Muito antes de Solid, Liquid, Solidus, Liquid Ocelot, e Patriots... Muito antes da história de Metal Gear Solid ficar mais enrolada que um prato de macarrão, havia apenas um agente da CIA. Um codinome: Naked Snake. E uma missão: caçar The Boss, sua antiga mentora que desertou para a União Soviética. Esta premissa absurdamente simples e eficaz nos lança no universo de Metal Gear, que chega ao Nintendo 3DS em uma caprichada modernização.
"From Russia with love"
Como se trata de um game lançado originalmente há quase dez anos, você deve estar se perguntando se o jogo envelheceu bem e permaneceu atual, ou se mais parece uma relíquia da Guerra Fria, então vamos tirar isso do caminho de uma vez: assim como The Legend of Zelda: Ocarina of Time, recém atualizado também para o Nintendo 3DS, Snake Eater é um clássico imortal dos video-games, cujo excepcional design de Hideo Kojima sempre sobreviverá ao teste do tempo.
Metal Gear Solid 3 é possivelmente o game mais equilibrado de uma franquia que é referência máxima no gênero espionagem de ação, e (re)visitá-lo é um prazer enorme. Inevitavelmente, o game sofreu diversas adaptações no processo de migração dos consoles de mesa para a telinha do portátil da Nintendo. Algumas para melhor. Outras, infelizmente, para pior.
Uma experiência cinematográfica
A franquia Metal Gear é famosa por suas extensas sequências de vídeo que ajudam a contar a história dos episódios. Como esta é uma trama de espionagem muito elaborada, bem amarrada, repleta de reviravoltas e revelações, seria um pecado cortá-las.
Mesmo assim, é um pouco indigesto passar mais de vinte minutos olhando para o seu 3DS sem jogar, apenas assistindo filmes. Isso fere um pouco a premissa dos jogos portáteis, que devem oferecer acesso rápido a diversão. Você quer passar o tempo de espera da sala do dentista jogando, e não vendo vídeos, certo? Talvez fosse uma solução mais elegante elaborar cutscenes no estilo HQ, mais breves, como em Metal Gear Solid Peace Walker (PSP), outra recente incursão da franquia em consoles portáteis.
De todo modo, vale a pena acompanhar a trajetória do herói, desde a Virtuous Mission, na qual Naked Snake é largado sozinho e sem equipamentos na floresta tropical para resgatar o brilhante cientista militar Sokolov, até o climático momento em que o protagonista deve tomar uma decisão dramática e se tornar o Big Boss que conhecemos nos jogos anteriores da saga.
Big Boss
E já que estamos falando de chefes, saiba que as batalhas contra os chefões de fase figuram entre as mais legais e inovadoras da história: máquinas enormes, soldados invisíveis, espíritos, homens elétricos, cobertos de abelhas... Criatividade definitivamente é o que não falta em Snake Eater.
Impossível não elogiar a batalha Sniper contra The End, que pode durar muitos e muitos minutos, e faz uso de várias áreas enormes, num verdadeiro jogo de gato e rato. É um daqueles momentos mágicos dos video-games, que ninguém que joga esquece.
A cada chefe derrotado, a trama vai evoluindo e elaborando inteligentemente o papel de heróis e vilões nos jogos de guerra, mostrando com uma sobriedade impressionante como personagens bem escritos transitam não entre o branco e o preto, mas sim entre tons de cinza.
Bem-vindo à selva, temos diversão e jogos
Quando você não está enfrentando chefes, está encarando um desafio de sobrevivência na selva. A floresta, parte essencial da experiência e o coração da jogabilidade, é quase um personagem. É preciso usar a natureza em seu favor, buscando camuflagem na grama, sombras, cantos mais escuros, ou até mesmo capturando um animal venenoso para atirar num inimigo desavisado.
É necessário tomar cuidado com a barra de Stamina de Snake, que vai se esgotando lentamente com o tempo, e que só pode ser recarregada através de alimentos. Ou seja, é preciso caçar comida para repor sua barra de energia. Uma ideia genial, que nunca fica cansativa, e o fará rodar os cenários em busca de frutas, animais, e rações.
