Nem só de salvar de reinos e princesas vive o herói da série The Legend of Zelda. Nesse jogo para Wii, lançado no já longínquo ano de 2007 para acompanhar e demonstrar o uso do então novo acessório Wii Zapper, a “arma” do console, Link vira aprendiz de atirador de elite e não deixa nenhum alvo para contar história.
A primeira coisa que todo jogador deve saber antes de pensar em adquirir esse game é que não se trata de um episódio tradicional da franquia. Digo isso porque vi muita gente internet afora reclamando da duração ou da falta de exploração, ou ainda fazendo comparações com Twilight Princess, seu antecessor direto. O objetivo da Nintendo com Link's Crossbow Training não foi criar o próximo RPG de ação, e sim uma demonstração da Wii Zapper, então podemos dizer que nesse ponto o game está mais próximo de Wii Sports (que introduzia as funções do wiimote) que de Twilight Princess.
Conheça a sua arma
Como já foi dito acima, Crossbow Training é uma demonstração dos usos da Wii Zapper, e por isso mesmo o jogo vinha acompanhando o acessório, assim como Wii Sports acompanha o Wii. A espécie de envelope que contem os dois jogos, inclusive, é igual.
Bom, mas o que afinal é a Wii Zapper? É a arma de plástico do Wii, como um simulador das antigas light guns. Na prática, é apenas uma carcaça branca onde encaixa-se o wii remote e o nunchuk. Toda a interação é mecânica, ou seja, o funcionamento dos controles será exatamente o mesmo com ou sem Zapper. Mas presumo que se você se deu ao trabalho de comprá-la, não irá jogar dinheiro fora jogando normalmente.
Encaixando o wiimote na parte superior e o nunchuk na traseira, o acessório não chega a interferir muito nos controles. Talvez perca-se um pouco da velocidade na hora de mirar, mas também fica mais fácil de “sustentar” o controle. Sem contar a oportunidade de se sentir segurando uma arma de verdade e o gatilho maior, o que dá uma ajuda. Minha opinião pessoal: pelo menos nesse jogo, é melhor e mais fácil jogar com a Zapper.
Mas e como fica isso em Hyrule? Bem, esqueça o estilingue, o arco e flecha ou qualquer outro item de tiro à distância de The Legend of Zelda. Como o próprio título sugere, nos é introduzido o “crossbow”, ou, em bom português, a besta. A besta é uma arma popular do século XVI que existe até hoje, e consiste num mecanismo atirador de flechas acionado por um gatilho, uma evolução do arco. Bem legal. E mais legal ainda é a besta usada por Link durante o jogo, já que ela é uma representação fiel da, adivinhem, Wii Zapper! Isso mesmo, basta olhar as imagens para reconhecer na arma o design do acessório.
Depois dessas informações, resta saber que tudo funciona como o esperado. Mire apontando para a tela, atire apertando o gatilho B, movimente-se com o analógico e deixe as outras funções como o zoom para botões secundários.
Novo jogo, cara velha
Se a Nintendo soube inovar introduzindo uma nova arma ao universo da série, é preciso admitir que ela foi um tanto quanto preguiçosa nos gráficos, sons, personagens e cenários. Nada que você ouvir e enxergar será novidade caso já tenha jogado Twilight Princess. A Big N optou por importar tudo do game de lançamento do Wii, então não se espante se encontrar gorons vestindo alvos na Montanha da Morte.
Todas as localidades, personagens, objetos e inimigos são exatamente iguais à TP. Quem já está habituado a andar por Hyrule provavelmente gostará de poder dar uns tiros, mas os jogadores que ainda não conferiram Twilight Princess poderão se confrontar com um ou outro “spoiler”, nada grave, mas fica o aviso.
Preparar, apontar...
Ok, ok, mas como é que funciona esse tal de Crossbow Training? Depois de inserir o disco no console, você irá para o menu principal. O botão no canto inferior esquerdo serve para ajustar o controle, o que é importante para um jogo que exige precisão e velocidade. O menu da direita mostra os três modos de jogo, “Score Attack”, “Multiplayer” e “Practice”.
