Brasil nos Games: A possível influência da nossa cultura em Majora's Mask (N64) e outros títulos

em 28/03/2012

The Legend of Zelda é uma série com muitas inspirações. Para compor cada característica da cultura de Hyrule, os produtores sempre se insp... (por Fábio Garcia em 28/03/2012, via Nintendo Blast)

Esses olhos me amedrontam. The Legend of Zelda é uma série com muitas inspirações. Para compor cada característica da cultura de Hyrule, os produtores sempre se inspiram em culturas que existem no mundo real, e descobrí-las e identificá-las se torna um passatempo instigante para os mais investigativos. Majora’s Mask foi lançado em 2000 para o Nintendo 64 e é um dos jogos mais misteriosos e intrigantes de toda a série Zelda, talvez por ser um dos mais sombrios jogos da franquia, ao lado de Twilight Princess. E é justamente neste jogo onde encontramos as maiores referências à cultura brasileira, tornando-o um pouco mais especial para nós.

O Brasil no mundo Nintendo

"Só vou usar o Spin Attack se você tocar a música do Pião da Casa Própria" Culturalmente, o Brasil é representado no exterior como um local alegre e bem musical, tendo o Samba e a Bossa Nova como cartões de visita. Por isso, não é de se estranhar que o Brasil seja inspiração para alguns temas musicais de jogos, ou até mesmo jogos inteiros, como é o caso de Samba de Amigo da Sega (que embora use maracas, instrumentos que os estrangeiros acreditam ser amplamente usados no Brasil, ainda é uma homenagem ao nosso país).

Pequenas menções ao Brasil são encontradas nos mais diversos jogos dos consoles Nintendo. Além do já citado Samba de Amigo, há uma referência ao país na série Pokémon (o nome japonês do Hitmontop é Kapoera, claramente inspirado no nome da arte marcial brasileira), além disso, o país foi cenário de uma fase em Endless Ocean: Blue World (Wii). Isso sem contar o jogo do Pelé lançado pela Ubisoft e o fato do nome do clássico jogador ter servido de inspiração para o nome de Samus Aran, da série Metroid.

Quero ver... outra vez... seus olhinhos de noite serena... Mas é inevitável dizer que a maior parte das homenagens são musicais. Semanalmente em Animal Crossing, a sua cidade recebe a visita de um músico andarilho, o K.K. Slider, que sempre faz apresentações dos mais diversos ritmos, entre eles o Samba e a Bossa Nova. Este último gênero musical também foi homenageado em um minigame do jogo Rhythm Heaven Fever (Wii), já o samba foi usado na trilha sonora do recente Rayman Origins (Wii).

Koji Kondo, compositor principal da série Mario Bros, admite que é fã de música latina e faz uso recorrente do do gênero em suas composições. O tema do Overworld em Super Mario Bros. de NES foi composto com base no samba, assim como diversas outras músicas dos jogos seguintes.

Depois dessa geral de Brasil no mundo Nintendo, podemos nos aprofundar um pouco no Majora’s Mask e mostrar que o jogo pode ser tão brasileiro quanto uma feijoada ou um pão de queijo.

Muito além da Bossa Nova

Ao criar as composições de Majora’s Mask, Koji Kondo decidiu homenagear o Brasil explicitamente em uma das músicas. Após resgatar os ovos dos Zoras, Link aprende a partitura da “New Wave Bossa Nova” e sua execução resgata a voz da cantora Lulu. O nome da música é a mistura de dois gêneros musicais, o New Wave e a Bossa Nova, sendo que o primeiro é um derivado do rock que fez sucesso nas décadas de 1970 e 1980 e o segundo o gênero musical brasileiro dos anos 1960.

Lulu, toca Raul!

