Análise: Kid Icarus: Uprising (3DS)

em 12/04/2012

Forças das trevas ameaçam dominar o reino dos anjos, e somente um deles pode salvar a todos. O roteiro aparentemente simples – e que parece ... (por Alveni Lisboa em 12/04/2012, via Nintendo Blast)

Forças das trevas ameaçam dominar o reino dos anjos, e somente um deles pode salvar a todos. O roteiro aparentemente simples – e que parece ter sido extraído da Bíblia – é apenas o pano de fundo para o retorno triunfal de um herói esquecido da Nintendo. Após 21 anos de espera, o anjo Pit está de volta.  A expectativa era grande, afinal não é todo dia que a Big N resolve desenterrar um personagem esquecido. Kid Icarus: Uprising foi anunciado na E3 de 2010 e logo ganhou o status de título mais aguardado para o Nintendo 3DS. Apesar do atraso, os jogadores finalmente podem desfrutar desta fantástica aventura.

Quando o último jogo da série foi lançado, em 1991, muitos dos que me leem sequer eram nascidos. O primeiro sinal de retorno de Pit foi a participação em Super Smash Bros. Brawl (Wii), o que gerou inúmeros boatos (e trailers não-oficiais) sobre um game próprio para Wii. Pensando no futuro, a Nintendo trocou a plataforma e resolveu dar vida ao pequeno anjo junto com o seu novo videogame portátil.

Tragédia grega

Kid Icarus é inspirado nas lendas da mitologia grega. O reino de Angel Land é dividido em três áreas distintas: Skyworld, governado pela deusa da luz Palutena; Underworld, governado pela deusa das trevas Medusa; e o Overworld, o mundo dos pobres mortais. Palutena (a versão nintendística da deusa Atena) é uma figura boa e que sempre ajudava os humanos. Já Medusa é cruel e usa seus poderes para espalhar o caos e destruir a humanidade. O plano de Medusa é conquistar também o Skyworld para se tornar a única divindade toda-poderosa. Em Uprising, depois de 25 anos, a monstrenga foi misteriosamente revivida e Palutena teve que entrar em ação mais uma vez.

Pit é um jovem anjo forte e corajoso, mas que só consegue voar graças aos poderes de Palutena. Por isso, ele não pode ficar no ar por mais de cinco minutos. A relação entre o anjo e a deusa da luz é retratada com muito bom humor, principalmente pelo fato de Pit tratá-la como uma amiga – e não com a formalidade tradicional nas referências aos deuses. Há diálogos hilários e várias referências aos games anteriores, inclusive usando os sprites do jogo original.

Mistura de estilos

Kid Icarus: Uprising é dividido em capítulos, cada qual correspondente a uma fase. Há dois momentos distintos neles: a batalha aérea e a luta no chão. Todas as fases sempre começam voando, numa jogabilidade que lembra Star Fox e Sin & Punishment. Você não controla o percurso de Pit, e sim a sua mira. O circle pad move o herói na tela e a canetinha stylus serve parar mirar nos monstros. Quanto mais inimigos derrotados, mais pontos e corações são acumulados.

Terminado o momento Arwing, chega o momento de comandar Pit no solo. Aqui a jogabilidade transforma-se em beat 'em up. O jogador deve guiar o anjo até o fim do cenário. No caminho haverá muitos monstros, armadilhas, baús e locais secretos. Se nos céus tudo se resume a atirar, aqui você precisará de mais estratégia para acertar o ponto fraco dos inimigos. Alguns deles são derrotados mais facilmente quando se usa o ataque físico (Melee), por exemplo.

Os capítulos são lineares, com no máximo um ou dois caminhos alternativos, e relativamente grandes. Não há como continuar de onde parou, o que obriga o jogador a finalizá-los completamente. No final de cada estágio, um chefe gigantesco o espera para batalhas complicadas.

Há vários níveis de dificuldade, que são chamados Intensity, escolhidos logo após a seleção do capítulo. Quanto maior a Intensity, melhores são os itens obtidos e mais corações se ganha ao final. Certas portas só abrem quando se joga na intensidade igual ou maior a que ela pede, portanto prepare-se para retornar aos cenários várias vezes.

Para os aficionados em troféus, conquistas ou coisas do gênero, Uprising possui um sistema de recompensas (awards) imenso. São centenas de desafios de todo tipo a serem batidos.

Armas para todos os gostos

Um dos pontos fortes do game são as armas. Existe uma infinidade delas, cada qual com estilos distintos, que podem ser combinadas. É possível obtê-las através do progresso no “modo solo”, comprando-as com os corações ou em batalhas multiplayer.

No total, há nove tipos: staff, bow, club, orbitars, blade, claws, palm, cannon e arm. Por exemplo: os staffs são ótimos para atirar (ranged), mas ruins no combate corpo-a-corpo; já as claws são extremamente rápidas nas lutas melee, e péssimas para os disparos. Cada arma tem atributos que conferem habilidades especiais ao personagem.

No single player, as armas de Pit são importantes, mas não tanto quanto no multiplayer, onde elas fazem total diferença. A dica é testar todas e escolher a que mais se adaptar ao seu estilo de jogo.

