No nosso último encontro da coluna A História dos Vídeo Games nós vimos a ascensão da Nintendo, antiga empresa do ramo de entretenimento tradicional, à gigante do entretenimento eletrônico com o lançamento do seu primeiro console, o Nintendo Entertainment System. Com um bom console, a Nintendo não só conquistou os dois maiores mercados da indústria, como também foi responsável por os reerguerem. O sucesso evidente começou a incomodar gigantes adormecidos, notodamente a Atari, e a despertar a o interesse de gigantes dos arcades, como a Sega.
Estamos novamente no ano de 1983. No Japão, a Nintendo finalmente lança o seu primeiro console – o Family Computer. Em pouco mais de 1 ano, a japonesa já tinha planos de aportar em terras ocidentais. A Atari, que havia recebido a indencente proposta de vender o Family Computer da Nintendo nos Estados Unidos, tivera o seu orgulho ferido. A empresa que outrora fora conhecida pelo famosíssimo Atari 2600, agora estava sendo assediada por uma japonesa que desejava entrar no mercado americano. A onça havia sido catucada com vara curta.
Ciente do fracasso do Atari 5200 e igualmente preocupada com a entrada da Nintendo no mercado norte-americano, a Atari começava a se desesperar. Com o intuito de recuperar o prestígio que outrora tivera, a empresa logo realizou uma pesquisa com os usuários do 5200 a fim de sondar o que eles esperavam de um console de vídeo games – vários reclamaram do controle do 5200 - que vivia dando problema –, outros da necessidade de comprar um periférico para jogar os clássicos do 2600, e tantos outros da falta de bons jogos que reproduzissem a qualidade apresentada nos arcades.
Com os dados em mãos, a Atari tratou de trabalhar rapidamente em seu novo console, o Atari 7800. Em pouco mais de um ano do lançamento do Famicom no Japão, a Atari tinha sua nova arma anunciada em 21 de maio de 1984. Com mais memória, processador e placa de vídeo superiores a qualquer console lançado até então, o Atari 7800 prometia ser um poderoso arcade instalado na sala de estar de cada família. Seu chip gráfico, o MARIA, seguia exatamente os mesmos padrões dos chips utilizados nos arcades. Capaz de exibir mais de 100 objetos simultâneos na tela, o console deixaria qualquer outro no chinelo fácil fácil. O estardalhaço foi grande, muitos ficaram excitados com a ideia e tantos outros acreditaram que aquele sim seria o retorno da gigante ao lugar do qual nunca deveria ter saído. Tudo corria bem, até que…
À época do anúncio público do 7800, a Atari pertencia à Warner Communications, a qual possuia um plano ambicioso de lançamento do console até junho daquele ano. O motivo: a Atari era uma das patrocinadoras dos Jogos Olímpicos de Los Angeles e possuia mais de 13 títulos prontos para o novo console, sendo um deles o famoso Track and Field. Lançar o console e o jogo em tempos tão convenientes parecia a ideia perfeita. Contudo, a incerteza da indústria de vídeo games naquela época fez a Atari passar por uma forte turbulência que custou sua venda à Jack Tramiel, fundador da Commodore, afastado da companhia desde janeiro de 1984.
Tramiel, que buscava deslanchar um computador 16-bit no mercado, não concordava com alguns acordos feitos pela Warner e tampouco achava que havia mercado para o 7800. Resultado: o console ficou encostado inderteminadamente. Enquanto Tramiel preocupava-se em bolar o seu fantástico computador 16-bit, a Nintendo chegou aos Estados Unidos, dominou o mercado e fez muito dinheiro. Quando a empolgação da apresentação pública de 1984 havia sido esquecida por completo, Tramiel trouxe à tona o já falecido antes do nascimento Atari 7800. Uma pena.
Mesmo com o forte apelo de sua marca, com a retrocompatibilidade com os jogos do 2600 sem necessidade de periféricos, 100% de compatibilidade com os periféricos lançados desde o 2600 e o apelo de vários títulos clássicos (tudo o que os consumidores apontaram querer na pesquisa), o 7800 foi um fracasso. Devido aos contratos estabelecidos pela Nintendo, que impediam as softhouses que o assinavam desenvolver para outras plataformas, o 7800 teve sérias dificuldades para lançar novos títulos, que só apareciam de 3 em 3 meses. A eterna fissura de Tramel por computadores também prejudicou o “salvador da pátria” da Atari de deslanchar – com o lançamento do Atari XE, um computador voltado principalmente para jogos, a Atari passou a dedicar seus esforços a ele, lançando jogos e acessórios, que deveriam ser lançados para os dois, exclusivamente para o XE.
O resultado, mais evidente do que qualquer coisa, foi que o Atari 7800, mais uma vez, foi deixado para trás. O que deveria ser a reascensão da ex-gigante Atari ao seu trono, na realidade se tornou em um fiasco tão ruim quanto o do 5600. Decretada a sua morte, o 7800 foi enterrado em 1988, apenas dois anos após o seu lançamento. Mesmo as boas conversões dos arcades – aclamadas até hoje pelos fãs do console – não foram suficiente ao novo paradigma criativo nipônico que agora inundava toda a indústria. Dali para frente não mais se ouviria falar de Pole Position, Asteroids ou jogos do tipo, mas sim de Mario, Zelda e Castlevania.
O Atari 7800 foi a última grande tentativa de uma norte-americana de reaver espaço no mercado de consoles. As promessas foram boas e entusiasmaram muitos que ainda acreditavam no retorno da Atari, mas a fissura de Jack Tramel, que nunca teve uma veia para os vídeo games, por computadores, acabaram por dizimar o console que, vergonhosamente, não chegou nem às sombras de alcançar o primeiro lugar, tampouco o segundo. Pois é, nem em segundo lugar o 7800 chegou. Esse foi ocupado por, quem diria, mais uma japonesa, que, assim como a Nintendo, se arriscava pela primeira vez no mercado de consoles domésticos. Mas isso é história para o nosso próximo encontro. Até lá!