Análise: Xenoblade Chronicles (Wii)

em 04/10/2011

O lançamento de Xenoblade Chronicles passou por tanta enrolação que só o fato de poder jogá-lo em inglês já é uma enorme satisfação. Se ... (por Daniel Moisés em 04/10/2011, via Nintendo Blast)

Análise: Xenoblade Chronicles (Wii)O lançamento de Xenoblade Chronicles passou por tanta enrolação que só o fato de poder jogá-lo em inglês já é uma enorme satisfação. Se você não está por dentro do que tem acontecido (em que buraco você esteve morando nos últimos meses?), a história resumida é que a Nintendo of America, sabe-se lá por que, apesar de verdadeiros protestos e movimentos dos fãs, decidiu não importar um punhado de jogos japoneses que tinham tudo para serem alguns dos melhores do Wii. Um deles é Xenoblade Chronicles, um jogo desenvolvido pela Monolith Soft e que carrega o peso do nome Tetsuya Takahashi, cujo currículo inclui títulos importantes no gênero RPG, como Chrono Trigger, diversos jogos da série Final Fantasy, Xenogears e a série Xenosaga. Felizmente, a Nintendo da Europa viu a coisa de outra forma e decidiu traduzir os jogos tão pedidos. Xenoblade foi o primeiro do grupo a finalmente ser lançado em idioma inglês e já está aí disponível para os sortudos que tem acesso a um Wii europeu. O veredicto? Continue lendo a análise para saber todos os detalhes, mas uma coisa eu já posso adiantar: se você gosta de jogos de RPG, tenha muita cautela ao jogar Xenoblade Chronicles... porque uma vez que você começar, é bem possível que ele te prenda por muito, mas muito tempo mesmo.

Uma ótima primeira impressão

Xenoblade já começa de forma épica

A grandiosidade de Xenoblade Chronicles fica evidente logo ao se começar um novo jogo. Na introdução, vemos dois gigantescos seres travando uma intensa batalha. Pela narração, sabemos que são duas entidades chamadas Bionis e Mechonis que lutaram até a morte há muitos anos atrás, quando nada existia ainda a não ser um mar e um céu que se estendiam infinitamente. Depois de um morrer pelas mãos do outro, o passar do tempo fossilizou seus corpos e suas carcaças acabaram tendo um inusitado destino: se transformaram em verdadeiros mundos, onde os mais variados seres vivos habitam.

Dunban e seu amigo DicksonSomos então transportados para uma era completamente diferente, na qual humanos estão em guerra contra criaturas robóticas chamadas Mechon. À frente dos humanos está um grupo de três valentes guerreiros (ou dois valentes e um nem tanto) liderados por Dunban que, no momento, é o protagonista da história. Logo ele deixará de sê-lo, o que é uma pena, pois daria uma excelente personagem principal, sendo alguém que foge daquele velho estereotipo que os heróis de RPGs japoneses costumam ter: é corajoso, ousado, divertidamente arrogante, não tem cara de menina e não é loiro.

Dunban tem em mãos uma poderosíssima arma: uma espada chamada Monado, que aparentemente é a ferramenta mais eficiente para derrotar os Mechon. Tal poder, entretanto, tem um custo: o seu uso parece extrair a força vital de Dunban, enfraquecendo-o cada vez mais. Não que isto o desencoraje a usar a arma para destruir o maior número possível de Mechon, é claro.

No meio desta violenta guerra, o jogador recebe uma breve introdução ao sistema de batalhas. Isso mesmo, nada de sessão de treino nem uma luta sem graça contra um monstro fraquinho: a coisa já começa pegando fogo. Tudo bem que, com a Monado em mãos, mesmo Mechon enormes são facilmente derrotados, mas fazer o jogador tomar controle pela primeira vez em um momento tão crítico dá uma emoção muito maior do que geralmente acontece na introdução de outros jogos de RPG e, na minha opinião, foi uma excelente escolha. Depois de derrotar alguns Mechon, vemos Dunban – claramente enfraquecido por usar a Monado, mas sem um pingo de hesitação – e um de seus companheiros partirem para cima do exército inimigo em uma investida aparentemente suicida.

