Então o 3DS não vendeu como o esperado e o Wii U ainda é uma incerteza. Situação difícil para a Nintendo, não? Sem dúvidas, mas isso não significa que a empresa é carta fora do baralho na oitava geração de videogames. Os futuros lançamentos da concorrência deixam a competição em aberto.
O PS Vita acabará com o 3DS?
Com os problemas que o 3DS vem enfrentando, já há quem diga e repita que o PS Vita, novo portátil da Sony, se consagrará como o grande campeão da próxima batalha de consoles de mão. Acontece que a maioria dos argumentos usados para defender essa afirmação são falácias (uma “falsa verdade”). Vejamos.
Primeiro problema: usar as baixas vendas do 3DS para justificar o sucesso de outro produto. Pergunto: existe uma regra que afirme que quando um console vender mal, outro obrigatoriamente terá que ser um sucesso? Quer dizer que “ninguém” comprou o 3DS porque estão esperando o PS Vita? Pode ser um argumento tentador para uma conversa descontraída de fanboys, mas o problema do 3DS é muito mais com a Nintendo do que com concorrentes. Não estou aqui dizendo que o PS Vita vai vender como o 3DS, ou pior, ou que o portátil da Nintendo vai crescer nas vendas e virar um novo DS, nada disso. Mas usar o 3DS para afirmar que o Vita venderá mais é falho.
Outro ponto é que a Sony, para todos os efeitos, manteve a mesma proposta que tinha com o PSP no Vita. Tudo bem que ela acrescentou algumas coisas que julgou “casuais”, como o touchscreen e sensores de movimento, mas também são adições mais que esperadas para um aparelho portátil hoje em dia. Bom, e se o PSP foi ofuscado pelo sucesso colossal do DS, porque o Vita mudará isso agora? Nós podemos aprender muito com o passado e com a situação atual, e o mercado de games móvel parece ter o caminho para o sucesso bem evidente.
Claro que toda a tecnologia envolvida no PS Vita o torna um aparelho extremamente interessante do ponto de vista técnico, gráficos de altíssima qualidade, etc. Mas será que esse é o caminho para o sucesso? Já não foi isso que o PSP prometeu quando foi anunciado, e todos acharam que o DS estava morto?
Bruno, para de falar bobagem, se fosse assim o 3DS deveria estar vendendo horrores como o DS! - Leitor indignado.
Nada disso, caro leitor, e o motivo é simples: o 3DS se aproximou do PSP, e o Vita parece não ter se distanciado muito do seu antecessor. É curioso notar isso, a Nintendo se afastou de sua própria estratégia bem sucedida com o DS para se aproximar da rival. Mas que aproximação é essa? Poderia falar sobre o foco em questões técnicas (3D no 3DS, gráficos HD no Vita, e por aí vai), mas o melhor exemplo são os jogos. Vejam os jogos anunciados para 3DS e Vita: Uncharted, Zelda, Star Fox, Resident Evil, Ruin, etc.
Podem ser jogos excelentes, de forma alguma quero diminuí-los. Mas eles tem um ponto em comum: são fundamentalmente games para consoles de mesa, não para portáteis. E é aí que está a diferença: o DS fez sucesso por ser um console portátil, não um console de mesa em miniatura.
Pare e pense por um minuto: quando se fala em grandes sucessos de games portáteis, que jogos vem a sua mente? Apenas para citar alguns: Tetris, Brain Age, Nintendogs, Mario Kart, Angry Birds, Monster Hunter e, como não podemos esquecer, Pokémon. Há quem não goste deles. Há quem realmente deteste esses games. Mas são esses os verdadeiros jogos portáteis. São esses jogos que as pessoas levam para jogar no recreio do colégio e mostrar para os amigos, ou para passar o tempo no metrô a caminho do trabalho. Jogos de mesa não ficam tão bons nesse formato porque exigem mais tempo e não foram planejados para interrupções constantes.
Um dos erros da Nintendo, por exemplo, foi achar que The Legend of Zelda: Ocarina of Time seguraria as vendas do 3DS. Não segurou. Como pode, sendo considerado um dos melhores jogos de todos os tempos? O problema não é a qualidade do game, de forma alguma, o problema é a proposta dele: Ocarina of Time é um símbolo dos jogos para console de mesa, mas não dos portáteis. Claro, o jogo vendeu razoavelmente bem, é um dos títulos de 3DS com mais de um milhão de cópias vendidas (e teria como não ser, dado o peso do game?), mas ainda parece um resultado modesto comparado aos jogos citados anteriormente.
Que nada, o sucesso desses joguinhos é só uma fase, é por isso que as vendas do DS e 3DS caíram, e o Vita será um sucesso. - Leitor fazendo uma previsão do futuro.
