Plug and Blast: Transfer Pak (N64 / GB)

em 21/10/2011

Desde o tempo das gerações de vídeo games mais antigas, a Nintendo tem investido tanto nos consoles de mesa como nos portáteis e, mesmo s... (por Daniel Moisés em 21/10/2011, via Nintendo Blast)

Transfer PakDesde o tempo das gerações de vídeo games mais antigas, a Nintendo tem investido tanto nos consoles de mesa como nos portáteis e, mesmo sendo dois enfoques bem diferentes, não é de se surpreender que a Big N sempre tenha buscado maneiras de criar uma conectividade entre estes dois mundos. O Transfer Pak foi uma destas tentativas, sendo um acessório de comunicação entre jogos de Nintendo 64 e os de Game Boy/Game Boy Color, com uma excelente proposta que prometia a possibilidade de transferir informações entre os jogos e desbloquear vários tipos de conteúdo extra. Infelizmente, acessórios e periféricos opcionais para vídeo games frequentemente sofrem de uma terrível maldição que os impede de serem bem sucedidos. Ou, mais precisamente, faz com que se tornem um grande fracasso. Com o Transfer Pak não foi diferente: o acessório foi pouco utilizado e esquecido mais rapidamente do que a atuação de Rodrigo Santoro em Lost (ok, talvez isso seja exagerar um pouco). Continue lendo a matéria para conhecer um pouco mais sobre sua história. Do Transfer Pak, não do Rodrigo Santoro.

Diferentes ângulos do acessórioVamos começar fazendo uma breve análise visual do Transfer Pak. O acessório, assim como o Rumble Pak e o Controller Pak (como deu pra perceber, a palavra “Pak” era popular entre acessórios desse console), se encaixa na parte traseira do controle do Nintendo 64 e possui uma entrada para cartuchos de Game Boy ou Game Boy Color. Sim, mais uma peça para o Megazord que era o controle do Nintendo 64. Seu peso não é muito diferente do que o do Rumble Pak, mas o fato de usar a mesma entrada levou à óbvia desvantagem de impossibilitar o uso simultâneo tanto do Rumble como do Controller Pak. Seu design é consideravelmente bonito, com uma frente transparente que mostra qual o cartucho que está inserido. A metade de trás, entretanto, é de mesma cor cinza sólida e sem graça dos demais acessórios do console.

Uma evolução incompleta

Os Pokémon foram os que mais aproveitaram o Transfer Pak...Mas vamos ao que realmente interessa: o seu funcionamento. A proposta do Transfer Pak era realmente boa e o perfeito exemplo do seu uso era a comunicação entre os jogos da série Pokémon do Game Boy e os jogos Pokémon Stadium e Pokémon Stadium 2 para Nintendo 64. Com o acessório, é possível transferir para o console os monstrinhos capturados e treinados no portátil, colocando-os para batalhar na tela grande e com os belos gráficos tridimensionais do Stadium. Usar Pokémon treinados, com toda a experiência e as habilidades aprendidas no jogo portátil, é definitivamente muito mais divertido do que a opção alternativa de usar os monstrinhos genéricos fornecidos pelo jogo. Além disso, é também possível jogar os jogos do portátil na tela grande, usando um emulador. E isso era apenas o começo, já que outros jogos poderiam aproveitar a comunicação do Transfer Pak de várias outras formas criativas, como por exemplo para desbloquear conteúdo extra, seja no jogo do Game Boy ou no do Nintendo 64. Com certeza, tinha tudo para ser um excelente e melhorado sucessor do Super Game Boy, certo?

