Game Music: A genialidade musical de Koji Kondo

em 13/08/2012

O que há em comum entre “ Jingle Bells ”, “ Chariots of Fire ”, “ Wiegenlied (Lullaby) ” e “ Ground Theme (Overworld Theme)”? Todas são comp... (por Jardeson Barbosa em 13/08/2012, via Nintendo Blast)

O que há em comum entre “Jingle Bells”, “Chariots of Fire”, “Wiegenlied (Lullaby)” e “Ground Theme (Overworld Theme)”? Todas são composições amplamente conhecidas no mundo, e a maioria das pessoas nem sequer sabe quem as compôs. Você pode até não conhecê-las pelo nome, mas certamente reconheceria uma a uma após escutá-las. Grandes nomes como James Lord Pierpont, Vangelis ou Johannes Brahms se tornaram conhecidos, não por suas imagens, mas por seus trabalhos. Outro nome que pode soar estranho para você é Koji Kondo, um compositor japonês que faz, hoje, 52 anos de idade e, assim como os demais, possui um acervo mundialmente famoso. Hoje relembraremos um pouco da vida e do trabalho de um dos principais nomes por trás da Nintendo e uma das pessoas mais influentes e importantes da indústria dos videogames.

O nascimento de um mito

Koji Kondo é, ao lado de Shigeru Miyamoto e outros, um dos principais nomes da Nintendo. Sua obra ficou mundialmente conhecida através da trilha sonora de jogos como Super Mario Bros., The Legend of Zelda e Star Fox. Atualmente é indiscutível a contribuição desse compositor para a indústria dos videogames. Ele não só é um dos mais influentes compositores, como ajudou a criar diversos paradigmas que hoje temos como regras.

Reconhece alguém?

O jovem estudante de artes, nascido na cidade japonesa de Nagoya em 13 de agosto de 1960, sempre teve vocação musical, mas nem sempre levou isso a sério. Pode-se dizer que o início de sua carreira se deu com as aulas de órgão eletrônico, ainda na infância. Fã dos britânicos da banda Deep Purple e de Emerson, Lake & Palmer, Kondo foi, também, bastante influenciado pela música ocidental, além de ter passado por uma banda cover de jazz e rock, onde aperfeiçoou suas habilidades de músico. Sua entrada na Big N foi uma oportunidade única, que ocorreu quando ele já estava na Universidade de Arte de Osaka. A Nintendo havia enviado à universidade uma mensagem, recrutando jovens compositores que quisessem trabalhar na empresa criando músicas para os videogames da empresa. Mesmo sem muita experiência, Kondo foi contratado em 1984 e foi a primeira pessoa a trabalhar na gigante de Quioto apenas compondo músicas.

Seu trabalho como compositor na Nintendo começou ainda nos arcades e no Famicom (o NES japonês), em uma época em que as trilhas sonoras não eram um elemento comum nos jogos. Antes da terceira geração dos videogames, que se iniciou com o Famicom, o trabalho dos compositores e designers de áudio era apenas a criação de “bips” ou outros sons monofônicos que tentavam simular os sons reais. Na melhor das hipóteses eram compostos singelos “jingles” (ou sons de background), que apareciam vez ou outra.

Pelo fato de ser um dos primeiros compositores contratados pela Nintendo, Koji Kondo acabava recebendo praticamente todos os trabalhos da empresa, e, graças à isso, acumulava cada vez mais experiência. Foi assim que ele recebeu a missão de compor a trilha sonora de clássicos como Devil’s Word, Soccer e, finalmente, Super Mario Bros., alguns dos primeiros títulos lançados pela Nintendo.

Os altos de uma carreira sem baixos

Super Mario Bros. foi o trabalho que projetou Koji Kondo. As poucas composições do jogo são marcantes e criativas. O tema principal, por exemplo, progride de uma forma alegre e se encaixa perfeitamente com os cenários coloridos do jogo. Para Kondo, as músicas dos jogos do Mario deveriam se encaixar com os controles dos personagens em perfeita sintonia, e esse objetivo foi fielmente alcançado com o “Overworld Theme(também conhecido como Ground Theme) de Super Mario Bros. A composição, completamente viciante, conseguiu resistir bem aos anos e se provou um completo sucesso, sendo uma das mais conhecidas no mundo inteiro. O tema permaneceu, também, por mais de 100 semanas entre os ringtones mais baixados nos Estados Unidos em 2009, segundo a revista Billboard.