Por muito tempo, muitos acreditaram que essa era a única referência ao Brasil na série Zelda, até que um usuário chamado “lampiaio” teceu em um site algumas teorias interessantes sobre a origem da palavra Majora. Antes de se aprofundar nesse assunto, vale lembrar que, por mais coerente que seja, ainda é uma teoria que pode vir a ser desmentida em um eventual futuro Iwata Asks (série de entrevistas feitas pelo presidente da Nintendo, que revela os bastidores de vários jogos) sobre Majora’s Mask. Mesmo assim, é impressionante o número de coincidências e de outras teorias que podem ser feitas após esta.

Sabor Marajoara

E com vocês, a Máscara de Majora cantando "A Lua que te dei", da Ivete Sangalo! Algo que nunca foi revelado para os fãs da série Zelda é a origem do nome “Majora”. Seria óbvio dizer que o nome é derivado da palavra “Majo”, que é bruxo em japonês, mas essa obviedade cai por terra ao lembrarmos que, no Japão, a máscara é chamada de “Mujura”. Para entender a teoria acerca do nome, precisamos ir para o estado do Pará.

Para aqueles ruins de geografia, fiquem sabendo que o estado do Pará possui uma ilha chamada Ilha de Marajó. O nome da ilha foi dado por causa dos Marajoaras, a civilização que lá habitava antes da chegada de Colombo à América ou de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Como grande parte das civilizações, os marajoaras produziam seu próprio artesanato, que ia de vasos e esculturas a máscaras.

Observando as máscaras deste jogo, dá para se notar uma influência indígena na sua pintura. A máscara de Majora possui um traçado simétrico que alude aos traços que os indígenas marcam em seus próprios rostos nos rituais de guerra, isso sem contar o grande olho, característico das máscaras indígenas.

Quais são as tribos que habitavam o vale do México? Os cenários de Majora’s Mask também trazem várias referências do continente americano, e não ficam restritas apenas ao imaginário indígena brasileiro. O Stone Tower Temple possui uma entrada que lembra bastante uma máscara marajoara, enquanto o Woodfall Temple, por sua vez, parece uma homenagem aos templos astecas. E toda essa teoria indígena se torna mais aceitável ao lembrarmos que Majora’s Mask é o único Zelda que até hoje trouxe uma “tribo” propriamente dita, no caso os Deku Scrubs.

Ultrapassando Majora’s Mask

O sorriso não deixa de ser menos macabro quando olhamos a máscara marajoara. Ao se procurar imagens de máscaras marajoaras, encontramos mais referências ao jogo. Há uma máscara, por exemplo, cujo sorriso é idêntico às réplicas do Link criadas pela música “Elegy of Emptiness”. Também é facilmente encontrada uma máscara, desta vez amazônica, que é muito parecida com o rosto dos quatro gigantes que são os “protetores” do mundo de Termina.

Por toda essa suposta influência da cultura Marajoara, supõe-se que a origem do nome Majora seja de “Marajoara” ou “Marajó”. Embora na versão japonesa o nome tenha se afastado um pouco de sua suposta palavra de origem, a versão americana pode ter investido em uma referência mais explícita.

Achei a minha fantasia de Carnaval para o ano que vem! E, aparentemente, a cultura marajoara pode ter participado de outro Zelda, pois a máscara da personagem Midna (de Twilight Princess), tem o mesmo estilo das esculturas marajoaras, talvez indicando que a Fused Shadow da ajudante de Link possa ter a mesma origem da máscara que tocou o terror em Termina. Será?

O Brasil não ficou de fora nem da campanha publicitária do jogo, pois na propaganda americana o Museu de Arte Contemporânea de Niterói aparece diversas vezes. É muito curioso.

Embora seja apenas uma teoria, todas as evidências parecem indicar que a inspiração para este jogo tenha sido a cultura indígena da Ilha de Marajó e de outros povos do continente. Só nos resta tentar pesquisar mais e descobrir os detalhes de Majora’s Mask jogando de novo com mais atenção. Como se jogar essa pérola de novo fosse sacrifício para alguém.
E você, descobriu alguma coisa enquanto jogava? Compartilhe com a gente aí nos comentários.

Revisão: Lucas Oliveira


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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