A História dos Vídeo Games #18: a maior guerra de todos os tempos

em 15/01/2011

O final da década de 1980 e o início da década de 1990 foi marcada pelo lançamento de dois grandes consoles que para sempre ficarão marcados... (por Jones Oliveira em 15/01/2011, via Nintendo Blast)

O final da década de 1980 e o início da década de 1990 foi marcada pelo lançamento de dois grandes consoles que para sempre ficarão marcados na memória dos old gamers: o Mega Drive e o Super Nintendo. Palmo a palmo, Sega e Nintendo disputavam o gosto do público, lançavam jogos, ousavam nas estratégias de marketing e publicidade e acusavam-se umas as outras. A outrora tímida indústria dos vídeo games agora se tornara um verdadeiro campo de guerra.

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Falar de Mega Drive e Super Nintendo e não falar da guerra travada pelos dois consoles e suas duas empresas é não contar um dos momentos mais excitantes e emocionantes de toda a história da indústria. Apesar de terem sido lançados com pouco mais de dois anos de diferença um do outro, esses dois consoles travaram uma épica e histórica batalha em busca da preferência popular.
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Lançado outubro de 1988 no Japão, o Mega Drive recebia esse nome para representar sua superioridade (Mega) e velocidade (Drive). A cor preta do console dava a ele um visual arrojado e moderno; seu controle chamava atenção por ser ergonômico e confortável. O Mega Drive ainda contava com hardware semelhante aos dos arcades da época, com um processador 68000 da Motorola e um co-processador Z-80 que faziam o console rodar a incríveis 7,67Mhz e não engasgar em  jogos que exigissem mais processamento de imagem em menor quantidade de tempo (ou você acha que Sonic surgiu porque é bonitinho? Não mesmo, foi também para demonstrar isso).

Enquanto o Mega Drive crescia e recebia excelentes conversões do arcade, a Nintendo continuou achando que poderia liderar o mercado com o ofegante Nintendinho. Isso realmente seria possível caso o Mega Drive ficasse apenas no Japão. A falta de RPGs no console da Sega fez com que sua popularidade não passasse da empolgação de lançamento do console. A biblioteca de jogos não atraia muito o público japonês que deixou o console se empilhar nas prateleiras. Com planos de levar o console para América do Norte, agora sim a Sega dava motivos para a Nintendo se preocupar.

Ciente de que a concorrência oferecia uma plataforma mais robusta e mais indicada para o desenvolvimento dos tipos de jogos que os norte-americanos gostam (ação e esportes), em 1988 a Nintendo anunciou um plano emergencial para iniciar o desenvolvimento do seu novo console. Muitos pensam que a guerra travada entre as duas empresas só começou depois que o Super Nintendo chegou ao mercado, mas não. Com esse plano emergencial a Nintendo desejava colocar seu mais novo console em circulação o mais rapidamente possível.

video-game-super-nintendoApesar do genial Masayuki Uemura estar por trás do projeto do console, o Super Nintendo só chegou ao mercado em novembro de 1990 no Japão e quase um ano mais tarde nos Estados Unidos, ou seja, exatos dois anos após o lançamento do Mega Drive. A rapidez com que o console foi desenvolvido surpreende – até para a realidade de hoje. Surpreende também a qualidade dos seus componentes. O SNES vinha com um poderoso chip gráfico capaz de exibir até 256 cores simultâneas na tela, tinha uma paleta de 32.000 cores e movimentava sprites com efeitos de rotação, zoom e transparência. Sua placa de som também chamava a atenção pelo sintetizador FM da Yamaha e chip Sony.

Um dos fatos interessantes de toda essa história é que esse chip foi desenvolvido em segredo por Ken Kutagari e pela Nintendo, uma vez que a Sony simplesmente não se interessava por vídeo games na época. Quando o projeto estava sendo finalizando, Kutagari foi descoberto e quase perdeu seu emprego – o que não aconteceu porque a Nintendo ofereceu um acordo lucrativo pelo chip e a Sony entrou no mercado de vídeo games.

Apesar da sua superioridade técnica, o Super Nintendo tinha um processador com praticamente a metade da velocidade do Mega Drive: apenas 3,57Mhz. Mesmo com alguns jogos apresentando constantes slowdowns, a Nintendo utilizou essa condição a seu favor e investiu no que faltava no Mega Drive: jogos de RPG. Por isso no Japão o console se tornou mais popular do que seu concorrente.

A batalha pela mercado norte-americano


É fato que a Nintendo cometeu um grande erro estratégico ao pensar que seu console de 8-bits sobreviveria à nova realidade dos consoles 16-bits. Sua arrogância fez com que o Super Nintendo demorasse e chegasse dois anos após a concorrência. O Mega Drive continuava vendendo feito água em deserto mesmo quando houve o lançamento do rival. Nessa época a Sega tinha uma carta na manga, uma carta azul. O mascote da empresa finalmente estreiaria no console.

sonic-the-hedgehog-2Sonic: The Hedgehog foi lançado em 1991 poucos meses antes do lançamento do Super Nintendo. Além do carisma do personagem, a Sega explorava a velocidade do jogo e a capacidade do seu console. Nessa época a empresa intensificou suas campanhas publicitários que diziam “Genesis does what Nintendon’t” (em português, Genesis faz o que o Nintendo não faz), inserindo o ouriço nas campanhas e lançando vários artigos com a sua marca, como roupas, bonés e chaveiros. O marketing era tão agressivo que a Sega patrocinava até mesmo corridas de Fórmula 1 na época. Parecia que a Nintendo não teria chances.