É, pode ser que o sucesso desse tipo de jogo seja só uma fase. Só que uma fase bem longa, já que começou com o Game & Watch e continua firme e forte em tempos de Androids e iPads. E se você ainda acha que as vendas do 3DS são resultado de um declínio na tática empregada no 3DS, tenho alguns números de vendas de julho nos EUA (dados da NPD):
Acredito que esses números falem por si mesmos. Bom, se o 3DS caiu nessa “armadilha”, por enquanto podemos dizer que o Vita repetirá a mesma performance. Posso estar tremendamente errado, e o Vita ser um sucesso estrondoso, mas não é o que a história dos videogames nos indica até aqui.
Mas Bruno, se o Vita e o 3DS possuem uma proposta parecida, e o PS Vita supostamente possui um hardware melhor, não é de se esperar que ele venda mais? - Leitor indagador.
Pode até ser que com as coisas como estão, o Vita aproveite-se disso e venda mais que o 3DS. A discussão aqui é que é difícil para um portátil virar um sucesso nessas condições. Pode até vender mais, mas longe de um produto como DS ou iPad. E para uma empresa, o que importa é vender bem, não vender um pouco mais que o adversário (ainda mais se ele vender mal também). E o 3DS talvez tenha algumas vantagens: é possível que seja mais fácil para a Nintendo voltar a ser como era no DS do que para a Sony. Um Pokémon pode sacudir as coisas. E por fim, o 3DS teve uma redução considerável de preço, o que influi sim na aceitação do produto, ainda mais nos tempos atuais. A Sony já anunciou que não pretende trocar o preço do Vita, $250 o mais barato, $300 o mais caro, e provavelmente nem pode fazer muito quanto a isso. A empresa pode estar confiante no seu produto, mas o adiamento do lançamento mundial para o ano que vem (será lançado em 2011 apenas no Japão) dá a entender que ela está, pelo menos, ciente da situação.
PS3 + Vita = Wii U?
Outra ideia que vem debatendo-se bastante é que o novo controle do Wii U já vai nascer obsoleto, pois supostamente a conexão PS3 + Vita permite tudo o que o novo console da Nintendo promete. Mas calma aí, talvez na teoria muitas das ideias pudessem sim funcionar no combo de console de mesa mais portátil da Sony, com o Vita virando um controle do PlayStation 3, mas as coisas não são tão simples assim.
Em primeiro lugar, temos o fator preço: $250 dólares do Vita mais uns $249 do PS3 (modelos mais baratos), ou seja, $499. Apenas lembrando que no seu lançamento, o modelo mais caro de PS3 custava $599 nos EUA. Fora isso, ainda há a necessidade de adquirir dois aparelhos separadamente. Se o preço não convenceu, vamos ao principal: a proposta.
Usar controles de movimento era a proposta do Wii. O wiimote não era um mero acessório, não era enfeite, ele estava ali, disponível desde o começo, para todos os jogadores e desenvolvedoras que quisessem usá-lo. O Move não, foi lançado como um acessório muito tempo depois do lançamento do PS3. E é por isso que a maioria dos jogos de Wii faz algum uso dos recursos do wiimote, nem que seja a função de ponteiro, mas ainda são poucos os jogos de PS3 que usam o Move, comparados com o total.
O mesmo pode ser levado para a situação “Wii U Vs. PS3 + Vita”. O Wii U está sendo planejado para usar todo o potencial do controle tablet, ele estará disponível para uso em todos os jogos desde sempre, é a principal característica do aparelho. Provavelmente a maioria dos jogos lançados usarão algum recurso desse novo controle. Já no PS3 usando o Vita, qual será o suporte? Será que vários jogos serão lançados pensando nesse jogabilidade? Um pouco difícil, acredito.
Enquanto isso…
E como não podemos esquecer, nem só de Nintendo e Sony vive a indústria de games. “Novos” competidores, os celulares, smartphones e tablets mostraram que também podem possuir bons jogos, e a Apple e Google (que agora adquiriu a divisão de celulares da Motorola e passará a desenvolver hardware) provavelmente não irão ignorar os grandes lucros das vendas de jogos em suas lojas de aplicativos. O bom e velho PC também está presente, com o interessante apelo dos “social games”, cujo maiores expoentes são os joguinhos de Facebook, e as lojas digitais, em especial o gigante Steam, da Valve. E para não deixar de mencionar, os serviços de games por stream como o OnLive estão aí buscando seu espaço.
Transitando entre os elementos acima, temos a Microsoft, com o Windows Phone, o Windows para PCs e o Xbox 360 no mercado de consoles de mesa. Em qual campo será que a gigante da informática investirá agora? Desenvolver as plataformas móveis, voltar a dar mais atenção aos “Games for Windows”? E ainda temos um possível “Xbox 720”, mas a empresa é a que menos revelou seus planos para a nova geração de videogames.
Os desafiantes já estão tomando suas posições para a batalha pela oitava geração de videogames, alguns já estão exibindo seus exércitos, outros ainda estão planejando, e já há quem esteja lutando. Aparentemente, ao contrário do que ocorreu nos últimos anos, a disputa será bem mais acirrada. Que vença o melhor.