A História dos Vídeo Games #22: o filho prodígio da Sony, o PlayStation

em 02/04/2011

Pouco mais de um ano depois do início da quinta geração de vídeo games, a indústria ainda não sabia ao certo que rumos os consoles tomari... (por Jones Oliveira em 02/04/2011, via Nintendo Blast)

PlayStation_logoPouco mais de um ano depois do início da quinta geração de vídeo games, a indústria ainda não sabia ao certo que rumos os consoles tomariam. A 3DO Company apostara suas fichas em um modelo de negócios que levou a indústria à falência em 1983: não deu certo. Buscando reconquistar seu prestígio, a SEGA prometera revolucionar com o Saturn e trazer para o conforto das salas dos consumidores a experiência dos arcades: ports perfeitos dos jogos e um hardware poderosíssimo. Sua ansiedade, no entanto, fez com que a empresa tropeçasse nos próprios cadarços. Era tudo novo, mas o que se via era mais do mesmo, mas com uma roupagem diferente. Será que ninguém chacoalharia essa geração?

A indústria dos vídeo games vivia um momento de glamour pós-crise de 1983. Vários foram os casos de sucesso: NES, Master System, Mega Drive e Super Nintendo. Apesar do domínio das duas gigantes japonesas – Nintendo e SEGA – o cenário nunca fora tão favorável para o surgimento de novas empresas (e para aquelas que tentavam reaver sua glória também). Enquanto a 3DO Company surgia com o seu 3DO, Atari e Commodore ressurgiram, respectivamente, com o Jaguar e o Amiga CD32. A Nintendo, por sua vez, trabalhava caladinha na sua nova plataforma, conhecida apenas por “Project Reality”.

snes_cdO Super Nintendo reinava absoluto à época e, como todo bom rei, estava cercado de especulações e boatos. A principal especulação girava em torno do periférico SNES-CD, anunciado em parceria com a gigante Sony que, por divergências contratuais, foi substituida pela Phillips na CES de 1991 sem nenhum aviso prévio. Com o periférico em estágio avançado de desenvolvimento, a Sony se sentiu traída e não abandonaria a ideia tão fácil. A ferida fora feita e agora sangrava.

Primogênito filho da traição

Famicom Disk SystemFalar do boicote da Nintendo à Sony na CES de 1991 é limitar-se a explorar apenas a ponta do iceberg, conhecer superficialmente a longa relação existente entre as duas empresas. Ao contrário do que muitos afirmam, o relacionamento entre as duas empresas começou no longíquo ano de 1986. Nesse ano, o Famicon (ou NES) já possuia 3 anos de idade e reinava absoluto tanto na terra do sol nascente, quanto na terra do Tio Sam. Dominando o mercado, a Nintendo começava a estudar a possibilidade de utilizar mídias ópticas para reproduzir os jogos nos seus consoles.

A Nintendo começou a trabalhar no Famicom Disk System e no seu disco magnético. O que era uma ideia promissora, no entanto, rapidamente revelou-se um problema: os discos utilizados eram regraváveis e facilmente apagados. Além da baixa durabilidade do disco, ele não possuia nenhum sistema anti-cópia e favorecia à pirataria. De alto risco, o projeto permaneceu engavetado até a revelação das especificações do CDROM/XA.

diskgamesDesenvolvido simultaneamente por Sony e Phillips, o CDROM/XA era uma extensão do formato CD-ROM que combina compressão de áudio, vídeo e dados, permitindo que eles sejam acessados simultaneamente. Além disso, a extensão possuia sistema anti-cópia e não possibilitava a leitura do disco por drives de CD-ROM comuns. A ideia era perfeita e a Nintendo se interessara. Nesse meio tempo, enquanto a Big N se aproximava e negociava com a Sony, o Super Nintendo foi lançado. Popular e altamente rentável, o console era a “cobaia” perfeita para que a Sony desenvolvesse um periférico que permitisse o console rodar jogos em CD. O contrato fora assinado e o SNES-CD estava em gestação.

