A História dos Vídeo Games #15: a NEC entra no mercado com o PC Engine

em 25/10/2010

No nosso último encontro em A História dos Vídeo Games vimos um pouco da curiosa história da SEGA e sua entrada para a área de consoles ... (por Jones Oliveira em 25/10/2010, via Nintendo Blast)

No nosso último encontro em A História dos Vídeo Games vimos um pouco da curiosa história da SEGA e sua entrada para a área de consoles de mesa com o Master System. Sucesso absoluto nos mercados europeu e brasileiro, o Master System falhou ao tentar morder uma fatia do mercado norte-americano – dominado pela Nintendo e o NES. A falta de estratégia de mercado - não só da SEGA, mas de toda a concorrência - fez com que, sucessivamente, as empresas amargurassem derrotas nas bandas de cá. Será que daria para ser diferente dessa vez?

NEC-LogoO ano era 1987. Há 4 anos um console dominava todo o mercado do entretenimento eletrônico. Há 4 anos o implacável NES fazia história como o console mais bem sucedido até então, vasta biblioteca de jogos e um personagem que dava gás extra às vendas do console: o Mario. As empresas tentavam desesperadamente desbancar o console, morder uma fatia da sua enorme quantidade de consumidores. A Atari já passara com o 7600 e a SEGA com o Master System. A bola da vez agora estava com a NEC.

39_mainFamosa por atuar na área de eletro-eletrônica, na década de 1980 a japonesa estava em plena expansão. Participando de projetos governamentais e investindo em telecomunicações, a NEC lançou vários modelos de computadores à época e chegou a valer 24 bilhões de dólares. Analisando a indústria dos vídeo games e o sucesso que a Nintendo obtivera com seu console, a NEC viu que ali estava mais uma forma de aumentar os seus lucros. Só havia uma coisa que a impedia de conseguir isso: o know-how.

O interesse da NEC coincidiu com a tentativa fracassada da Hudson Soft de vender chips gráficos para a Nintendo. Fundada em 1973, desde 1978 a Hudson iniciara o desenvolvimento e venda de jogos eletrônicos,  logo a NEC viu que poderia obter o know-how do ramo com ela – a união de interesses foi inevitável.

HucardsLançado no Japão em 30 de outubro de 1987, o PC Engine, assim como os antecessores, tinha a difícil tarefa de desabancar a Nintendo do seu trono. Por si, seu design chamava bastante atenção – graças a uma arquitetura única de apenas 3 chips, o console possuia medidas de 14cm x 14cm x 3.8 cm que conferirama ele o recorde de menor console do mundo pelo Guiness World Records Gamer’s Edition (2008). Outra peculiaridade de console era a mídia em que os jogos eram distribuidos – os “HuCards”, cartões que mais pareciam cartões de crédito.

Internamente, o hardware do PC Engine era composto por dois processadores HuC6280 8 bits, que possuia uma unidade de gerenciamento de memória um gerador de som programável. O chip gráfico também era algo bem diferente do que se via na época. Desenvolvida pela Hudson, a placa possuia 16 bits e vinha acompanhada de um chip codificador de cores –ambos responsáveis pelas incríveis 256 cores que o console exibia simultaneamente na tela.

TurboGrafx-16Com 2 anos desde o seu lançamento, o PC Engine já possuia uma enorme base instalada e excelentes jogos desenvolvidos e adaptados pela Hudson Soft. Nesse período, 1989, o console já se tornara mais vendido e popular no Japão do que o NES. Meio caminho fora percorrido, agora era hora de partir para terras ocidentais.

Em sua chegada em solo americano, o PC Engine deixou de assim ser chamado para ficar conhecido como TurboGrafx-16 (ou TG-16 para os íntimos). Comercializado diretamente pela NEC, o console chegou sendo anunciado como o “concorrente para o NES”, o que acabou não se revelando uma boa ideia. A estratégia foi logo alterada e o TG-16 passou a ser anunciado acompanhado de jogos que exaltassem suas qualidades gráfics e sonoras, como por exemplo, Blazing Lazers, Vigilante e China Warrior.

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Contudo, as coisas não eram tão simples como pareciam. A NEC acabou mirando apenas a Nintendo, esquecendo-se de sua outra concorrente – a SEGA, que estava lançando seu novíssimo console no mercado. Rapidamente o hardware do TG-16 parecia obsoleto: enquanto a concorrência oferecia duas portas de controle, o TG-16 só possuia uma e obrigava o consumidor a comprar o Turbo Tap, adaptador que permitia conectar dois controles em uma só porta. Além disso, a NEC não conseguiu manter um ritmo de conversões dos jogos japoneses, deixando os jogadores ocidentais com jogos medíocres como Keith Courage in Alpha Zones.

O mais interessante nessa parte da história é perceber que nenhuma empresa parecia capaz de olhar para os erros das anteriores para não comete-los novamente. Hoje em dia qualquer um que acompanhe a indústria saberá dizer que erros continuaram acontecendo porque nenhuma empresa, a não ser a Nintendo, levou em consideração as diferenças culturais existentes entre Japão (Oriente) e Estados Unidos (Ocidente). Parece bem óbvio, mas era algo que nem os grandes empresários pareciam enxergar – e quando enxergavam, não entendiam.

O público japonês crio uma enorme afeição pelo console da NEC. Sua biblioteca de jogos contava com excelentes jogos, muitos deles exclusivos para a plataforma, e ainda dois personagens super carismáticos: Bomberman e Bonk.

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O PC Engine ainda teve vários acessórios lançados para ele – controles, mouses, pistolas e até mesmo expansões de memória. Aliás, foi o PC Engine o pioneiro em utilização de CD-ROM para distribuição dos seus jogos. O console era capaz de ler CDs com um drive lançado como acessório. A partir desse momento, a NEC lançou inúmeras versões do console, sempre com alguma coisinha a mais: o PC Engine Duo no Japão e o Turbo Duo nos EUA, ambos com o leitor de CDs embutido e 128 KB de RAM.

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Mesmo com várias tentativas de dar sobrevida ao console e a formação de uma nova firma para se dedicar exclusivamente ao console – a Turbo Technologies Incorporated –, o PC Engine / TG-16 sucumbiu à fortíssima concorrência e sucesso do Mega Drive e do Super Nintendo em 1995. Até hoje, na mente dos japoneses, restam apenas as boas lembranças, os  bons momentos de diversão e os excelentes jogos do console. Para os americanos, o TG-16 não passou de mais uma tentativa desesperada de uma empresa tomar o mercado da Nintendo.

Apesar de novata no ramo, a NEC desenvolveu uma excelente estratégia para conquistar o público japonês e fez com que seu console fosse querido por muita gente. Sua biblioteca de jogos, que é enorme, só não foi maior devido as exclusividades contratuais impostas pela Nintendo às produtoras. Ao chegar no mercado norte-americano, foi “surpreendida” por outra concorrência que lá existia – um console mais robusto do que qualquer outro lançado até então, o primeiro console verdadeiramente 16 bits. Mas isso é assunto para o nosso próximo encontro. Até lá!

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