Para The Legend of Zelda, a trilha sonora que é considerada a maior obra prima de Koji Kondo, o compositor trabalhou diretamente com Shigeru Miyamoto, designer do jogo. Segundo o próprio Koji Kondo já declarou em entrevistas, a sua missão no título era a de compor faixas “bravas e galantes, através de um pequeno número de sons”. O hardware mais robusto do Famicom Disk System facilitou um pouco as coisas, mas essa foi, até então, a trilha sonora que mais deu trabalho a ele. O resultado final é aquilo que já conhecemos. Shigeru Miyamoto aprovou a trilha sonora e as aventuras de Link por Hyrule ganharam personalidade. O “Overworld Theme” é marcado pelas repetições e pelo uso simultâneo de todos os canais de áudio disponíveis no NES, criando uma progressão intensa e heroica. O sucesso do tema foi tão grande, que ele reapareceu em vários outros jogos da série, dessa vez como tema principal.

Em Yume Kōjō: Doki Doki Panic, lançado por aqui como Super Mario Bros. 2, Koji Kondo extrapolou todos os limites do hardware de áudio limitado do NES, criando uma trilha sonora atemporal e impressionante. Assim como Super Mario Bros., Doki Doki Panic é um jogo de ação, com o foco na jogabilidade, e, para isso, o som deveria, novamente, se encaixar com a movimentação e o controle dos personagens. O “Overworld Theme” é uma bela mistura de “chiptunes” diretamente influenciados por compositores ocidentais, e inclui “pianos” e se baseia no gênero ragtime.

Chegando aos anos 1990, encontramos Super Mario World, um dos títulos de lançamento do Super Nintendo. Neste título, Koji Kondo quebra todas as barreiras possíveis, criando uma trilha sonora inteira baseado em uma única melodia. Ainda seguindo a regra básica do primeiro Super Mario Bros., os tempos e arranjos variam de acordo os controles de cada fase. A trilha sonora ainda se modifica na presença do dinossauro Yoshi, ganhando batidas de tambores que acompanham os passos dele. Para essa trilha sonora, trago “Athletic”, uma das versões da melodia principal que se encaixa nas fases onde o esquema de controles se resume a correr e pular e se encaixa bem nos estágios em que a câmera se movimenta sozinha.

Em Super Mario World 2: Yoshi’s Island, a inspiração veio de ritmos tropicais. Os cenários paradisíacos da ilha dos Yoshis, juntos da espetacular direção de arte – que lembra desenhos feitos em giz de cera –, foram o berço ideal para composições que misturam tambores, flautas doces e muito gingado. Yoshi’s Island é um trabalho marcado por extrapolar todos os limites do SNES, tanto a nível de gráficos quanto em relação ao hardware de som. Um exemplo da grandiosidade dessa trilha sonora é a belíssima Flower Garden, que, além de tudo que já foi destacado, faz referência ao visual infantil do jogo.

The Legend of Zelda: A Link to the Past é lembrado por possuir uma das melhores trilhas sonoras da história. Na verdade, todas as composições do título foram criadas sobre as composições do primeiro jogo da série. As músicas desse título seguem à risca a regra básica de Koji Kondo para a série Zelda. Diferente de Mario, onde as músicas devem se encaixar com os movimentos dos personagens, as músicas de Zelda devem se encaixar com o ambiente. Cada faixa foi composta com base, unicamente, nos cenários. Foi assim que, por exemplo, a pacata e tranquila Kakariko Village recebeu um tema tão tranquilo.

Para a série Star Fox, Koji Kondo misturou elementos de Mario e Zelda e criou algo que se situa em um meio termo. Enquanto os cenários são peça importante na construção da trilha sonora, a ação frenética e controles precisos da aventura de Fox e seus amigos pelo sistema Lylat exigiu composições que transmitissem a sensação de ação ao jogador. O tema principal de Star Fox 64, por exemplo, possui forte inspiração de temas militares, se mantendo fiel à ambientação, enquanto consegue ser contagiante o suficiente para motivar e ajudar o jogador.