hiroshi-yamauchi-photoMaio de 1991, era hora de anunciar o periférico que revolucionaria o já fantástico Super Nintendo. No entanto, poucos dias antes da Consumer Electronics Show daquele ano, Hiroshi Yamauchi leu o contrato original estabelecido pelas duas grandes empresas ainda em 1988 e descobriu que o acordo inicial dava plenos poderes à Sony, podendo ela explorar todo e qualquer título produzido no formato SNES CD-ROM. “Inacetável”, foi essa a palavra utilizada por Yamauchi, que secretamente cancelou todos os planos da parceria Sony-Nintendo. Às 9 horas da manhã do dia da CES 1991, Howard Lincoln, então presidente da Nintendo, subiu ao palco e anunciou que quem produziria o novo periférico seria a Phillips.

Minoru Arakawa e Howard Lincoln - A História dos Vídeo Games - Nintendo BlastPosteriormente, soube-se que Howard Lincoln e Minoru Arakawa, fundador e presidente da Nintendo of America à época, deram uma “escapadinha” até a sede da Phillips na Europa e fecharam uma aliança que, ao contrário do que ocorreria com o contrato firmado com a Sony, mantinha todos os poderes nas mãos da Nintendo.

Já era suficiente, a onça fora catucada com vara curta.

 

Nascimento e conquista do mercado

idbb_02_img0155A Sony chegara muito longe para simplesmente desistir. O projeto estava em estágio avançado de desenvolvimento e Ken Kutagari – considerado o pai do PlayStation - decidira que “’mais um pouco’ de investimento” seria suficiente para transformar o periférico em um console de mesa. As polêmicas, no entanto, não cessaram e continuaram perseguindo a Sony. Dessa vez o “bafafá” girava em torno do nome do futuro vídeo game, que se chamaria “Play Station” – marca patenteada pela Nintendo para dar nome ao periférico.

Depois de vários confrontos em tribunais, em 1993 decidiu-se que “Play Station” continuaria sendo uma marca utilizada pela Nintendo para um futuro periférico, mas que “PlayStation” seria a marca de uma nova geração de hardware e de software da Sony. Com a eliminação entre o espaço entre as letras “Y” e “S”, o projeto teve início, a Nintendo perdeu interesse pelo desenvolvimento de um periférico e, finalmente, parou de encrencar com a antiga aliada.

playstationFechando um acordo com a LSI para desenvolver novos chips exclusivos para o console, a Sony conseguiu fazer a concorrência tremer antes mesmo do lançamento do seu console. Uma coisa é curiosa aqui: ninguém, simplesmente ninguém, sabia as especificações do console antes do lançamento. Tudo o que se sabia era que ele seria baseado em CDs e especializado em gráficos poligonais 3D. Como ele iria parecer, como seria feito ou quanto custaria, ninguém tinha a mínima ideia. A única certeza da concorrência era o medo. E com razão.

731px-PSX-Original-ControllerLançado em 3 de dezembro de 1994 no Japão, o PlayStation foi sucesso instantâneo, alcançado mais de 1 milhão de unidades vendidas no verão japonês de 1995. Grande parte desse sucesso se deu ao grande apoio recebido pelas third-parties, que não pouparam esforços em converter seus principais títulos de arcades para a plataforma. Ao contrário do que muitos pensavam, a arquitetura do PlayStation era bastante simples e isso facilitou o desenvolvimento para ele – e conquistou TODAS as empresas. Diferente da SEGA, que praticamente tinha que pedir para as empresas desenvolverem para o Saturn, a Sony tinha que freá-las.

Em terras norte-americanas o PlayStation chegou em 15 de novembro de 1995 custando U$299 – preço muito inferior ao da concorrência. Só o preço já incentivava o consumidor a adquiri-lo, mas foi a grande variedade de títulos disponíveis já no lançamento que fez com que o console alcançasse a incrível marca de 100 mil unidades vendidas no seu primeiro fim de semana de vida.

final_fantasy_vii_pc_cover1Não demorou e já em 1996 o console liderava isolado a indústria. Àquela época o console já era suportado por todas (você não leu errado, eu disse TODAS) as produtoras do planeta, sendo algumas delas em contrato de exclusividade. A mais importante, e maior exemplo, desse regime de exclusividade foi a Square, que abandonou a plataforma da Nintendo devido aos altos custos envolvidos na produção de cartuchos. Com o lançamento de Final Fantasy VII, a empresa criou um divisor que separava a “era PlayStation” em antes e depois de FFVII.

