Nos nossos últimos encontros conversamos sobre a primeira geração de vídeo games, seus principais consoles e características que os marcaram. Paralelamente ao desenrolar de toda essa história, surgia um console que fugia ao padrão apresentado até o momento e que marcou o início da segunda geração dos vídeo games. Mas como foi que isso aconteceu? O que realmente era diferente?
A primeira geração dos vídeo games foi marcada pelos famosos consoles PONG que vinham todos eles com os seus jogos embarcados diretamente no hardware – não haviam cartuchos, já vinha tudo na “memória”. Apesar do Magnavox Odyssey 100 contar com uma espécie de cartucho, esse não era verdadeiramente um cartucho, mas sim jumpers que ativavam os jogos já instalados no hardware (mais especificamente em um chip) do console.
Essa forma de produzir os vídeo games limitava a quantidade de jogos disponíveis para o jogador e também a quantidade de empresas atuando no ramo de produção de jogos – se você quizesse produzir jogos, das duas uma: ou estabelecia um contrato absurdo de distribuição dos jogos com as fabricantes do console, ou desenvolvia seu próprio console. Não havia uma forma de distribuição apenas dos jogos.
Com o passar dos tempos os consoles começaram a ser produzidos de forma diferente. Não mais baseados em chips, mas sim em CPUs, os consoles exigiam que os jogos possuissem suas instruções baseadas em microprocessadores e que fossem gravadas em chips de memória ROM. A partir de então os jogos passaram a ser distribuidos em cartuchos de plástico que continham uma pequena placa com circuito e um chip de memória ROM que continha o jogo. Ao ser “espetado” no console, o microprocessador do console lia as instruções contidas na memória, as interpretava e exibia na tela.
Curiosamente os fabricantes da primeira geração já sabiam dessa possibilidade, mas ninguém se arriscou em largar o osso que em 1976 já começava a ficar insoso. Como o mercado de consoles PONG já estava muitíssimo bem delimitado e fechado o suficiente para uma nova empresa se aventurar, eis que a fabricante de circuitos integrados Fairchild aparece repentinamente com o seu console, o Fairchild Channel F.
O Fairchild Channel F e o novo modelo de mercado
Lançado em agosto de 1976, o Fairchild Channel F foi pioneiro na utilização de CPU e cartuchos com memória ROM para executar seus jogos. Em suas especificações constavam jogos com até 8 cores simultâneas em tela (eram muito, visto que nos PONGs da vida o máximo eram 4 e olhe lá) e resolução de 128x64 pixels. Sua CPU, a Fairchild F8, era poderosa o suficiente para produzir IA (percebam que IA não é algo de hoje) suficiente para promover uma jogatina desafiadora homem x máquina (aliás, foi o primeiro a fazer isso, pois PONG sempre exigia um segundo jogador).
Com design sóbrio e quadradão, o Fairchild possuia controles no estilo “hand grip”, pois não tinham uma base e o enorme direcional retangular no topo não só servia para movimentação, mas também era botão de disparo, podendo ser apertado ou puxado. O console ainda possuia um alto-falante interno que reproduzia os sons dos jogos e dispensava o uso dos alto-falantes da TV.
Cerca de 26 jogos foram lançados para o Fairchild o que conferiu uma certa popularidade ao sistema que aos poucos começou a incomodar a já gigante Atari. Na realidade o incomodo foi tanto que a Atari “se borrou” toda e decidiu acelerar o projeto do “Stella”, seu video game da segunda geração, temendo a inundação do mercado com outros consoles que não fossem o seu.
Apesar do seu relativo sucesso, que ficou evidente com o lançamento do Fairchild Channel F II em 1978, o maior legado do Fairchild original não foram os jogos, nem o console em si, mas sim a forma de negócio que ele trouxe ao mercado.
Com a possibilidade de fabricação e distribuição de jogos em cartuchos para praticamente “qualquer” console, cada vez mais empresas começaram a investir na indústria, o que foi gerando maior concorrência e, consequentemente, maior qualidade. Inconscientemente, naquele exato momento surgia o modelo de distribuição em “caixinha” que é domintante até hoje.
Difícil de acreditar né? Mas eram esses os jogos que faziam a festa da galerinha
Não fosse o medo gerado à Atari, talvez o Fairchild pudesse ter tido uma vida um pouco mais longa e não tivesse que apelar para comerciais em que instigavam o consumidor a completar a coleção de jogos, uma vez que seus cartuchos vinham todos numerados em sequência. Um ano após seu lançamento, a Atari colocou o “Stella” à venda e finalmente a popularidade do Fairchild começou a declinar devido a superioridade gráfica do console da Atari. Mas o “Stella” e um pouco da sua história são assuntos para o nosso próximo encontro. Até lá!