A plataforma de 8ª geração da Nintendo, o Wii U, é cercada de muitas dúvidas, rumores, provocações e nenhuma certeza. Nesse mar de opiniões, de gente séria e de muitos anônimos, as informações acabam se contradizendo e no fim nada se sabe sobre essa máquina, que pode ser tão poderosa quanto qualquer computador “high end” ou tão fraca quanto o próprio Wii. Se a Nintendo não fala nada, deixemos que as outras fontes falem, e é a partir delas que chegamos a tudo que é certo sobre o console e tudo que, apesar de incerto, é bastante provável.
Gráficos tão bons quanto…
Falar do potencial gráfico do Wii U é esbarrar em muitos discursos controversos. A Sega, por exemplo, vive soltando informações a respeito de “Aliens: Colonial Marines” no Wii U. Todas essas informações são extremamente positivas e dizem que o console será, sim, uma máquina e tanto, frente aos consoles atuais. Há também os depoimentos anônimos que já chegaram a dizer, inclusive, que o Wii U será inferior ao Xbox 360 e ao PS3 no processamento dos gráficos. Já a Nintendo não concorda e nem discorda, muito pelo contrário, reservando-se a afirmar, em sua única declaração a respeito da polêmica, que: “gráficos não são o mais importante para a empresa”.
Com o Wii, ficou provado que gráficos não são um fator decisivo no sucesso de um console. Por outro lado, foi a falta de poder, frente aos consoles HD, que afastou a maioria das third-parties do amado console branco. Não há como negar que a Nintendo sozinha conseguiu carregar o console nas costas, mas isso não é o suficiente para a próxima geração. Mesmo seguindo a linha “jogabilidade em primeiro lugar” a Nintendo deve vir com uma máquina e tanto no fim do ano e o que conhecemos é apenas a ponta do iceberg.
Para segurar as pontas durante uma geração inteira e se manter atual mesmo com os lançamentos da concorrência, o console deverá possuir no mínimo 1 GB de RAM; CPU ATI Quad-Core da família Power 7, fabricada em 45nm e cache eDRAM ; GPU AMD customizada com acesso a Directx 10.1 e será capaz de rodar a 1080p nativamente.
Nós vimos a Nintendo bem atrás nessa geração no quesito gráfico e, mesmo assim, testemunhamos o nascimento de clássicos modernos, como Super Mario Galaxy 2, The Legend of Zelda: Skyward Sword, Xenoblade Chronicles e Super Smash Bros. Brawl. Imagine agora o que essa empresa poderá fazer numa máquina como o Wii U.
Uma plataforma para jogadores casuais e hardcores?
Confesso que odeio essa divisão dos jogadores em castas, mas mercadologicamente falando ela é positiva, principalmente para os desenvolvedores.
A Nintendo carregou nas costas uma imagem extremamente casual durante a última geração. A missão de conquistar a família foi cumprida, mas junto a isso a empresa atrelou sua imagem a produtos como Wii Fit e Zumba Fitness, que em nada atraem a atenção dos gamers mais “hardcore”. O Wii U é a tentativa da Nintendo de conquistar a outra fatia do mercado, os jogadores que prezam por experiências mais bem elaboradas e histórias complexas, algo que ficou em falta no Wii.
Considerando que não existe jogo casual e jogo hardcore e sim jogadores casuais e jogadores hardcore, o Wii U pode ser feliz nessa empreitada. Os games iniciais já demonstram o potencial do console pra isso. No entanto, ao mesmo tempo em que vemos anúncios de jogos como Assassin’s Creed e Batman Arkham City, muitos (como o nosso querido Pachter) torcem o nariz pra tudo isso e dizem que a tentativa de “abraçar o mundo com as pernas” pode ser falha. A razão? O crescimento do segmento casual nos smartphones e tablets e a falta de experiência da Nintendo com esse público mais “sangrento” podem explicar tudo.
A conquista do público casual foi algo importante para a Nintendo, muitas pessoas que sequer sabiam o que era um videogame se tornaram consumidores em potencial. Não perder esses consumidores é a regra, e, para isso, a própria Nintendo já preparou domínios na internet que indicam a continuação de séries como Wii Sports e Wii Fit. O Wii U será a ascenção da gigante de Kyoto e, unindo o melhor dos dois mundos, a empresa poderá dar margem para criações internas com temas pouco explorados e uma renovação nas franquias clássicas, que estão inalteradas há décadas. Tudo isso sem deixar de ser a boa e velha Nintendo.
Nintendo Network e distribuição digital, o futuro inevitável
As mídias físicas estão mortas, acabadas, destruídas e não há nada que se possa fazer a respeito disso. É questão de (pouco) tempo para que a distribuição digital represente 100% da distribuição de jogos no mundo e quase todo mundo já sabe disso. A Nintendo, felizmente, faz parte do grupo dos que sabem.
Recentemente tivemos a grata surpresa vinda diretamente da boca de Satoru Iwata, de que tanto o Wii U quanto o 3DS terão distribuição digital paralela à distribuição física para seus jogos, sendo que o Wii U terá o serviço desde o seu lançamento. Pode parecer algo simples demais, mas é algo grandioso. Microsoft e Sony já apostam nesse formato há algum tempo, e com sucesso.
Uma rede online sólida também é necessária. Já surgiram rumores sobre o uso do Steam ou do Origin, mas o rumor parece difícil de se concretizar. É provável que a Nintendo invista em uma infraestrutura desenvolvida por eles mesmos e que, finalmente, possa funcionar sem os diversos problemas enfrentados pelos donos de Wii.