Um cenário angelical

O visual de Uprising é belíssimo, um dos mais bonitos do 3DS. Os gráficos não são os melhores do portátil, há serrilhados e texturas de baixa qualidade. Mas a direção de arte caprichou nos ambientes e criou paisagens de cair o queixo, especialmente durante os voos de Pit. O efeito 3D é excelente: bastante confortável e útil durante a aventura.

A parte sonora do game é outra questão à parte. As músicas são agradáveis, diversificadas e ditam o ritmo da aventura. Capítulos mais frenéticos têm uma trilha mais agitada, enquanto os momentos tranquilos são embalados por músicas lentas e relaxantes. Todo o repertório é orquestrado, dando um tom épico à aventura.

Os personagens principais do jogo são dublados. As vozes dos protagonistas e antagonistas encaixam-se perfeitamente no perfil, ajudando a criar mais identificação com eles. Levando em conta a relutância da Nintendo em dar voz aos personagens, pode-se considerar isso um avanço enorme. Na verdade, a dublagem foi quase uma obrigação: como a ação é frenética, é difícil prestar atenção nos textos. Se os jogadores precisassem ler seria impossível entender a história.

Tendinite vem aí

O único ponto negativo do game são os controles. Apesar de eles funcionarem bem, a forma de segurar o 3DS acaba atrapalhando. O game acompanha com um suporte para posicionar o console, mas isso quebra completamente o conceito de portabilidade. Não dá para andar por aí com ele, e, mesmo que você faça isso, ainda precisará de uma superfície plana.

“Ah, mas dá para jogar sem o tal suporte!”. De fato, é possível jogar sem ele, mas a dor na mão será maior. Além de suportar o peso do 3DS, você é obrigado a pressionar o botão L ininterruptamente, o que ocasiona a tal dor.

Existe a opção de mudar o esquema de controle para, por exemplo, controlar Pit pelos botões e a mira pelo Circle Pad. Fica a critério do jogador escolher a jogabilidade que prefere. Os canhotos donos do Circle Pad Pro podem usá-lo para controlar o anjo, e assim usar a stylus na mão esquerda. Aliás, o que custava deixar os jogadores controlarem o protagonista através dos dois analógicos, hein? Seria bem mais simples e evitaria uma tendinite iminente.

Multiplayer viciante

O multiplayer de Uprising é viciante. Ele é completamente desbalanceado: se você não tiver uma arma boa, dificilmente vai ganhar do oponente. Vai ter muita gente deixando de fazer suas obrigações somente para ficar se digladiando nas lutas para conseguir as armas mais poderosas.

Os jogadores têm dois modos disponíveis: o “Far Away” e o “Nearby”. O primeiro é destinado aos jogos via internet, para quem está “far away” de distância dos outros. A conexão com os servidores é excelente e o lag praticamente não existe, o que é fundamental num game tão acelerado quanto esse. Já o segundo é o tradicional modo local através do wireless. Em ambos, as disputas podem ser por times (Light vs Dark) ou cada um por si (Free-for-all).

O game também tem suporte ao StreetPass e ao SpotPass, que servem para recebimento e troca de gemas. Elas são armas cristalizadas que precisam de determinado número de corações para ser lapidadas. Obviamente que quanto mais atributos ela tiver, mais caro será o valor dela. Quem preferir (ou estiver pobre) pode vendê-las para acumular alguns coraçõezinhos a mais.

AR Cards: uma nova mania?

A resposta para essa pergunta é não. Apesar de muita gente adorar colecionar cartas, elas têm pouquíssima utilidade prática em Kid Icarus: Uprising. Só servem para conceder 100 corações extras na primeira utilização e desbloquear o Idol (estátuas dos personagens) correspondente. Depois disso, só podem ser usadas para batalhas inúteis contra outras cartas.

Como são inúmeras (cerca de 400), elas podem ajudá-lo a juntar corações e comprar uma arma melhor. Porém, dá muito mais trabalho encontrar as tais cartas, que só são distribuídas em eventos ou junto com cópias do jogo, do que brincar no multiplayer. Faltou a implementação de uma função melhor para os AR Cards se tornarem uma febre, como os cards de Pokémon, por exemplo.

Uma aventura memorável

Kid Icarus: Uprising é um dos melhores (senão o melhor) jogos do 3DS. Apesar de o enredo ser simples, o desenrolar dele é excelente. A trilha sonora é um show para os ouvidos, e, aliada a uma divertida dublagem, complementam a trama. O visual encanta pela beleza das paisagens e pelo gigantismo dos cenários, apesar da linearidade do game. O multiplayer garante horas e mais horas de diversão, rivalizando com Mario Kart 7. Ainda veremos vários campeonatos de Kid Icarus por aí...

É um game simples e acessível a todo tipo de jogador, mas que exige uma dose de estratégia na medida certa. Não fossem os controles desconfortáveis, certamente que Pit e sua turma levariam uma nota perfeita. Valeu a espera, Nintendo! Mas, por favor, não nos deixe esperando a sequência por mais 20 anos, está bem?


Prós

- Gráficos belíssimos com um efeito 3D excelente
- Músicas épicas e totalmente orquestradas
- Variedade de armas e atributos
- Multiplayer viciante

Contras

- Controles desconfortáveis
- AR Cards mal aproveitados

Kid Icarus: Uprising – Nintendo 3DS – Nota Final: 9,5
Gráficos: 10  |  Som: 10  |  Jogabilidade: 8,5  |  Diversão: 10

Revisão: Alberto Canen

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