Esses dois últimos possuem exatamente as mesmas características do primeiro, mas em “Practice” todos os estágios estão liberados para treinamento e no “Multiplayer” você tem a chance de desafiar até quatro amigos (localmente) e ver quem possui a melhor pontaria. A competição não ocorre simultaneamente, ou seja, joga-se o estágio escolhido quantas vezes forem o número de competidores, uma vez para cada um, o que não é exatamente o que pode-se chamar de multiplayer ideal, mas é útil se todos quiserem brincar com a Zapper.
Mas vamos ao principal, o “Score Attack”. Esse modo possui nove níveis, cada qual com três estágios jogados em sequência e com tempo cronometrado. Estágios esses que podem ser de três tipos:
Target Shooting: o tradicional jogo de tiro ao alvo. Você só tem controle da mira, e atira sem parar nos alvos que surgem pelo cenário.
Defender: com controle da câmera, mas preso em um ponto fixo, você é cercado por vários inimigos que chegam de todos os lados.
Ranger: hora da caça. Controle o Link pelo cenário matando tudo que estiver se mexendo.
Para ajudar nos desafios, existem dois tipos de disparo especiais, o “Exploding Crossbow”, que atira uma flecha explosiva se você carregar a arma segurando o gatilho e esperando, e o “Automatic Crossbow”, que transforma sua besta em uma metralhadora medieval quando um inimigo verde é atingido.
Seja um campeão
Um game com apenas nove fases, cada uma com tempo contado, ainda por cima, não pode durar muito, certo? Certo, se você se contentar em apenas desbloquear todos os níveis. Se esse for seu caso, sinto lhe informar que não levará mais de uma hora para tal proeza. Mas se você ambiciona maiores realizações, o sistema de medalhas é o que procura.
Tudo que você atingir (ou deixar de atingir) com suas flechas conta pontos, para mais ou para menos. Ao final de cada estágio, seu placar é informado, e a pontuação do nível será dada pela soma dos placares de seus três estágios. Aí é que a coisa fica interessante, pois além dos 20000 pontos mínimos para desbloquear a próxima fase, existem quatro medalhas para serem ganhas, bronze, prata, ouro e platina.
Os menos entusiasmados se contentarão com a básica medalha de bronze, mas só os verdadeiros campeões conquistarão as cobiçadas medalhas de platina, equivalentes a 80000 pontos. Não se engane, é uma tarefa trabalhosa.
Para atingir pontuações tão altas, só existem duas coisas a se fazer: não errar tiros e destruir grande parte da cenografia. Acertando vários tiros em sequência, seus pontos serão multiplicados indefinidamente, garantindo um bônus bem gordo. Erre o alvo apenas uma vez, entretanto, e terá que começar outra sequência. Além disso, preste atenção à sua volta, aqueles espantalhos, jarros, ossos, estátuas e todo tipo de objeto não estão ali apenas como enfeites. A maioria deles são destrutíveis e fornecerão alguns pontinhos a mais, e existem até mesmo bônus escondidos, que são essenciais para a tão desejada medalha de platina.
E uma última dica: se conseguir resistir, não atire nas pobres galinhas (não adianta negar, eu sei que você tentaria).
Último disparo
Se a temática de Zelda pode ter confundido os jogadores quanto ao estilo desse game, saibam que quem se aventurar a jogá-lo encontrará uma ótima e divertida coletânea de minigames de tiro (sim, é isso que o jogo é, o que de forma alguma o desmerece). A Nintendo certamente aproveitou-se da fama de The Legend of Zelda para vender mais algumas armas de plástico, mas a ação em Hyrule acaba se tornando um ponto divertido do jogo. Resta a torcida para que algumas novidades, como a besta, sejam incorporadas pela série no futuro.
Link's Crossbow Training – Nintendo Wii – Nota final: 7.0
Gráficos: 7.0 | Som: 7.0 | Jogabilidade: 8.0 | Diversão: 8.0