Errado. Bom, parcialmente errado. O Transfer Pak de fato foi superior ao Super Game Boy no sentido de que possibilitava a transferência de informações entre jogos do console e do portátil, algo que não existia no cartucho do SNES. Entretanto, a funcionalidade do Super Game Boy de permitir que qualquer jogo de Game Boy fosse emulado pelo console, por algum motivo, foi descontinuado. Certamente este foi um dos motivos pelo qual o Transfer Pak não foi bem sucedido, já que todos os que imaginavam que o acessório os permitiria transformar o Nintendo 64 em um emulador de Game Boy e Game Boy Color acabaram se decepcionando ao descobrir que a coisa não era bem assim. Sim, é possível jogar Pokémon Red, Blue, Yellow, Gold, Silver e Crystal através de Pokémon Stadium e Pokémon Stadium 2, mas esses são os únicos casos. Além disso, o jogador é obrigado a ter o Stadium ou Stadium 2 para poder jogá-los, restrição que não existia com o Super Game Boy.

Assim sendo, o Transfer Pak rapidamente perdeu popularidade. Por mais interessante que fosse a transferência de dados entre os jogos, só isso não foi suficiente para chamar muito a atenção do público. Afinal, o seu uso requeria que o jogador tivesse um Nintendo 64, um Game Boy, o cartucho do console, o cartucho do portátil e, por fim, o Transfer Pak. Muito investimento apenas para habilitar um personagem novo, não é mesmo?

Pokémon, atletas, armas e... Huguinho

O número de jogos que fizeram uso do Transfer Pak chegou à impressionante marca de... (soem os tambores)... seis (não estou contando uns poucos a mais que foram lançados apenas no Japão). Bom, pelo menos conseguiu ultrapassar o patético R.O.B. e seus dois únicos jogos. Veja, a seguir, quais foram estes jogos e de que maneira utilizaram o acessório.

Pokémon Stadium Pokémon Stadium 2 Mario Golf
Mario Tennis Mickey's Speedway USA Perfect Dark

Como já mencionei, Pokémon Stadium e Pokémon Stadium 2 são os clássicos exemplos da utilização do Transfer Pak. Tanto que o primeiro vinha acompanhado do acessório na caixa. O destaque com certeza fica para a possibilidade de transferir os Pokémon capturados no Game Boy, com toda a experiência e habilidades aprendidas, para as batalhas do Stadium. O também já mencionado emulador, acessado via o GB Tower, era outro grande atrativo, ainda mais por adicionar os modos Doduo e Dodrio que aumentam a velocidade do jogo em 2 e 3 vezes respectivamente. Além disso, o jogo oferece mais algum conteúdo adicional quando usado com o Transfer Pak, como modos extras e a opção de ver e modificar a versão tridimensional do quarto do herói de Pokémon Gold/Silver/Crystal em Stadium 2 (com direito a ver a televisão do quarto mostrando telas de diferentes jogos, dependendo do console escolhido).

Treine os monstrinhos no Game Boy, depois coloque-os para batalhar no N64! GB Tower Decorando o quarto com o Nintendo64, é possível ver telas de jogos como Mario 64 e Ocarina of Time

Tanto Mario Tennis como Mario Golf tiveram versões para Nintendo 64 e Game Boy Color e, em ambos jogos, o Transfer Pak foi aproveitado de formas parecidas. Em Mario Golf, os personagens da versão portátil podem ser transferidos e usados na versão do console, permitindo ainda que estes ganhem pontos de experiência. Um problema é que estes personagens não ficam salvos no cartucho do Nintendo 64 quando o console é desligado e, portanto, é necessário fazer a transferência a cada vez que se for jogar. Em Mario Tennis, além dos personagens do portátil poderem ser transferidos para o console, o contrário também é possível, habilitando alguns personagens novos no jogo do Game Boy Color. Ao contrário de Mario Golf, as informações das transferências ficam armazenadas no cartucho de Mario Tennis, mesmo quando o console é desligado.

Você não se perguntava o porquê desses quatro espaços vazios embaixo? O nosso amigo aqui está adorando o mundo em 3D... Transferindo personagens em Mario Tennis

Em Mickey’s Speedway USA – um clone de Mario Kart com os personagens da Disney – o uso do acessório se limita a desbloquear um personagem secreto: Huguinho.

O sexto game a utilizar o Transfer Pak é um dos grandes clássicos do Nintendo 64: Perfect Dark. Com o acessório, novas armas especiais são desbloqueadas, como o Hurricane Fists e o R-Tracker. Além disso, um cheat adicional, que habilita todas as armas do jogo, fica disponível.