A magia dos gráficos poligonais

Em setembro de 2007 o PlayStation já contava com mais de 7900 jogos lançados em todo mundo e em março daquele ano o console contabilizava a incrível marca de 962 milhões de jogos vendidos. De longe o PlayStation já era o console mais popular de todos os tempos!

800px-PSX-SCPH-5001-MotherboardApesar dos consoles da concorrência também utilizarem CDs como mídia para armazenar os jogos, foi no PlayStation que o pequeno disco se popularizou. Então, qual a diferença entre os CDs do PlayStation e os CDs utilizados, por exemplo no Saturn? A resposta é: nenhuma. O grande diferencial do PlayStation não foi o CD, mas sim a arquitetura simplificada – e barata – do sistema que permitia os desenvolvedores fazer mais com menos.

net_yaroze_1155596369Com apenas um processador matemático rodando a 33,8MHz e um processador gráfico capaz de lidar tanto com texturas 2D, quanto com polígonos 3D, programar para o PlayStation era tão simples que uma versão do console que permitia o jogador programar seu próprio jogo foi lançada, o Net Yaroze. Devido a essa simplicidade, as third-parties podiam focar seus esforços financeiros em produzir jogos de maior qualidade ao invés de reinventar a roda, tal qual faziam desenvolvendo para o Saturn.

O resultado desses fatores já é conhecido por todos: os jogos do PlayStation encantavam e surpreendiam pelo realismo na época. Battle Arena Toshinden, Doom, Warhawk, Air Combat, Philosoma e Ridge Racer tiravam o fôlego dos consumidores no lançamento do console e ganharam várias sequências tamanho o sucesso.

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Muitas das franquias que vemos na geração atual fazendo sucesso – ou um dia já fizeram -, surgiram no PlayStation: Gran Turismo, Resident Evil, Winning Eleven, Parasite Eve, Tomb Raider, Medal of Honor e Silent Hill são algumas delas.

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Isso sem contar com os excelentes Final Fantasy VII, Final Fantasy VIII, Tekken, The Need For Speed, Driver, Fear Effect, Castlevania: Symphony of the Night, Metal Gear Solid, Chrono Cross, Crash Bandicoot, Tony Hawk’s Pro Skater e Syphon Filter que marcaram a adolescência e infância de muito marmanjo, além de render uma boa grana às locadoras e principalmente aos piratas. Sim, os piratas.

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A pirataria e a consolidação do reinado

ps1chipAssim como o suposto futuro periférico do SNES, o PlayStation utilizava o formato CD-ROM/XA como uma forma de conter o avanço da pirataria na plataforma. Quando do seu lançamento, esse formato realmente era interessante e funcionava, até o surgimento dos leitores e gravadores capazes de ler CD-ROM/XA e, pior ainda, dos chips que burlavam todo o sistema de segurança do console.

Simplificando a explicação técnica dos acontecimentos, basicamente o CD-ROM/XA possuía a indicação da região do jogo prensada diretamente na mídia. Essa “marca” era lida pelo console antes do jogo ser inicializado e caso correspondesse à região do console, o jogo iniciava. Além disso, o formato XA só era lido por leitores específicos e pouquíssimos leitores de CD-ROM eram capazes de identificar o formato – imagine então gravá-lo.

{C1A2DCCF-8F38-4DA0-ABF4-D24702AF766C}_cd-rEm meados de 1996, no entanto, houve a explosão dos gravadores de CD, que em pouco tempo se tornaram popular. E sim, você está certo: esses gravadores não só eram capazes de ler o formato XA, como também de gravá-lo. Apesar de conseguir copiar os jogos, os piratas não eram capazes de prensar a marca da região do jogo na mídia – processo realizado exclusivamente nas produtoras. E foi dessa necessidade que surgiram os tão aclamados odiados modchips.

