Assassin's Creed, franquia criada por Patrice Desilets e um dos carros-chefe da Ubisoft, é mundialmente famosa por conter um mix de fatos históricos e ficção científica, e por trazer uma mistura de ação, aventura e alguma furtividade. A série se consolidou como uma das franquias de maior sucesso dos consoles da última geração, tendo jogos lançados para os principais consoles de mesa, portáteis, celulares e PCs, além de gerar conteúdo para outras mídias, como livros e até uma micro série live-action entitulada Assassin’s Creed: Lineage.
Uma aula de história
A história do arco principal da franquia gira em torno de Desmond Miles, um bartender cujos ancestrais eram membros da ordem dos Assassinos. A corporação Abstergo Industries tem muito interesse em recuperar as memórias dos ancestrais de Desmond contidas em seu DNA, e para isso utilizam a Animus, uma máquina capaz de extrair informações contidas no DNA, analisar e dar às pessoas o controle sobre essas memórias. O primeiro game traz o primeiro ancestral Assassino de Desmond, Altaïr, e se passa durante a Terceira Cruzada. Assassin's Creed: Altaïr's Chronicles, desenvolvido pela Gameloft e lançado em fevereiro de 2008 para Nintendo DS, funciona como um prequel ao primeiro Assassin's Creed, lançado originalmente para PS3 e Xbox 360, e se passa no ano de 1190 DC, tendo Altaïr como personagem principal. Na trama, Cruzados e Sarracenos lutavam pelo controle de Jerusalém, a Cidade Sagada. Altaïr, um jovem Assassino retorna a Alep após uma árdua jornada e a encontra sob o ataque dos Cavaleiros Templários. Depois de derrotá-los, ele recebe de Al-Mualim a tarefa de encontrar e recuperar o Cálice, um artefato que teria o poder de unir facções diferentes sob uma mesma bandeira, podendo assim dar a vitória da Terceira Cruzada aos Cruzados ou aos Sarracenos. Mas o Cálice era considerado poderoso demais para cair nas mãos dos homens. Al-Mualim, então, ordena que Altaïr recupere o artefato e depois o destrua.
Assassinatos na palma da sua mão
A versão de DS de Altaïr's Chronicles apresenta um gameplay em 3D linear, chegando a ser quase um sidescroller. Não há mundo aberto (e nem era de se esperar que tivesse, visto que o hardware do DS é um fator deveras limitante), e talvez esta seja a diferença mais impactante para quem já jogou os games da franquia para consoles de mesa. Apesar disso, há certa liberdade para o personagem se deslocar pelo cenário, pois mesmo que a perspectiva de visão seja sempre lateral, todos os cenários são em 3D, possibilitando que Altaïr ande em todas as direções. Outra diferença que também pode incomodar um pouco é que o jogo se foca muito pouco na história, dando muito mais espaço para a ação. Se bem que "ação" não é exatamente a palavra certa apara definir o ato de "correr do início até o final da fase, derrotando alguns inimigos e pulando alguns telhados".
O jogo não apresenta muita dificuldade nas batalhas; basta defender e usar o contra ataque, e depois acabar com a vida do adversário com uma das finalizações. Mas como estas finalizações só são aprendidas aos poucos, após algum tempo de jogo, as primeiras batalhas podem apresentar algum nivel de dificuldade. Porém, depois de aprendidas essas habilidades, as batalhas se tornam fáceis, repetitivas e maçantes. Talvez por isso o jogo passe a apresentar alguns cenários mais elaborados e alguns puzzles depois de algumas fases, para trazer um pouco mais de dificuldade.
Tá dificil, hein…
E, por falar em dificuldade, algumas ações do jogo são extramamente difícieis. Mas não por trazerem puzzles elaborados ou inimigos fortes; na verdade, são difíceis porque alguns elementos foram mal pensados ou mal programados. Por vezes, Altaïr morre simplesmente por se aproximar de algum espinho. Outras vezes cai em buracos imaginários e morre. E isso se torna ainda pior dado o sistema falho de checkpoints, que algumas vezes simplesmente não funciona e te leva a recomeçar a fase desde o início após uma morte. Pra quem, assim como eu, se diverte assassinando furtivamente os guardas e demais inimigos nos consoles de mesa pode se decepcionar um pouco: é bastante difícil se aproximar dos inimigos furtivamente e o botão de ação para assassinar aparecer. Sim, o botão dificilmente aparece. Mas quando aparece acaba não fazendo muita diferença, pois não se dá tanto destaque para os assassinatos com a lâmina escondida. Então você vai lutar a maior parte das suas batalhas simplesmente pressionando os botões de ataque repetidamente, e vez ou outra vai trocar de arma (que não se faz necessário na maior parte do jogo). Desmond foi deixado de lado em Altaïr's Chronicles, e o jogo se foca apenas no personagem título. Quem jogou Assassin's Creed para PS3 ou Xbox 360 vai sentir uma tremenda diferença entre o Altaïr desses consoles e o do DS: o personagem da versão portátil é muito mais raso, quase genérico.
Apesar do nível de detalhamento dos cenários, os gráficos são um pouco pobres. A taxa de frames por segundo parece baixa, o que torna a movimentação dos personagens um pouco estranha e nada natural. Na verdade, a impressão que se tem é de que os gráficos não foram terminados a tempo e ainda assim o jogo foi lançado. Os sons também são muito fracos e repetitivos, chegando ao ponto de te dar vontade de desligar o som do DS. Músicas repetitivas, efeitos sonoros repetitivos e nenhum diálogo dublado acabam deixando a experiência da jogatina um pouco mais pobre. O jogo ainda apresenta uma espécie de mini-game quando há a necessidade de roubar algum item de um personagem ou quando é preciso interrogar algum meliante. Ambos usam de forma nada criativa a tela de toque, no que parece mais uma tentativa de dar uma utilidade maior para a touchscreen do que apenas mostrar o mapa. Quando Altaïr precisa roubar algum item de alguém, a tela de baixo do DS fica preta. O jogador deve arrastar a Stylus pela tela para revelar o conteúdo da carteira do personagem a ser furtado. Então, novamente com a caneta do DS, o jogador deve arrastar o item para fora da carteira sem esbarrar em suas bordas ou em outros artefatos ali presentes. Já durante um interrogatório, a tela de toque mostra um torso humano com alguns pontos sensíveis ao toque. O jogador deve pressionar a Stylus contra esses pontos no momento certo para que o interrogatório seja efetuado com sucesso.
No final das contas…
Mesmo com todos os muitos defeitos, o jogo pode acabar agradando um pouco. Apesar da linearidade das fases, visitar as cidades já conhecidas de Acre, Jesuralém e Damasco, e as estreiantes Alep e Tyre no DS é muito interessante. Cada uma das cidades, apesar de terem tamanhos e quantidade de NPCs presentes muito limitados, têm uma identidade visual única. Conhecer um pouco mais da história do primeiro ancestral de Desmond Miles também é outro fator que faz com que o jogo não caia totalmente na mesmice.
Assassin’s Creed: Altaïr’s Chronicles – Nintendo DS – Nota Final: 6,0
Gráficos: 6,0 | Som: 5,0 | Jogabilidade: 6,5 | Diversão 6,5