Uma complexa combinaçãoInicialmente, os desenvolvedores de Perfect Dark pretendiam incluir uma outra funcionalidade bem interessante que funcionaria com o Transfer Pak. Com o uso da Game Boy Camera (sim, outro periférico mal sucedido), o jogador poderia tirar uma foto do seu rosto, ou de alguma outra pessoa, a foto poderia ser enviada, via o Transfer Pak, para o Perfect Dark do Nintendo 64, editada (já que a câmera do portátil tirava fotos em preto e branco) e, por fim, seria possível customizar um personagem no modo multiplayer, colocando o rosto da fotografia no modelo tridimensional. Desta forma, o próprio jogador poderia se tornar o personagem e “entrar” no jogo. O que aconteceu, então, com esta ideia criativa e que sem dúvida estava à frente de seu tempo? Acreditem ou não, o que aconteceu foi o massacre da Escola Columbine, em Colorado nos Estados Unidos. Pra quem não se lembra, ou não sabe, este foi um trágico acontecimento, que ocorreu em 20 de Abril de 1999, no qual dois estudantes da escola mataram, a tiros, outros 12 alunos e um professor, além de terem ferido muitos outros. Mas o que isso tem a ver com Perfect Dark e o uso do Transfer Pak para criar personagens com rostos de pessoas de verdade? Na realidade, não tem nada a ver. Mas quando o massacre aconteceu, os responsáveis pelo jogo provavelmente começaram a pensar que talvez não fosse uma ideia muito boa lançar um jogo no qual era possível “matar” os seus próprios amigos e conhecidos. Violência em games sempre foi um grande alvo para críticas e algo desse tipo poderia colocar muita lenha na fogueira, ainda mais depois do episódio da Escola de Columbine. Naturalmente, a Rare nunca confirmou oficialmente que esse foi o real motivo pelo qual a funcionalidade foi retirada do jogo, mas considerando a proximidade das datas do massacre e do lançamento do jogo (Perfect Dark foi lançado em Maio de 2000 nos Estados Unidos) fica claro que, se não o motivo definitivo, foi pelo menos um grande fator contribuinte para o corte.

É uma pena que isto foi cortado do jogo... O cara ficou parecendo o Saddam Hussein

E é isso aí. Esses são os únicos jogos que tiveram compatibilidade com o Transfer Pak. O público japonês, como de costume, teve acesso a mais uns poucos jogos que faziam uso do acessório, mas com certeza o destaque vai para a série Mario Artist, lançada para o também fracassado 64DD. Nesta série de jogos que, no estilo de Mario Paint, permitem a criação de desenhos e animações, é possível usar o recurso que em Perfect Dark foi descartado: tirar fotos com a Game Boy Camera, transferi-las para o Nintendo 64 com o Transfer Pak e usar as fotos nos desenhos e animações. Agora, pense só: para alguém fazer uso disso, era necessário ter o Transfer Pak, a Game Boy Camera e o 64DD. Isso que é dinheiro bem investido, hein?

E assim concluímos a breve – mas talvez, para alguns, memorável - história do Transfer Pak. Refletindo sobre o assunto, é curioso notar como a comunicação entre os consoles e portáteis da Nintendo nunca chegou muito longe. O GameCube-Game Boy Advance Cable, sucessor do Transfer Pak, teve um aproveitamento bem melhor, mas ainda assim teve poucos usos verdadeiramente notáveis. Mesmo na geração atual, no qual a comunicação sem fio permite que o Wii e o DS troquem informações sem a necessidade de qualquer acessório adicional, o recurso foi extremamente pouco utilizado. Será que com o Wii U e o 3DS esse cenário irá melhorar? Já foi dito, pelo menos, que haverá comunicação entre as duas versões do próximo Super Smash Bros., uma para o novo console e outra para o portátil, o que é um ótimo sinal. Mas vamos manter os dedos cruzados.

Revisão: Lucas Oliveira

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