Poucas séries de videogames possuem a mesma riqueza musical que The Legend of Zelda. A música é tão importante que não se restringe apenas à bela trilha sonora, infiltrando-se na história e jogabilidade. Assim sendo, não é difícil entender porque homenagens musicais de fãs são tão comuns. Com The Zelda Symphony, temos até mesmo uma orquestra verdadeira tocando os temas da franquia pelo mundo. Mas agora temos algo mais diferente e ousado. Um dos títulos mais sombrios da série, se não o mais, será adaptado em uma ópera.
O idealizador
Miguel Bulteau nasceu em Lisboa, Portugal, em 1989. Sempre esteve envolvido com artes, especialmente a música, e atualmente está envolvido em estudos acadêmicos na área. O seu trabalho pode ser visto na sua página oficial.
O jogo
No final de 2011, Miguel notou o entusiasmo gerado pela Zelda Symphony Orchestra, em turnê mundial em homenagem aos 25 anos da série e, como músico e fã, se perguntou por que não criar uma ópera baseada em Majora's Mask.
“The Legend of Zelda: Majora's Mask é um jogo profundo. O ambiente estranho, a urgência da trama e os problemas dos personagens funcionam muito bem em palco. Os temas de Koji Kondo e Toru Minegishi são brilhantes e discretas obras de gênio que podem ser desenvolvidas sobre uma narrativa, tornando este projeto numa celebração integral da história e da música deste jogo.
Isto não é só para fãs de Zelda. A história de Majora's Mask funciona por si só, e a ópera está escrita de maneira que qualquer um a pode apreciar, independentemente de ser um jogador ou um fã de Zelda.” - Miguel Bulteau
A ópera
Como o próprio Bulteau esclarece, um jogo é um jogo, um livro é um livro, uma ópera é uma ópera, etc. Por isso, são necessárias adaptações para transportar a história dos videogames para o palco. Qualquer um que já tenha assistido a uma ópera sabe que a maior parte da história é contada através das músicas, e isto é algo que nunca faltou a The Legend of Zelda. Aproveitar os temas do jogo seria uma decisão óbvia, mas eles ainda não poderiam ser usados em sua forma normal, por isso estão sendo trabalhados e letrados para que se enquadrem no padrão necessário.
E quanto ao enredo? Ele pretende ser bem fiel ao mundo de Termina e seus personagens, mas com uma grande diferença em relação ao jogo: Link está ausente.
“A intensidade de um drama de palco vem da concentração da atenção em um personagem específico ou grupo de personagens e as coisas que os afetam. Eles podem ser relacionados com algo maior, obviamente, mas ainda tem de se limitar a um grupo que é suficientemente pequeno para construir a quantidade de peso que necessita.
A razão pela qual um jogo como Zelda não pode ser adaptado para o palco 100% em cada aspecto é porque um jogo é construído como um meio interativo. Um jogo como Zelda vive da diversidade e na exploração.
Eu escolhi Majora's Mask por uma razão: em toda a sua diversidade, Majora's Mask tem a habilidade de cativar através das angústias pessoais dos habitantes de um mundo agonizante. Agora, transformá-lo em uma lista interminável de problemas igualmente importantes seria estático e sem importância, e aqui é a questão-chave: seria transformar um personagem mudo heroico em um manipulador de tarefas para um mundo com indivíduos vivos, pensantes e sensitivos.
É um conto "e se" de cautela para o mundo do público (como Ikana era para o resto Termina) contando o destino de Termina sem a intervenção de um salvador, um Deus Ex Machina em forma de Hylian.” - Miguel Bulteau
A remoção de Link permitiu construir o enredo em torno de uma das principais sidequests de Zelda, “Reuniting Kafei and Anju”. Apesar dessa alteração, Termina estará lá como a conhecemos, e personagens como Skull Kid, Mask Salesman e até mesmo Tingle estarão presentes.
“Esta é a história de duas máscaras. Dois polos opostos. Dois símbolos radicalmente diferentes em dois pares de mãos erradas.
Uma é um artefato antigo, chamado Máscara de Majora, onde mora uma entidade insidiosa de puro caos. O destino quis que esta, apesar do esforço de um viajante misterioso para a manter segura, fosse cair nas mãos de um duende infantil, facilmente consumido pelas emoções mais irracionais, para ser possuído como uma marionete e cumprir o pior dos males.
A outra é um simples símbolo do matrimônio, a Máscara do Sol, que, como uma aliança de casamento, existe para ser usada numa cerimônia de entrega total. É roubada por mãos mesquinhas e gananciosas pelo seu valor em ouro.
Para os habitantes deste mundo, Termina, onde as máscaras têm estes significados tradicionais, o Carnaval do Ano Novo está para chegar. Uma celebração do renascer da vida está para ocorrer dali a três dias, mas coincide com algo terrível.
Só o viajante misterioso que tinha estado à guarda da Máscara de Majora, um Vendedor de Máscaras, tem noção do que habita nela e do que se está realmente a passar. A lua adquiriu um aspecto estranho e está estranhamente a aproximar-se. Demasiado perto. A máscara tem de ser retirada ao duende, mas este tornou-se tão poderoso que é possível que seja tarde demais...
Entretanto, Kafei, o jovem noivo, está para casar no Carnaval. Estava tudo pronto até a sua máscara de matrimônio ser roubada. Demasiado envergonhado por ter de enfrentar o seu casamento em desonra, desaparece para a tentar encontrar. Não desistirá até encontrar o ladrão, mesmo que isso signifique procurar até nos cantos mais recônditos do mundo.
Prometeu voltar a tempo.” - Sinopse da ópera
No momento a ópera ainda está sendo escrita. O primeiro ato está completo, e o segundo está pela metade. Ainda restam a abertura, o prólogo e o terceiro ato. Os atores e o resto da equipe necessária também estão sendo selecionados, mas já há alguns vídeos das demos (que você vê nessa reportagem) para sabermos como anda o projeto. Importante destacar que nem todos os envolvidos são fãs de Zelda ou de videogames. O objetivo é criar uma obra que seja universal, que possa ser apreciada mesmo por aqueles que não sabem nada a respeito do jogo.
Nas demos os artistas ainda não são os finais e muitas características estão sujeitas a mudanças. Além disso, também estão disponíveis algumas amostras instrumentais.
O que será do projeto quando ele estiver pronto, não sabemos. Se a ambição é realmente apresentá-lo em teatros, certamente será necessário entrar em contato com a Nintendo, detentora da propriedade intelectual sobre os personagens, nomes, história e músicas.
Por enquanto, nos resta torcer para que a queda da lua seja, nos palcos, tão impressionante quanto no N64, doze anos atrás.
Revisão: Marcos Vargas Silveira