Apesar de não ter sido anunciado para a plataforma Wiiware, Street Fighter IV causou um frisson geral nos últimos meses nos gamers de todas as plataformas. Depois do tremendo sucesso em Street Fighter II e o fiasco do Street Fighter III, Street Fighter IV prometeu trazer de volta aos gamers todos os ítens que consagraram a série nas versões de Street Fighter II. Vamos ver como isso ocorreu.
O começo de tudo
O ano é 1984. Até o momento nenhum jogo de luta é realmente significante para a indústria dos vídeo games. A maioria deles é tosco o suficiente para afugentar qualquer espécie de gamer que existisse naquelas longíquas épocas. Eis que surge Karate Champ (1984) e Yie-Ar Kung Fu (1985), os dois jogos que causaram impacto significativo na indústria dos games e fizeram um sucesso tremendo. Diante disso, a Capcom decide lançar seu primeiro jogo de luta, que prometia trazer a jogabilidade de Karate Champ e os gráficos de Yie-Ar Kung Fu.
Assim surgiu em 1987 uma das franquias mais lucrativas de toda a história dos vídeo games: Street Fighter. O primeiro título não foi lá essas coisas – fato disso é que pouquíssimos o conhecem. Street Fighter apresentava um enredo pouco convincente: você é um japa chamado Ryu que sai perambulando porai e zuando com todo mundo. O jogo era ruim a lot – ou você jogava com o Ryu ou não jogava. Caso você tivesse um amigo que quizesse jogar com você, ai entrava em ação o clone loiro norte-americano de Ryu, o Ken. Apesar de trazer um sistema de controle hidráulico em que quanto mais forte você apertasse o botão, mais forte seria o golpe do “buneco” (isso uma revolução que o jogo trouxe), o jogo foi um fracasso e não empolgou.
A volta por cima
Apesar de não cumprir com o prometido com o primeiro jogo, a Capcom não desistiu e lançou em 1991 o que viria a ser o jogo mais “fandárdico” de luta de todos os tempos: Street Fighter II – The World Warrior. Como a Capcom descobriu o caminho das pedras, ninguém sabe. O fato é que Street Fighter II The World Warrior foi sucesso absoluto nos arcades e logo teve conversões para diversas plataformas, dentre elas o Super Nintendo.
É difícil saber quem saiu ganhando na história, se a Nintendo ou se Street Fighter II, pois a Nintendo teve um aumento substancial das vendas do SNES e Street Fighter II ficou popularmente conhecido graças ao console 16bits da Big N.
A história permanecia a mesma – você é um lutador que sai perambulando mundo a fora fazendo baderna (alguns dizem que é um torneio qualquer aí, mas isso nunca colou pra mim) até chegar ao destemido Mike Bison, chefão das organizações Shadaloo. Ao contrário da versão anterior, Street Fighter II WW possibilita ao jogador escolher entre 8 lutadores cada um com duas ou três golpes especiais.
Personagens
Ryu – Japonês praticante de Judô, Karatê e Taekwondo, Ryu é o personagem principal desde o começo da franquia. Extremamente focado nos seus treinamentos, procura derrotar todos para mostrar que é o mais forte do mundo. Golpes especiais: Hadouken, Shoryuken e Tatsumaki Senpuu Kyaku (aquele que ele sai rodando no ar :P )
Ken – Amigo e inimigo número 1 de Ryu, Ken Masters é um norte-americano com cabelo longo e oxigenado que vive nas baladas da California. Apesar de ter recebido o mesmo treinamento de Ryu, é relapso e desleixado. Possui os mesmos golpes especiais do Ryu.
E. Honda (vulgo Edmundo Honda) – Japonês enfezado e lutador de sumô, apareceu no “torneio” para mostrar ao resto do mundo que o sumô é uma arte marcial que merece respeito e para mostrar que poderia ser o melhor de todos. Possui dois golpes especiais: “Han-Han”, conhecido tecnicamente como “the Hundred Hand Slap” e “Cuscuz”, também conhecido como “Super Zutsuki”.
Chun-Li – Chinesinha invocada que entra no torneio para vingar a morte do seu que foi morto pela Shadaloo, Bison e Organizações LTDA. Chun-Li foi a primeira personagem feminina selecionável a aparecer em um jogo de luta nos vídeo games. Apesar de não ter ataques físicos poderosos, é de longe a personagem mais rápida do jogo. Golpes especiais: “Yep-Yep”, também conhecido como Hyakuretsu Kyaku, e o Spinning Bird Kick.
Blanka – Fruto de um acidente aéreo que ocorreu nas longíquas terras da Floresta Amazônica, Blanka cresceu e se criou no meio do mato (e se tornou um bicho feio?). Entra no torneio em busca da sua mãe que procura desde sua infância. Golpes especiais: a famosa “bola” e o “choquinho” conhecido de todos.