Shulk com a Monado em mãosA história, então, avança mais um ano no futuro, época na qual a paz parece reinar. Neste contexto, somos introduzidos ao verdadeiro protagonista do jogo, um jovem chamado Shulk que, ao contrário de Dunban, tem uma aparência que segue mais aquele molde do “personagem principal do RPG japonês” já mencionado. Mas, apesar disto, a sua personalidade é longe de ser irritante e isso é o que importa mais. A partir deste ponto, o jogo começa de verdade e a história se desenrola: descobrimos que a Monado está na posse de Shulk, que ainda está tentando descobrir seus segredos e vemos que Dunban ainda está vivo, mas com um dos braços seriamente ferido, devido ao uso da espada. O período de paz não dura muito, pois os malvados Mechon logo começam a invadir o território dos humanos novamente, infernizando-lhes a vida. Cabe a Shulk e seus amigos a missão de acabar com o inimigo de uma vez por todas, auxiliados pelo poder da Monado que, por sua vez, está rodeada de mistérios. Entre eles, está a capacidade da espada de fazer Shulk ter visões do futuro. Sim, no fim das contas o enredo se resume ao roteiro mais batido da história dos RPGs: um grupo de jovens tentando salvar o mundo. Mas, se contada bem, até o enredo mais cheio de clichês se torna interessante... E pode ter certeza: a história de Xenoblade é contada excepcionalmente bem.

Paisagens e sotaquesRepare nos detalhes do cenário ao fundo

A ambientação do jogo em si já impressiona. Os humanos vivem em colônias construídas no corpo de Bionis, que está coberto de terras férteis, enquanto o corpo de Mechonis serve de lar para os Mechon. Coisa de doido isso de ter corpos de criaturas gigantes como cenário, sim, mas não há como questionar que dá um aspecto espetacular a Xenoblade, além de proporcionar um belíssimo apelo visual nas vastas paisagens.

Falando em apelo visual, Xenoblade tem gráficos realmente bonitos, mas quando vistos de longe. Os enormes cenários estão repletos de detalhes que impressionam e é fácil se distrair contemplando-os. Quando se começa a chegar mais perto, entretanto, as coisas não são assim tão espetaculares. Os modelos e texturas por vezes dão a impressão de estarem um pouco ultrapassados, coisa que se destaca principalmente nos rostos dos personagens: o próprio Shulk poderia ter recebido um retoque final para que pudesse melhor evidenciar suas expressões. O movimento de fala dos personagens também poderia ter sido um pouco melhor trabalhado, já que em muitos momentos é mecânico e falso demais. Mas são detalhes mínimos, em comparação à beleza da obra toda... E, naturalmente, precisamos ter em mente as limitações gráficas do Wii.

Os cenários são muito bonitos... ... mas os modelos dos personagens podiam ter sido um pouco mais trabalhados

Do som, por outro lado, não há nada do que reclamar. As trilhas sonoras são extremamente bem feitas e se encaixam perfeitamente às situações, desde a música calma e relaxante da cidade à música rápida e empolgante do meio da batalha ou de uma situação de perigo. A dublagem é ótima e muito melhor da que geralmente se encontra em traduções de jogos japoneses. E, ao ouvir as vozes, o fato de que a versão que se está jogando é europeia fica mais do que óbvio, já que os personagens têm um carregado sotaque britânico. Todas as principais cutscenes têm diálogos com vozes e os personagens ainda gritam algumas frases durante as batalhas, então você ouvirá mais sotaque britânico jogando Xenoblade do que em um filme do Harry Potter. Mas se por acaso alguém tiver algo contra o inglês do velho mundo, há a opção de ouvir as vozes japonesas originais, um adicional que é sempre muito bem vindo.