Usar o codec para buscar ajuda de seus aliados garante que você nunca ficará empacado no jogo, e ainda garante boas risadas com diálogos inspirados que chegam até a citar Godzilla! Há bastante variedade de missões, que vão desde infiltrações em bases, passam por roubo de identidades, e chegam até a fugas de moto em alta velocidade na companhia de uma sexy espiã.
Espionagem na palma da sua mão
Você deve ter em mente que o jogo foi projetado para ser jogado no conforto da sua poltrona de frente para um grande televisor, no qual é possível mergulhar numa floresta e contemplar cada detalhe da fauna e flora com atenção. Quando você passa esses elementos para uma tela menor, nada mais natural que gerar confusão e embaralhar a vista. Principalmente com o efeito 3D ligado, é comum confundir um soldado com um pedaço de grama alta ou uma cobra, o que é inconveniente e compromete um pouco uma experiência que necessita de furtividade e precisão extremas.
Outro problema que não estava presente nas versões anteriores é a lentidão. Ocasionalmente o game apresenta uma queda na taxa de quadros que, se não chega a comprometer a experiência, não deixa de ser um problema técnico que chama atenção e deveria ter sido resolvido.
Se no departamento gráfico a aventura foi levemente comprometida, o mesmo não se pode dizer da jogabilidade. Nunca foi tão confortável e natural controlar Snake! O game faz uso de todas as funções do portátil, desde a tela de toque, que facilita a navegação pelo inventário, até a câmera, que traz um recurso muito interessante: É possível tirar uma foto e utilizá-la como textura para a camuflagem do Snake. Realmente uma sacada muito legal.
"I'm still in a dream, Snake Eateeeeeeer!"
Se esta frase te lembra a voz de Cynthia Harrell cantando uma melodia no melhor estilo dos temas do agente secreto 007, parabéns, você é um gamer feliz. Se não, chegou a oportunidade perfeita de se redimir e se familiarizar com esta grande canção. Figurinha frequente nas apresentações da Video Games Live, a trilha sonora de Metal Gear Solid 3 é muito marcante, alternando épicos temas orquestrados e melodias minimalistas na guitarra, que dão o perfeito tom para os momentos em que é preciso ser mais sorrateiro.
Ainda no departamento sonoro, é difícil achar um trabalho de dublagem melhor. A voz de David Hayter, o dublador de Naked e Solid Snake, é uma das mais facilmente reconhecíveis do mundo gamer. Felizmente, ele é acompanhado por um time de vozes e personagens cativantes e memoráveis, que você vai querer revisitar várias e várias vezes.
"Snake... Snake... SNAAAAAAAKE!"
No GameCube, os fãs de Snake foram agraciados com uma versão tardia de Metal Gear Solid 1 chamada Twin Snakes, que com suas melhorias se tornou a versão definitiva do clássico. Quando parecia que ficaríamos órfãos de Metal Gear Solid 3, surge a versão 3D, um port muito correto e obrigatório para todos os jogadores. Valeu a pena esperar!
Prós:
- É um dos melhores jogos de ação da história para ser jogado em qualquer lugar;
- Trilha sonora, vozes, controle, e design de fases perfeitos;
- Sapinhos Kerotan foram substituídos por Yoshis (ah vai, isso é bem legal).
Contras:
- Um dos melhores jogos de ação da história foi feito para ser jogado em tela grande;
- Assistir 20 minutos de cutscenes num portátil;
- Alguns problemas na taxa de quadros e muitos detalhes para uma tela pequena.
Metal Gear Solid Snake Eater 3D – 3DS – Nota final: 8.5
Gráficos: 8,0 | Som: 9,5 | Jogabilidade: 8,0 | Diversão: 9,5
(Não deixe de conferir outra análise de Metal Gear Solid Snake Eater 3D na edição 31 da revista Nintendo Blast)
Revisão: Ricardo Bach