No nosso último Nintendo Chronicle vimos como e sob quais circunstâncias o SNES foi lançado. Na coluna de hoje destacaremos o que levou um console que foi feito praticamente às pressas a se tornar um dos mais queridos e consagrados de todos os tempos.
As dificuldades continuam
O Super Famicom (Family Computer, como o SNES foi chamado no Japão) desde o início foi pensado como um console para a família – seus jogos foram pensados para divertirem todos de todas as idades, quer fossem crianças com seus 4 anos e muita vontade de se divertir, quer fossem pessoas mais maduras que gostassem de mais desafios. Com essa proposta, que podemos dizer ser nova para a época, a Nintendo não encontrou dificuldades para vender o console na terra do sol nascente – faltaram consoles nas lojas e reza a lenda que até mesmo os membros da Yakuza, famoso grupo de mafiosos japoneses, tentaram roubar os consoles.
Entretanto, nos Estados Unidos a situação foi diferente. A Nintendo teve dificuldades para emplacar o console, rebatizado de Super Nintendo – seu preço era considerado alto (US$199,00 – 50 à mais que o Mega Drive) e não havia retrocompatibilidade com o NES, o que era visto com maus olhos. Além disso, a biblioteca de jogos ainda não era tão variada – haviam apenas algumas dezenas de jogos disponíveis – e seu hardware era inferior ao do console da Sega, o qual já era bastante popular à época. Para completar, o lançamento oficial foi mais desorganizado que qualquer coisa – enquanto algumas lojas tinham consoles demais, outras sequer os receberam.
Tirando a Europa, que recebeu seu primeiro “exemplar” oficial do Super Nintendo somente após 2 anos de lançamento no Japão, e portanto já contava com uma enorme quantidade de jogos, qualquer pessoa pode pensar que o Super Nintendo tinha tudo pra ser um fracasso sem precedentes! Mas não foi isso que aconteceu.
Diferenciais
Apesar de todas as dificuldades, a Nintendo tinha suas cartas na manga para fazer com que o Super Nintendo triunfasse. Uma delas, sem dúvidas, era o poder de processamento gráfico que o console possuia. Para compensar o processador extremamente lento, a equipe caprichou nos processador gráfico que nos presenteava com nada mais nada menos que 32 mil cores, sendo 256 delas simultâneas na tela – uma explosão de cores na tela! – e resoluções de até 512x478 pixels. Além do mais, só o Super Nintendo era capaz de produzir efeitos de zoom, rotação e transparência.
A exploração de tal recurso foi essencial para que a Nintendo “pescasse” os jogadores mais apegados a gráficos. Os próprios jogos de lançamento do console faziam isso muito bem: F-Zero explorava e encantava com o pseudo-tridimensionalismo dos seus gráficos, enquanto Super Mario World saltava aos olhos de qualquer um que o visse pela enorme quantidade de cores na tela. Logo em seguida vieram Pilotwings, Sim City, Super Mario Kart e tantos outros.
Com jogos cada vez mais caprichados, o Super Nintendo forçava a concorrência a lançar periféricos esquisitos que deixavam o console extremamente cavernoso na tentativa de obter melhores resultados – todos falharam. Nos idos de 1992, a Nintendo atraia cada vez mais softhouses que desenvolviam tanto para o Super Nintendo quanto para o Mega Drive – e isso às vezes contribuia para que se percebesse o quão os dois consoles estavam se distanciando um do outro.
E mesmo que o Super Nintendo tivesse atingido seu potencial pleno de vendas e entretenimento, e que muita gente pensasse que o console não tivesse mais para onde ir com a chegada dos consoles 32-bits, eis que a Big N sacou mais uma das suas inúmeras cartas – os chips de expansão que, ao contrário dos periféricos enormes acoplados à porta paralela, eram adicionados diretamente aos cartuchos.
Tais chips turbinavam a capacidade de processamento do console de 3.58Mhz para até 21Mhz com o Super FX2. Com isso o processador passava a desempenhar atividades de processador gráfico e o resultado foram jogos cada vez mais bonitos de se ver e de se jogar – Starfox, Donkey Kong Country e Super Mario World 2: Yoshi’s Island que o digam. Os chips fizeram a Nintendo poupar tempo e dinheiro com produção de periféricos de expansão que não tinham um bom retorno e que custavam caro para o gamer.