Complexo, mas amigável

Não se deixe intimidar pelo tamanho de alguns inimigos!Quanto à jogabilidade, Xenoblade também tem muitos pontos fortes. Tantos que é difícil falar sobre todos eles sem escrever um texto tão grande que preencheria uma revista inteira apenas com a análise do jogo. Um dos principais aspectos, contudo, é o sistema de batalhas. Inicialmente, se parece ao sistema de Final Fantasy XII: os inimigos ficam visíveis no mapa e a batalha acontece em tempo real (sem transição de telas), com os personagens atacando automaticamente os inimigos, até que o jogador indique uma ação diferente, como a de usar uma magia ou habilidade especial. Apenas um dos personagens é controlado pelo jogador, sendo que é possível escolher qual. Mas isso é só o começo... com o decorrer do jogo, a coisa fica muito mais complexa.

Quando você pensa que já aprendeu tudo o que tinha para saber sobre o sistema de batalhas, algo novo é introduzido, deixando as lutas ainda mais divertidas e dinâmicas. Um atributo chamado “agro” indica a atenção de um inimigo em atacar um personagem específico e é importante saber controlar isto para planejar a estratégia de ataque. Algumas habilidades (chamadas de “artes”) têm efeitos especiais se usadas corretamente, como por trás do inimigo, ou pela lateral. Em alguns momentos, é possível executar um comando que, se feito no tempo certo, incentiva a equipe e melhora o seu desempenho na luta. Com uma equipe de três personagens, é possível executar um ataque conjunto, no qual o jogador escolhe uma habilidade para cada personagem, podendo conectar até quinze ataques consecutivos. O poder da Monado de fazer Shulk ver o futuro também entra em ação durante as batalhas, permitindo prever certos ataques inimigos que poderiam ser devastadores. Isso é apenas uma pincelada do que é possível fazer no sistema de batalhas e, o melhor de tudo é que, pelo fato de ir aprendendo aos poucos, o jogador nunca se sente sobrecarregado de informação, o que resulta em um sistema extremamente complexo, mas fácil de ser utilizado em todo seu potencial.

Muuuitos equipamentos para escolher...A customização dos personagens é outra coisa que permite muitas possiblidades, mas sem abusar do jogador. O equipamento, além de ir da cabeça aos pés, muda a aparência dos personagens, um toque que não seria necessário, mas faz uma grande diferença (não se surpreenda se você possuir um equipamento melhor do que o atual, mas decidir por ainda não trocar simplesmente pelo fato do atual deixar o personagem com uma aparência muito mais legal). Alguns equipamentos possuem “slots”, nos quais é possível colocar pedras que aumentam atributos (e, depois de certo ponto do jogo, é até mesmo possível fabricar estas pedras). Pontos de experiência podem ser distribuídos entre as habilidades, para fazê-las aumentar de nível, e pode-se também escolher uma entre várias ramificações para as próximas habilidades a serem aprendidas por cada personagem, priorizando magias de cura ou poderes ofensivos, por exemplo.

A interminável lista de coisas por fazerUm prato cheio pra quem gosta de checklists

Como se não bastassem as batalhas empolgantes, a história muito bem contada e a detalhada customização dos personagens para tomar o tempo do jogador em Xenoblade, temos também as muitas missões opcionais. E quero dizer muitas mesmo. Para você ter uma ideia, nas minhas primeiras quatro horas de jogo, apenas por volta de trinta minutos foram realmente progredindo na história. O tempo restante eu passei fazendo missões opcionais que já, de cara, estavam disponíveis aos montes. Portanto, colecionistas, estejam preparados para muito, mas muito trabalho. Xenoblade tem um pouco para todos os gostos: itens colecionáveis, mapas para serem completados, missões e pedidos para serem cumpridos, um “registro de pessoas” que armazena os principais personagens encontrados e até o grau de afinidade entre eles, um sistema de troca de itens com as pessoas, achievements para serem conquistados, e acreditem-me quando digo que ainda estou omitindo muita coisa, para não estender esta análise mais do que já estendi. Para deixar a coisa mais interessante e incentivar os jogadores a serem verdadeiros exploradores, cada conquista e descoberta resulta em algum tipo de recompensa, seja com itens ou com pontos de experiência.

Afinidade com locais... ... e com pessoas.
Como de praxe hoje em dia, uma bela lista de achievements Cada evento requer um par de personagens e um grau de afinidade específico
Cumprir muitas missões é uma ótima maneira de juntar itens e dinheiro Como funciona esta porcaria de máquina?!?