Apesar de fazerem parte da cultura de muitos países em que os jogos custavam absurdos, foi no console da Sony que esse tipo de circuito ganhou força e se tornou popular. Seu papel, basicamente, era “injetar” as informações de região do jogo na BIOS do console para que o jogo gravado em um CD-R comum fosse executado.

psoneHá controversias sobre os “benefícios” e os “malefícios” trazidos pelos modchips. É tanto que a Sony evitou o mercado brasileiro por saber que não teria “forças” para combater o mercado paralelo. Curiosamente foi aqui um dos países em que o console mais vendeu.

Apesar de tais acontecimentos, a Sony se manteve firme e o console continuou vendendo feito água. A plataforma passou a receber suporte não só das softhouses, mas também das produtoras de hardware que disponibilizavam para os consumidores todo tipo imaginável (e inimaginável) de acessório. Em 2000, quando foi lançado o sucessor do PlayStation, a Sony também trouxe para os fãs uma versão redesenhada do console, o PSOne. Ao contrário do que muitos pensaram à época, o console revisto continuou conquistando novos consumidores.

psx-psone1Até seu descontinuamento - em março de 2006 –, o PlayStation havia vendido mais de 102 milhões de unidades por todo o mundo, se tornando o console mais vendido de todos os tempos! Nascido de uma traição, o primogêntio da Sony rapidamente se tornou um monstro capaz de derrubar qualquer concorrente que aparecesse pelo caminho. O 3DO não resistiu e rapidamente ficou para trás. As complicações para desenvolver para Saturn e o custo do console fizeram ele perder a liderança rapidamente. A harmonia perfeita entre marketing agressivo, ótimo hardware e uma biblioteca de jogos vasta e de qualidade fez com que a Sony entrasse, de uma vez por todas, para o hall de casos bem sucedidos da história (talvez o mais) com o seu primeiro console. O primeiro!

memory_cardÉ inegável que a Sony aprendeu com o erro dos seus concorrentes. O PlayStation foi a materialização de tudo aquilo que a Nintendo e, principalmente, a SEGA estavam tentando fazer para corrigir seus erros. Além de mostrar “como é que se faz”, a plataforma ainda revolucionou a forma como os jogos eram salvos. Deixando de lado os cartuchos e sua memória interna, a Sony apresentou o Memory Card para o público. O acessório foi tão popular que em alguns lugares deixou de ser um acessório de vídeo game e passou a ser peça de “moda” (Japão, oi?). Mesmo com tantas novidades e com tanta euforia, parecia que ainda faltava alguém na festa – alguém muito especial e velho conhecido de todos. Enquanto o CD se tornava a mídia padrão nessa geração, uma empresa insistia na antiga fórmula dos cartuchos e causava estardalhaço por um número: 64. Mas esse é um assunto para o nosso próximo encontro. Fique antenado e não perca!

Tenho muitíssimas boas lembranças da época do PlayStation. Depois de anos com o SNES, tive a oportunidade de adquirir um em 1998 e aquela foi a época em que mais joguei vídeo game na minha vida. Era vídeo game em casa, vídeo game na casa dos amigos, vídeo game nas locadoras e jogos à vontade. Lembro que nessa época as revistas de vídeo games também ainda eram bem populares e o principal recurso para buscar novos jogos.

Eram comuns os campeonatos de Winning Eleven entre amigos, algumas vezes valendo até premiação. Pura emoção. Joguei muito Medal of Honor, fechei Final Fantasy VIII por 3 vezes (até hoje o meu favorito), me arrisquei em Parasite Eve e passei incontáveis horas tentando melhorar meu Rank em Resident Evil 1 e 2. Depois de proporcionar bons momentos de diversão, hoje ele descansa na caixa na parte de cima do meu guarda-roupas. Um console inesquecível que marcou a transição da minha infância para a adolescência.

E vocês, que lembranças tem do PlayStation? Que jogos vocês gostavam de jogar? Sentem falta dessa época? Divida sua experiência e emoção conosco, conte-nos seus bons e maus momentos com esse console. Participe, comente!

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