Zangief – Lutador de luta live aposentado, Zangief entra no torneio a mando da União Soviética para mostrar que ainda existe algo de bom no comunismo. Com um peitoral cabeludo, um cabelo mohawk indian e uma microssunga de fazer inveja a qualquer soviético, Zangief possui um dos (se não o mais) golpes mais temidos de toda franquia: o Pilão do Zangief (o único dele por sinal).
Guile – Patriota norte-americano, Guile é um oficial aposentado das forças armadas norte-americanas. Entra no torneio para vingar a morte do seu superior e melhor amigo Charlie, morto por Bison, Shadaloo e cia. Típico do norte-americano, Guile possui um topete avantajado que, segundo a própria Capcom, só pode ser conseguido com um pote de gel especial encomendado pelo exército norte-americano. Golpes especiais: Sonic Boom (popularmente conhecido como Alex Full) e Gillete do Guile.
Dhalsim – Pacifista indiano, Dhalsim entra no torneio para levantar fundos para o seu vilarejo. Praticante do Yoga, Dhalsim desenvolveu a técnica de se contorcer e se esticar para bater e apanhar a longa distância. É um personagem lento que exige muita técnica para chegar até o fim do jogo. Golpes especiais: as famosas baforadas de fogo Yoga Fire e Yoga Flame.
Além dos personagens selecionáveis, o jogo trazia mais 4 personagens considerados “chefes”, que só são encarados depois que se derrota os outros 7. São eles:
Balrog (M. Bison no Japão) – Boxeador norte-americano clone do Mike Tyson, tem cabelinho de feijão e não sabe chutar. Dentre os 4 “chefes”, é o mais fraco deles. Se utiliza da premissa de que a melhor defesa é o ataque. Mesmo bloqueando seus ataques, você terá uma boa quantidade de “life” subtraida. Não tem nenhum golpe especial em específico.
Vega (Balrog no Japão) – Lutador mascarado espanhol, Vega é tão ágil quanto Chun-Li. Utiliza uma garra e uma máscara para proteger seu belo rosto de ferimentos (é o frinfaaaa). Acredito ser o chefe mais chato de todos, por conseguir escalar as paredes e fazer ataques extremamente rápidos. Não possui nenhuma técnica em especial, a não ser escalar as paredes à la Spider Man.
Sagat – Lutador profissional de Muay Thai, Sagat entra no torneio para se vingar de Ryu que além de derrotá-lo no torneio passado, ainda o deixou uma cicatriz enorme no peitoral depilado. É um chefão intermediário e relativamente fácil de derrotar. Suas técnicas especiais são o "Tiger” e o “Tiger Robocop”, também conhecida como Tiger Uppercut.
Mike Bison (Vega no Japão) – Chefão da Shadaloo e aparentemente “organizador” do torneio, Bison é o típico do chefe chato de ser derrotado. Possui movimentos rápidos e, apesar de não ser o Dadá Maravilha, quase que flutua no ar com seus saltos tipicamente lunares. Possui uma rasteira que pega até se você tiver no ar e utiliza o Psycho Crusher (popularmente conhecido como Parafuso), o Scissors Kick (chute apelão) e o Head Stomp como técnicas especiais.
Gráficos, Som e Jogabilidade
Ao contrário do jogo passado, a Capcom dessa vez acertou em cheio nos gráficos, no som e na jogabilidade do jogo. Os personagens estão bem detalhados, todos com características únicas de movimento (menos o Ryu e o Ken), com seus próprios golpes… enfim, cada um é único. Os cenários são um espetáculo a parte. Muito bem desenhados e tão bem detalhados quanto os lutadores, são coloridos e apresentam um certo movimento (é pouco, mas apresenta).
A trilha sonora do jogo não precisa nem comentar. Quem não fica empolgado numa luta nos segundos finais tocando a música do Ken, a do Guile ou até mesmo do Vega? A trilha sonora foi especialmente produzida para o jogo e, apesar das inúmeras versões do SF2, é a melhor de todas em qualidade de som e em arranjo. A preocupação foi tanta que a medida que a luta vai chegando ao final, a música vai acelerando, o que causa uma tensão incrível em quem está jogando. Para quem nunca parou para ouví-las de verdade, é só ir no menu Options e escutar as músicas tranquilamente (eu fiz muito isso rs).
A jogabilidade é algo incrível. A Capcom acertou em cheio ao adaptar o sistema de controles para 6 botões. Os golpes especiais também não são nada difícieis de serem feitos – nada que uma meia horinha para um jogador iniciante não aprendam. A facilidade e a simplicidade é tamanha que praticamente houve uma padronização nos golpes dali para frente. Quem nunca falou a um amigo que um especial de tal personagem em tal jogo de luta é “hadouken para frente duas vezes” ?