Depois de tudo isto que já descrevi, devo admitir que talvez o maior mérito de Xenoblade Chronicles seja o de conseguir conciliar tudo de uma forma que o jogador nunca perca tempo com coisas desnecessárias. Com os cenários gigantescos que o jogo apresenta, por exemplo, teria sido fácil os desenvolvedores caírem em um velho e recorrente incômodo nos RPGs que é o de ter que percorrer longos trajetos repetidamente. Em Xenoblade, entretanto, isso não acontece, pois os mapas contam com diversos “pontos de referência”, para os quais é possível se transportar diretamente, depois de descobertos. E não é só isso... tudo, mas absolutamente tudo, parece ter sido feito com a ideia de tornar a vida do jogador mais fácil. A não ser por alguns monstros mais mal encarados, os inimigos não atacam a não ser que o jogador inicie a batalha, permitindo-o escolher as batalhar que quer lutar (graças a isto, alguns monstros mais poderosos tendem a aparecer entre outros mais fracos, fugindo um pouco do clichê nº 5 do meu Top 10 – Inconsistências Recorrentes em RPGs). Os personagens recuperam pontos de vida enquanto caminham e, se o personagem principal morrer, nenhum progresso é perdido, o jogador é simplesmente levado de volta para o último ponto de referência pelo qual passou. Ao completar a maioria das missões, não é necessário voltar para falar com a pessoa que fez o pedido, a recompensa já vem na hora que o item foi encontrado ou o monstro foi derrotado, por exemplo. O jogo tem um tempo próprio, variando do dia para a noite, o que afeta as pessoas que andam pelas cidades e os monstros que perambulam por aí. Enquanto em outro jogo isto poderia significar ter que ficar esperando dar a hora certa para fazer o que se quer, em Xenoblade é possível modificar a hora manualmente. Animações podem ser puladas a qualquer momento. Enfim, são muitos detalhes que parecem terem sido feitos com um objetivo claro em mente: garantir que o tempo gasto pelo jogador no jogo seja aproveitado da melhor forma possível.

Melhor tomar cuidado com certos monstros... Dunban também entra na diversão!
É preciso ter cuidado com o poder da Monado! Missões opcionais até dizer chega
Um mundo enorme para se explorar Se você olhar com atenção, talvez você veja um pica-pau descendo as cataratas em um barril...

Depois de poder jogar Xenoblade Chronicles pessoalmente e comprovar a obra prima que este jogo é, fica ainda mais difícil entender por que a Nintendo of America está fazendo tanto drama pra trazer este jogo pra cá. Com tantos jogos razoáveis e até ruins que foram importados, porque não importar Xenoblade, que seria um grande sucesso na certa? Ainda mais nesta época de séria falta de jogos bons que o Wii tem passado. Mas mantenhamo-nos esperançosos: os bons resultados que Xenoblade Chronicles tem conseguido na Europa certamente fará com que seu lançamento nas américas seja reconsiderado. Porque uma coisa é certa: se isso não acontecer, o público americano ficará sem conhecer não apenas um dos melhores RPGs do Wii, mas também um dos melhores RPGs já feitos e ponto final.

Prós:

  • História muito bem contada, envolvente desde o começo, com personagens cativantes;
  • Batalhas rápidas, dinâmicas e divertidas, que incentivam o uso de estratégia e não se tornam cansativas;
  • Cenários enormes, detalhados e com uma ambientação muito original;
  • Excelente trilha sonora e dublagem de vozes;
  • Quantidade imensa de conteúdo opcional;
  • O jogador não perde tempo com coisas que não lhe interessam;

Contras:

  • Alguns aspectos gráficos fazem o jogo parecer mais antigo;

Xenoblade Chronicles - Nintendo Wii (Versão Europeia) – Nota Final: 9.5

Gráficos: 8.5 | Som: 10.0 | Jogabilidade: 10.0 | Diversão: 10.0

Revisão: Alveni Lisboa

Xenoblade Chronicles

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