É bom considerarmos, também, a situação de desenvolvedores independentes, e o problema que muitos tiveram com o Wii. É a hora de a Nintendo deixar o orgulho e o modelo ortodoxo de lado e se abrir mais com esse grupo de desenvolvedores que vem fazendo trabalhos maravilhosos em outras plataformas. Não é plausível que a Nintendo imponha limites de tamanho para jogos disponibilizados no canal que substituirá o WiiWare e, por mais que seja de certo modo vantajoso para o consumidor final, o sistema de censura é ruim e acaba barrando trabalhos muito bem feitos e liberando outros não tão bem feitos assim.
Sem as caixinhas, se vão os famosos brindes e edição de colecionador e vem as facilidades, que incluem lançamentos simultâneos em todo o mundo e preços mais baixos. Com o Wii U, os jogos não deverão mais ser atrelados ao aparelho (como ocorre no 3DS) e sim à conta do usuário, podendo ser baixados em qualquer Wii U, desde que o usuário esteja logado. O temido Friend Code deverá ser abolido, em função de um método mais prático e eficiente de se conectar durante as jogatinas.
A Nintendo também melhorará (bastante) a sua infraestrutura de rede e deverá passar a disponibilizar outros conteúdos, como apps, vídeos e músicas, que poderão ser aproveitados no próprio controle ou transferidos para a TV. Uma boa desculpa para o retorno de jogos como Pokémon Snap e Mario Paint é uma rede onde os usuários poderão compartilhar seus troféus, progressos, fases, vídeos e itens, entre outras coisas.
Controle tablet que será copiado pela concorrência?
Se voltássemos para 2006 (aí seria Blast from the Past) e perguntássemos pros jornalistas da época se algum deles acreditava que o controle por movimento criado no Wii se tornaria tendência, sendo implantado inclusive no Xbox 360 e no PS3, certamente ouviríamos poucos “sim”. Em 2012 a situação é um pouco parecida para o Wii U.
Aí você pode se perguntar: “Se isso é tão bom, por que não foi inventado antes?” Bem, algo parecido já existia no Dreamcast, da Sega, e o modelo do console da Sega quase foi parar no primeiro Xbox. Na época, a Microsoft concluiu, através de uma pesquisa com diversos jogadores norte-americanos, que a tela do controle do Dreamcast era inútil, e que poucos jogadores prestavam atenção nela enquanto jogavam. “E por que isso vai mudar com o Wii U?”
Fazendo uma analogia mais recente, o controle tablet está para o Wii U assim como a tela de toque está para o DS. É inegável o poder dado aos desenvolvedores (que muitas vezes se enrolavam e não conseguiam desenvolver algo interessante em cima disso) e ao jogador com esse “simples” recurso. Muitos dos clássicos modernos que temos hoje só se tornaram possíveis a partir do DS, e mesmo aqueles que eram possíveis sem o DS tiraram muitas vantagens em cima disso.
Não existe nenhum indício de que o Wii U suportará mais de um único tablet controller, mas levando em consideração o “espírito social” da Nintendo dá para acreditar que ao menos dois controles simultâneos serão possíveis. O tablet virá equipado de touchscreen resistivo, função de reconhecimento de voz, câmera frontal, acelerômetro, giroscópio, sensor IR, aplicativo para vídeo chamadas, web browser, display de alta resolução, a famosa tecnologia NFC (Near Field Communication), além de muitas outras funções ainda não detalhadas. A comunicação entre o controle tablet e o Wii Remote foi demonstrada discretamente na E3 2011.
Os pouco mais de dois minutos de um vídeo interno da Ubisoft, que vazou, sobre o novo Rayman revelam um inteligente uso para o controle, que poucas pessoas imaginavam. Ainda existem muito mais funcionalidades para esse controle do que a nossa mente é capaz de imaginar.
Bom, barato e…
O preço do Wii U já passou de exorbitantes 600 dólares (segundo as lojas Carrefour e EB Games da Austrália) a modestos e entusiasmantes 300 dólares, segundo fontes não tão confiáveis.
Se considerarmos que a Nintendo deixou o hardware do console mais modesto para focar em diversão, como foi o caso do Wii, é possível que o preço final seja muito atraente e já compita de cara com os consoles atuais, que estão em “fim de vida” a “preço de banana”. O console a 300 dólares parece ser o mais “realista” e basta lembrarmos dos dias difíceis do 3DS para percebermos que a Nintendo já sabe disso.
Quanto ao varejo, a Nintendo preparou táticas bem interessantes para mantê-los sob suas asas. O novo modelo de distribuição, que poderia muito bem provocar a ira de empresas como GameStop e Walmart, acabou dando mais poder a eles, já que eles poderão controlar o preço dos jogos distribuídos digitalmente e continuarão vendendo-os mesmo sem possuí-los em estoque.
Até a E3 de 2012, que está próxima, devemos esperar muito mais rumores, um pior que o outro. Mas para acalmar os ânimos, basta lembrarmos-nos do line-up inicial do Wii U, que supera todas as expectativas, e de jogos como Pikmin 3 e o novo Smash Bros. que estão em desenvolvimento. Bons jogos e ideias inovadoras valem muito mais que gráficos ou sangue jorrando da tela.
Revisão: Luigi Santana