Além disso tudo, a Nintendo soube como ninguém como gerir a qualidade dos títulos que saiam para o Super Nintendo. Apesar de não haverem mais os contratos de exclusividade como houvera com o NES, as softhouses deviam passar por um rigoroso sistema de licenciamento antes que seus jogos fossem publicados para o console. O licenciamento dos jogos foi crucial para que o Super Nintendo tivesse uma das bibliotecas de jogos mais respeitáveis de todos os tempos – jogos esses que foram o maior legado deixado pelo eterno SNES.
O maior legado do Super Nintendo
Falar das especificações de hardware e como o Super Nintendo superou as dificuldades e a concorrência não é o suficiente se não falarmos dos seus jogos. Com milhares de jogos lançados ao longo de quase 1 década de vida, o console é conhecido pela quantidade de jogos de qualidade que teve. Ao passo que antigas franquias se fortaleciam e se consagravam de vez (como Zelda, Mario, Metroid e tantas outras), não deixavam de surgir novas que ditavam tendências e estão presentes até hoje.
Até os jogos que não tinham um nome tão forte conseguiam fazer um certo sucesso no console graças ao capricho que era imposto às third-parties. O resultado eram jogos “Tipo B” que conseguiam entreter e divertir os gamers menos exigentes.
O console ainda possuia títulos exclusivos que puxavam a quantidade de vendas para cima. Best-sellers de peso como Final Fantasy VI, Chrono Trigger, Mega Man X2 e até mesmo remakes de jogos importantes do NES – como Super Mario Bros., Super Mario Bros. 3 e Ninja Gaiden – atraiam uma enorme quantidade de jogadores para a plataforma. Isso sem contar os ports dos arcades - como Street Fighter II World Warriors e Final Fight, só para enumerar – que se tornavam muito mais atrativos no Super Nintendo do que em consoles como Mega Drive e Master System.
O Super Nintendo também foi um dos responsáveis por consagrar de vez os jogos feitos à partir de desenhos animados. Bons jogos como The Lion King, The Adams Family – Pugsley’s Scavenger Hunt, Tiny Toons Adventures – Buster Busts Loose!, The Jungle Book, Alladin, Teenage Mutant Ninja Turtles IV – Turtles in Time, Bike Mice from Mars e The Magical Quest Starring Mickey Mouse ditavam a boa qualidade desse tipo de jogo que outrora eram classificados como jogos extremamente alternativos e que agradavam apenas às crianças e que agora podiam ser jogados até mesmo por adultos fãs de desenhos animados.
Ter a chance de jogar um bom jogo no Super Nintendo era muito mais que uma boa experiência de jogatina ou diversão – ter a oportunidade de jogá-lo era ter a oportunidade de entrar em um mundo mágico, cheio de fantasias, belos gráficos coloridos e trilhas sonoras marcantes que só um console da Big N em sua plena maturidade era capaz de proporcionar.
Abaixo, algumas capas de alguns jogos que provam a diversidade e qualidade dos jogos lançados para o console.
O fechar das cortinas
O Super Nintendo permaneceu firme até o último momento. Os consoles 32-bits tiveram que suar bastante para desbancar o velho guerreiro da Nintendo, que foi produzido até 1999. Apesar das inúmeras dificuldades que rondaram toda a sua vida, o Super Nintendo foi sucesso absoluto e incontestável, tendo mais de 50 milhões de unidades vendidas e cerca de 2000 bons títulos lançados.
O console marcou época como um dos melhores (o melhor na minha opinião) consoles de todos os tempos, com a biblioteca de jogos que agradava a todos os gostos. Acredito que, mesmo com o fiasco inicial, a forma que a Nintendo conduziu as coisas fez com que todos os gamers do mundo daquela época tivessem pelo menos uma oportunidade de jogar o seu console – o suficiente para se apaixonar e fazê-lo ser comprado.
Não fosse o “duro golpe de destino” que lhe foi imposto pela Sony e Phillips quando desistiram de produzir o periférico para suportar CDs como mídia principal – e que resultou no lançamento do Playstation –, talvez o Super Nintendo tivesse uma sobrevida maior e o seu sucessor não tivesse sido outro console que usasse a já ultrapassada tecnologia dos cartuchos. Mas isso é história para o nosso próximo Nintendo Chronicle!