Aquele ano, o de 1991, foi um ano difícil para a Nintendo, mesmo com o lançamento do seu console. Em 1992, contudo, começou a reviravolta. A Capcom viu no console da Big N a plataforma ideal para portar dos arcades o seu jogo mais popular: Street Fighter II. O jogo foi trabalhado ao extremo e lançado com maestria no SNES e, finalmente, o console começou a decolar nas terras do Tio Sam. Mas a Sega não ficou parada e imediatamente revidou com o lançamento de Sonic 2 e Streets of Rages 2. Somente 1 ano depois do lançamento de SFII no SNES foi que o jogo chegou ao Mega Drive.


Comerciais do Sega Genesis

Após o lançamento de Street Fighter II o Super Nintendo cresceu e o mercado ficou completamente dividido. Há quem diga que 56% do bolo era da Sega e 44% da Nintendo, outros dizem que estava meio a meio. Ciente da ameaça que a Nintendo já representava, a Sega começou desenvolver periféricos que aumentassem o poder de processamento do console e o diferenciassem do SNES. Mas o caminho não era bem por aí.

snes sf2Enquanto a Sega investia em acessórios e periféricos, a Nintendo investia pesado na Silicon Graphics e em uma nova tecnologia chamada ACM (Advanced Computer Modeling), que permitia desenvolver gráficos de qualidade jamais vistas para um console 2D. Com o projeto finalizado, a Nintendo escolheu a Rare para desenvolver um novo jogo de um personagem da empresa utilizando a nova tecnologia. O escolhido: Donkey Kong.

donkey-kong-country-3Lançado em novembro de 1994, Donkey Kong Country foi um tapa na cara dos empresários da Sega e uma resposta digna da Nintendo. O jogo trazia gráficos 3D pré-renderizados em uma plataforma totalmente 2D. Sem a necessidade de nenhum periférico, sem nenhum custo a mais, a Nintendo entregava a seu público um resultado tão bom quanto a Sega esperava entregar com o lançamento do Mega CD. Foi então que a Sega se desesperou e perdeu toda e qualquer razão que tivera até ali. Não bastasse o lançamento do Mega CD, a empresa ainda lançou outro periférico, o 32X, que em conjunto com o Mega CD deixava o console parecendo uma nave espacial, um verdadeiro trambolho. A promessa de processar até 50.000 polígonos e exibir 32.000 cores simultâneas em tela ficou só na promessa e o projeto não passou de um gigantesco fiasco com apenas 90 jogos lançados. A fórmula não dava mais certo e a Sega tomou a sua decisão mais precipitada de todos os tempos.

segacd32xCom o lançamento do Sega Saturn ainda em novembro de 1994, já em 1995 a Sega decidiu parar de produzir o Mega Drive e se concentrar apenas no seu novo console de 32-bits. Com isso a empresa também demitiu Tom Kalinske, CEO da Sega of America e um dos principais responsáveis pelo sucesso do Mega Drive em solo norte-americano.

Com o fracasso do Mega CD, o fiasco do 32X, a mudança de foco da Sega para o Saturn e a demissão de Tom Kalinske, as portas ficaram completamente abertas para a Nintendo, mais uma vez, reaver sua supremacia e fazer do Super Nintendo o 16-bits mais vendido da história e um dos consoles mais queridos de todos os tempos.

Que fim tomou a guerra


Pode-se dizer que o Mega Drive dominou o mercado por um bom tempo. A desorganização da Nintendo no final dos anos 1980 e o lançamento tardio do Super Nintendo contribuiram para que o Mega Drive avançasse no mercado norte-americano e conquistasse o público com jogos de ação e esportes.

snes_cd-romO desembarque do SNES em solo norte-americano em 1991 deu início a uma batalha épica que durou até o descontrole da Sega em 1994. Ironicamente, foi o descontrole e megalomania da Sega que fez com que a Nintendo se desentendesse com a Sony. Quando do desenvolvimento do Mega CD, a Nintendo iniciou o desenvolvimento de um leitor de CDs para o Super Nintendo em parceria com a Sony. O Super Disc, como foi batizado o periférico, foi motivo de desavenças entre as empresas. A Sony queria uma porcentagem das vendas sobre o aparelho e os jogos, além da renomeação do acessório para PlayStation. A Nintendo, claro, não aceitou.

A Sony tomou a liberdade de anunciar os direitos de distribuição do novo aparelho, despertando a ira da Big N. Um dia após esse anúncio, a Nintendo foi à público e ao invés de anunciar o aparelho, anunciou que este estava sendo desenvolvido em parceria com a Phillips e não com a Sony. Não preciso dizer que isso fez com que as duas empresas deixassem de se falar e que isso levou a Sony a entrar no mercado de consoles com o seu PlayStation.

playstation1Mesmo com o lançamento do Sega Saturn a Sega não conseguiu reaver a glória que outrora alcançara com o Mega Drive nos 4 primeiros anos do console. A Nintendo se manteve forte e mostrou a todos como se faz um console de sucesso. Não fosse a desavença com a Sony, é provavél que o SNES tivesse continuado popular até o lançamento do N64 e talvez hoje não existisse PlayStations.
E você? Que lembranças tem dessa época? Você gostava do Mega Drive ou do Super Nintendo? Por que? Não deixe de participar nos comentários!
O grande vencedor disso tudo? Nós, consumidores. Toda essa guerra nos trouxe não só bons jogos e mais horas de divertimento, mas mais uma empresa para a indústria e mais um console que, como todos nós sabemos, foi um verdadeiro sucesso. Mas isso é assunto para o nosso próximo encontro. Nos vemos lá!
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