Os rumores se confirmaram, a Nintendo anunciou um acessório que adiciona um segundo analógico e mais botões ao 3DS e muitos fãs acenderam suas tochas e prepararam-se para marchar até a sede da empresa. Isso você já sabe, mas quais serão os reais significados e estratégias por trás desse pequeno “frankenstein”?
Conhecendo o monstro
Citado pela primeira vez por um funcionário da Nintendo nos rumores divulgados pelo 01net, quando muitos não o julgaram real (inclusive o redator que vos escreve, desculpem), o add-on revelado na 3DS Conference consiste em uma base que se encaixa ao portátil e adiciona um controle analógico do lado direito e mais os botões L/R e L2/R2, usa 3 pilhas AAA, o que desagradou muita gente, mas pelo menos não diminuirá a bateria do aparelho, será lançado no Japão no final do ano por cerca de 20 dólares e provisoriamente será chamado de “Expansion Slide Pack”.
Embora não seja realmente muito bonito, segundo jornalistas que puderam vê-lo de perto o acessório é confortável e leve, mas como ele estava sem pilhas e não pôde ser testado em nenhum jogo, ainda restam muitas dúvidas. Falando nos games, por enquanto nenhum exigirá a utilização do Slide Pack, mas vários já confirmaram que trarão suporte, em especial Monster Hunter, que parece ser o grande destaque dessa história. Muitas pessoas chegaram a pensar que o add-on na verdade seria da Capcom e exclusivo para o jogo de caçar monstros, mas ele é mesmo criação da Nintendo.
Um problema de planejamento
Um segundo analógico (e mais alguns botões) não é pouca coisa para ser meramente um acessório. Ao contrário de uma Balance Board, Wii Zapper ou Pokewalker, que evidentemente não são para todos os jogos, ou um Motion Plus, que surgiu bastante tempo depois do lançamento do wiimote original como uma atualização, o Expansion Slide Pack não justifica sua existência como periférico. Era algo que se esperava já estar originalmente no console, ou então não estar em momento algum.
Explico: os novos recursos são uma opção de controle que muitas desenvolvedoras gostariam de utilizar nos seus jogos. Estando os novos controles em todos os 3DSs, elas seriam livres para adicionar essas funções ou não, com a certeza de que qualquer jogador poderia utilizá-los. Com o lançamento posterior, existirá uma “divisão” de público: você pode fazer seu jogo com o 2° analógico, mas nada garante que o seu público poderá usá-lo. Com isso, ou é necessário acabar usando também os mesmos controles de antes, ou tornar o uso do acessório obrigatório, o que as empresas geralmente não gostam por restringir o seu público.
Mas então porque a Nintendo resolveu adotar o dual stick somente agora? Aparentemente, o plano inicial era não lançá-lo, como podemos ver pelas afirmações feitas antes do 3DS começar a ser vendido, quando os controles por movimento e o touchscreen foram apontados como uma alternativa satisfatória. Mas então qual o motivo desse novo rumo?
Novas estratégias
Segundo o que tem se comentado, um dos motivos para a Nintendo adotar o novo circle pad seria a pressão de algumas produtoras, que consideram essa jogabilidade a ideal para seus jogos, como FPSs, o que não deixa de ser verdade, muitos jogadores estão acostumados a esse modelo e gostariam de adotá-lo no portátil 3D. A Capcom também deve ter parte nessa história, afinal foi dado grande destaque ao fato dos jogos da série Monster Hunter anunciados suportarem o novo acessório.
Outro ponto a se levar em consideração é que o PlayStation Vita possui dois analógicos, e o Expansion Slide Pack seria uma resposta ao tentar oferecer às produtoras e jogadores as mesmas capacidades da concorrência. A Nintendo não lançaria um add-on tão excêntrico e tão rapidamente se não achasse que ele pode resolver alguns dos problemas do 3DS, mas será que esse é mesmo o caminho a ser seguido?
A falta de destaque ao acessório por parte da Big N durante a 3DS Conference pode ser um indício que ela não considere ele tão essencial assim, apenas como uma expansão da jogabilidade. Isso pode de fato ser verdade e a empresa continue seus negócios como antes, mas a imagem que ele deixa, de um jeito ou de outro, é a de que a Nintendo está deixando de lado sua estratégia vencedora dos últimos anos para buscar um mercado muito mais restrito e difícil.
Talvez por temer o “novo” segmento de jogos para smartphones, talvez por outros motivos que ninguém sabe, a Nintendo parece querer aproximar o 3DS do PSP e Vita, esquecendo-se que os portáteis que fazem sucesso são nos moldes do Game Boy e do DS. Os grandiosos games, com mecânicas avançadas, narrativas mais longas e gráficos robustos ainda não encontraram o sucesso no competitivo mercado de portáteis. Nada contra, é até saudável que esses jogos existam, pois atraem uma parcela do público. O problema é basear o aparelho inteiro nesse modelo de jogos.
Basta vermos a história dos portáteis para perceber claramente que os jogos mais bem sucedidos são os que fazem jus ao seu nome, “videogames portáteis”, e não tentam emular a experiência das suas contrapartes de mesa. Não é a toa que títulos mais simples, acessíveis, rápidos, diretos tragam mais resultados positivos: é nesse tipo de experiência que se baseia equipamentos móveis. Por isso que Tetris, Pokémon, Nintendogs, Angry Birds, Rhythm Heaven, Professor Layton e tantos outros se destacam, enquanto os jogos de franquias consagradas nos consoles de mesa não conseguem o mesmo sucesso comercial que as suas versões “maiores”.
Até mesmo os jogos da série Monster Hunter, já citados, que vendem horrores nos PSPs japoneses, apesar de enganarem muita gente com o visual avançado e monstros gigantes, devem seu sucesso a essa tática. Nas terras nipônicas é comum andar com os PSPs esperando encontrar parceiros para uma caçada multiplayer. Monster Hunter é uma grande festa virtual.
Tudo isso para dizer que a Nintendo, com seu novo circle pad, que tradicionalmente é associado a jogos de mesa, parece estar se distanciando do modelo de ouro do DS, que se identifica muito mais com controles de movimento, touchscreen, interatividade, vários jogos 2D, etc. Estivesse o analógico lá desde o início, não haveria tanta discussão, mas o acréscimo póstumo faz parecer que essa estratégia é mais importante para a empresa do que deveria.
Para a Sony, apostar nesse segmento mais restrito do mercado com o PSP e, agora, com o Vita, não chega a ser um grande problema. Esse tipo de portátil não vende como um Game Boy, um DS ou um iPad, mas tem seu público e, para uma megacorporação como a Sony, com vários setores e produtos, não é nenhum drama. Mas o segmento de portáteis para a Nintendo, que corresponde a grande parte de sua receita, um bom número de vendas é vital. Por isso é de se estranhar que ela queira seguir no caminho oposto.
Se a questão for mesmo a competição com os smartphones, a companhia parece estar desaprendendo tudo que fez no passado recente. A solução é continuar oferecendo jogos atrativos, originais, únicos e de qualidade, e não dar uma volta de 180° e ir para o lado contrário. Tentar “fugir” desse modelo apenas afastará ainda mais as massas.
Claro, uma empresa com mais de 100 anos de história não abandonaria suas estratégias bem sucedidas do nada, então o que devemos esperar é que a Nintendo encontre um ponto de equilíbrio que continue atraindo todos os jogadores de um DS, e não deixe também de agradar quem prefere o “outro” lado. Para sabermos como essa história continua, só vendo quais serão os próximos títulos que virão.