Já em 1998, ano em que o mundo ficou chocado ao conhecer The Legend of Zelda: Ocarina of Time, Koji Kondo apresentou uma das trilhas sonoras mais consistentes já lançadas. Buscando inspiração em trabalhos anteriores, e criando composições únicas que marcariam a série para sempre, é difícil destacar apenas uma única faixa deste jogo majestoso. O grande desafio de Kondo, dessa vez, foi o de criar uma trilha sonora inteira baseada em único instrumento musical: A ocarina. O resultado final é um conjunto de composições impressionantes que, mesmo sob essa limitação, consegue cumprir a regra do primeiro Zelda. Para esse jogo, nada melhor do que ouvir várias faixas de uma única vez, em um belíssimo medley arranjado por Michiko Naruke para o jogo Super Smash Bros. Brawl.

Na última década, Koji Kondo se destacou por diversos trabalhos, como Super Mario Sunshine, The Legend of Zelda: The Wind Waker, The Legend of Zelda: Twilight Princess e New Super Mario Bros., mas nenhum foi tão marcante quanto as composições da série Super Mario Galaxy. Essa série marca o retorno do encanador mais famoso do mundo aos jogos poligonais, e é no primeiro Super Mario Galaxy que Kondo demonstra, novamente, a sua grandiosidade. Neste jogo, Koji Kondo não ficou encarregado da trilha sonora como um todo, apenas auxiliando o compositor principal, Mahito Yokota. No entanto, alguns dos temas musicais foram compostos exclusivamente por ele, que deu um toque final à já bela trilha sonora. Um dos exemplos é a linda Egg Galaxy, que foi criada com base nos movimentos de Mario na Good Egg Galaxy.

Por fim, encerremos com o tema principal de The Legend of Zelda: Skyward Sword, título em que Kondo trabalhou ao lado de Hajime Wakai. O curioso tema é na verdade Zelda’s Lullaby, de Ocarina of Time, reproduzido ao contrário. Não se sabe como Koji Kondo conseguiu essa façanha, mas o resultado final é impressionante e demonstra o quanto ele conhece as notas musicais.

Parabéns Koji Kondo!

Não há limites para a criatividade e capacidade de Koji Kondo. Ele é um artista completo, que está sempre se reinventando e contribuindo positivamente para a indústria. Infelizmente, não foi possível demonstrar todo o trabalho dele em um único texto, mas isso não é um problema, já que tudo está disponível nos diversos jogos no qual ele já trabalhou.

As composições de Koji Kondo já fazem parte da cultura mundial e estão onde você menos imagina. Programas de TV (que em nada tem a ver com videogames), filmes, ou até mesmo nas Olimpíadas. É possível ouvir a obra de Koji Kondo em qualquer lugar. Como se esquecer do bloco carnavalesco que homenageou Super Mario Bros. e que, por tabela, homenageou Koji Kondo também?

“Eu não jogava videogame, gente! Eu nunca joguei… eu não tinha coordenação motora.”

Koji Kondo também já foi muito homenageado por outras figuras da indústria dos videogames. A maioria das homenagens foi feita em forma de composições, mas algumas foram mais além. Há quem diga até que o personagem Tingle, da série Zelda, é baseado nele. Será?

Não há palavras ou gestos que sejam suficientes para expressar a grandeza de todo o material produzido por Koji Kondo. Seu legado é tão intenso e sua contribuição para a indústria dos videogames é tão vasta, que essa seria uma tarefa difícil. Todas essas músicas, compostas ao longo dos últimos 30 anos, fazem parte da vida de muita gente e foram feitas para nos alegrar, nos motivar, nos divertir e nos emocionar. Por fim, fiquemos com uma belíssimo apresentação de Kondo no Video Games Live Japan, que reúne as principais composições dele ao longo das últimas décadas. E que venham mais 50 anos de vida para o mestre. Vida longa a Koji Kondo!

De New Super Mario Bros. Wii a Super Mario Bros.

Revisão: Mateus Pampolha

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