Sem querer querendo, a Capcom fez um jogo que se tornou referência para todos os jogos de luta 2D e 3D que fossem produzidos daquela época em diante.
Continuações
O sucesso de Street Fighter II The World Warrior foi tamanho que não demorou muito para que surgissem as famosas versões “rodoviária” do jogo. “Hackers” alteraram o jogo a seu bel prazer e lançaram versões modificadas e até mesmo mais interessantes do jogo. Percebendo que realmente haviam bugs a serem corrigidos e coisas a serem melhoradas, a Capcom decidiu lançar outras versões de SF2 WW.
A primeira delas foi Street Fighter II Champion Edition (1992), que trazia os quatro chefes da versão anterior como personagens selecionáveis. A partir dessa versão tornou-se possível escolher dois personagens iguais no modo multi-player, o que não era possível na versão anterior. Além disso, os backgrounds dos cenários foram recoloridos e a jogabilidade teve uma pequena correção para balancear os personagens.
Street Fighter II Hyper Fighting foi uma versão turbinada da Champion Edition. Hyper Fighting permitia ao jogador escolher a velocidade do jogo e trazia novas técnicas para alguns personagens. Dhalsim ganhou uma espécie de teletransporte para compensar sua lerdeza e Chun-Li ganhou uma versão feminina do Hadouken, o Kikoken. A partir dessa versão a Capcom adicionou novas cores aos personagens, sendo possível escolhe-las ao selecionar um personagem com um botão do controle.
Em 1993 a Capcom inovou de vez e lançou o Super Street Fighter II The New Challengers. Como o nome sugere, apareceram nessa versão quatro novos lutadores selecionáveis: Cammy, Dee Jay, Fei-Long e T.Hawk. O jogo teve os gráficos todos redesenhados e todos os sons do jogo foram refeitos. O jogo apresentou uma qualidade tremenda nos arcades, mas não obteve o mesmo desempenho no SNES. Devido as limitações de hardware, os sons do jogo ficaram toscos e perderam feio para os do SF2 WW. Apesar disso, o jogo teve lá seu lado bom – trouxe o nosso tão conhecido esquema de combos ao jogo.
Super Street Fighter II Turbo chegou a toda velocidade em 1994 e trouxe como principal inovação o sistema de “Super Combos”, conhecidos como golpes especiais que atingem o adversário várias vezes e tiram uns 50 reais de life do cara. A barrinha de Gauge foi implementada nessa versão e tornou-se marca registrada da Capcom em jogos de luta que têm especiais. O jogo ainda trazia quatro velocidades de jogo selecionáveis pelo jogador. A maior delas é tão rápido que você quase não enxerga os personagens na tela. Um novo personagem veio na onda da velocidade e da apelação – pela primeira vez Gouki aparecia oficialmente num jogo da série.
Para comemorar os 15 anos de Street Fighter II, em 2003 a Capcom lançou na Ásia o Hyper Street Fighter II. Apesar de parecer que as novidades já tivessem se esgotado para a série, a novidade dessa versão é que dá para fazer uma luta entre personagens com velocidades diferentes. Você pode jogar com um Ryu “Normal” contra um Bison “Turbo” e assim por diante. A vantagem disso? Se você for o normal, vai perder pro computador na certa.
Conclusão
Não há dúvidas de que Street Fighter II tenha contribuida não só para a indústria dos games e para a própria franquia. Street Fighter II foi parte da infância e adolescência de muita gente. SFII é o jogo mais vendido pela Capcom até hoje graças as unidades vendidas para o SNES. Quem nunca jogou um Street Fighter no SNES quando era criança ou adolescente, que jogue a primeira pedra. Uma empresa lavou a mão da outra – a Nintendo faturou bocados com as licenças concedidas a Capcom para vender SFII na plataforma, e a franquia Street Fighter talvez hoje seja o que é graças a Nintendo.
Até hoje esse jogo retrô é capaz de reunir amigos em uma sala para uma tarde de jogatina para saber quem é o melhor, quem é o rei da cocada preta. Um jogo simples, com gráficos esplendidos, trilha sonora que marcou a vida de quem o jogou uma jogabilidade simples, porém diferenciada, Street Fighter II foi o marco de toda geração de jogos de luta que viriam dali para frente. Os jogos de luta antes de SFII são completamente diferentes dos depois dele.
Apesar disso, é chato ver que nada foi anunciado até agora para os fãs da Big N que ficaram na mão esperando uma versão do novíssimo SFIV para o Wii. Enquanto esperamos que algo seja anunciado, podemos nos divertir jogando esse clássico – esperando que uma boa notícia não demora tanto.
Bons tempos aqueles de antigamente…