão é que o plano de Xehanort funciona.
Vanitas se funde com Ventus e cria a χ-blade, resultando na convocação de Kingdom Hearts. Usando do seu poder e de sua própria Keyblade, Xehanort se aproveita da escuridão do seu adversário e se apodera de seu corpo, fundindo-se com Terra e rejuvenescendo o, até então, idoso mestre. O único problema é que a χ-blade se parte quando Ventus supera Vanitas (debilitando o próprio coração no processo) e o coração de Terra continua lutando contra a essência de Xehanort. A vontade do jovem cavaleiro era tamanha que a sua armadura vazia se levantou e combateu o mestre, o forçando a tal limite que suas memórias foram prejudicadas, deixando-o incerto sobre os seus objetivos.
Com Ventus e Terra perdidos, Aqua vai atrás do mestre Xehanort, agora no corpo do seu outrora amigo, e o encara em uma batalha final. No processo, Xehanort perde o que restou de suas memórias e Aqua afunda na Realidade das Trevas. O jovem mestre é então acolhido por Ansem, o Sábio, governante de Radiant Garden. Sob a tutela do novo mestre, um Xehanort desmemoriado começa a entender novamente o funcionamento das trevas no coração, aprendendo mais sobre Kingdom Hearts e aos poucos vai revivendo a sua natureza. As coisas chegam a tal ponto que, após algumas experiências com a escuridão, todos os aprendizes de Ansem acabaram tendo seus corações corrompidos e transformados em Heartlesses, e seus corpos tornaram-se os Nobodies que iriam formar futuramente a Organization XIII. Xehanort? Bem, seu Heartless passou a ser conhecido como “Ansem, o Perseguidor das Trevas” (
Kingdom Hearts – PS2) e seu Nobody tornou-se “Xemnas”, o líder vazio da Organization XIII (
Kingdom Hearts II – PS2). Mas isso são histórias pra outro dia...
A fúria de um mestre
Xehanort é um dos mais poderosos – senão o mais poderoso – personagem que já surgiu na série Kingdom Hearts. Suas habilidades com magia e dotes físicos realmente são paradoxais em relação a sua aparência fraca e debilitada pela idade. O mestre aparece pela primeira vez como um velho, ligeiramente corcunda, cavaleiro da Keyblade. Careca, possui uma pequena barba descendo pelo queixo. Suas vestes são compostas por um sobretudo negro que cobre seu casaco, acompanhado de luvas e botas, dando-lhe um aspecto sinistro.
Quando ele toma o corpo de Terra, sua aparência parece uma união dos dois: o corpo de Terra permanece intacto, assim como sua vestimenta, porém seus olhos se tingem de amarelo dourado e seus cabelos embranquecem. Além disso, junto com a jovialidade, seus atributos físicos já potentes se tornam ainda mais surpreendentes.
Xehanort é frio e segue o seu plano a risca, independente dos custos do tal. Se for preciso eliminar um parceiro, ele vai eliminar. Se for preciso derrubar um aprendiz, ele vai derrubá-lo. Seu objetivo está acima de tudo e todos, e sua honra para com os seus ideais vão além da compreensão, algo admirável mesmo para um vilão.
Em combate, mestre Xehanort é um verdadeiro titã; suas magias são assustadoras e intimidam qualquer oponente, demonstrando isso ao dobrar o cenário com um mero movimento de suas mãos, erguendo montanhas e manipulando centenas de Keyblades simultaneamente. Fisicamente é um adversário e tanto, como visto no final de Birth by Sleep, onde o adversário conta com golpes finalizadores assustadores e coloca uma verdadeira pressão com seus avanços violentos.
Com isso, concluímos a análise do derradeiro vilão e responsável por tudo de ruim que ocorre na série Kingdom Hearts. Será que seu objetivo é tão errado assim? Será que a tirania da luz não está realmente atrapalhando o equilíbrio das coisas? Se tudo veio das trevas, talvez devam retornar a mesma. O que acham? Ele é um vilão, ou apenas um vingador mal compreendido? Opinem nos comentários!
Revisão: Leandro Freire
